A noite tinha sido infernal, não tinha conseguido dormir quase nada. Além dos livros que tinha no quarto e do estúdio de dança, os meus passatempos não podiam envolver tecnologia, porque o Taehyung tirou-me o portátil e telemóvel. Também me tirou da carteira todos os cartões bancários e o passaporte. Todos os meus direitos estavam a ser retirados, um a um e pela pessoa que eu mais confiava e amava. Sentia-me traído, enxuvalhado e apenas um meio para atingir um fim.
Naquela manhã, levantar-me foi um sacrifício imenso, sentia que arrastava o corpo como se pesasse toneladas. Não deixei de reparar no tabuleiro com comida intacto, que me tinha sido deixado na noite anterior. Mas o meu estômago estava demasiado sensível para receber comida. Depois de me vestir, preparei a minha mochila e esperei na sala pelo Taehyung. Era a primeira vez em algum tempo que senti receio de o voltar a ver, um receio que roçava o medo. Não conseguia esquecer a forma como apertara o pescoço, um aperto tão forte que tinha deixado marcas na minha pele sensível.
- Bom dia, Jimin. Posso saber por que é que não comeste ontem? - Engoli em seco, sem conseguir responder. Estava tão nervoso que não conseguia olhar para quem achava ser o meu melhor amigo e futuro namorado. Apenas senti no ar o cheiro do seu perfume característico. - Eu fiz uma pergunta, quero uma resposta.
- Não consegui comer, estava mal disposto. Eu não posso ir sozinho para a Juilliard? Existem autocarros e o metro aqui perto...
- Não, nada disso. - A sua voz soava mais próxima, mas não o suficiente para me sentir ameaçado. - Eu mesmo vou fazer questão de te ir levar e buscar.
- Taehyung, por favor... Eu não posso fugir daqui, não tenho o meu passaporte nem cartões bancários. Tudo o que tenho é a minha identidade e o dinheiro que me deste. - Finalmente, levantei o olhar do chão. Ele estava em pé, junto da televisão e a concertar o relógio de pulso. Vestia um caríssimo fato castanho claro. O seu look era diferente ao que era o seu costume, desde o fato muito tradicional até ao cabelo ligeiramente encaracolado. Nem sequer se dignava a olhar para mim, apenas via a movimentação dos carros pela janela mais próxima. - Eu não tenho de me cruzar contigo.
- Mas eu quero cruzar-me contigo. Eu disse que não te amava, não disse que não te achava atraente. - Senti tanto nojo pelas suas palavras, que tive de controlar o repúdio nas minhas expressões faciais. - Não questiones as minhas decisões. Não quero ter de ser desagradável contigo.
- E aquele homem com quem tens estado? Ele não se importa?
- Ele é um parceiro de negócios que vai embora entretanto, não passa de um passatempo. - Um passatempo... Como é que nunca tinha visto as suas verdadeiras cores? - Vamos tomar o pequeno almoço, falta uma hora para as tuas aulas.
- Eu como alguma coisa quando chegar lá.
- Ambos sabemos que tal é mentira. A anorexia pode afectar a fertilidade, eu não quero correr riscos. Sei perfeitamente que não comeste nada do que deixei ontem à noite. Não me obrigues a ter de te dar comida à boca. Levanta-te.
Sem grande escolha tomei o pequeno almoço, contrariado e mal disposto. Apenas comi uma maçã e bebi um pouco de café, era a energia que precisava. Já o Taehyung teve o tempo todo aí telemóvel, a tratar assuntos de trabalho, que muito honestamente passaram a ser indiferentes. Simplesmente esperei que acabasse de comer e que me levasse até à Juilliard. Na Juilliard uma das secretárias fez questão de me levar até ao sítio onde se trocava de roupa e casas de banho. Também me explicou que o estúdio de ballet ficava ao fundo do corredor e que ainda tinha alguns minutos. A senhor de meia idade foi bastante simpática e até teve mesmo o cuidado de imprimir um mapa da escola e do meu horário. No meio de tantos alunos, nenhum dos rapazes estranhou a minha presença, o que foi óptimo. Estavam ocupados a conversar e até brincavam entre si, um ambiente mais leve em relação ao que estava habituado na Coreia.
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Imperfect Love (Vmin/Jikook)
FanfictionJimin não era para se sentir miserável e infeliz, a sofrer de uma perturbação alimentar... Jimin não era para ter um anel no dedo e um contracto de casamento assinado. Jeon Jungkook não era um homem fácil de conviver, sempre de mau humor, possessiv...