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Derek estava há meia hora enrolando com o almoço. Empurrava a almôndega em seu prato de um lado para o outro, a fazendo trilhar todo o prato, mas nunca trilhar o caminho até sua boca.

- é uma almondega. Não uma bola de futebol – argumentou Laura que observava o irmão há um bom tempo.

- perdi a fome – disse o rapaz abandonando os talheres sobre o prato e o erguendo com as mãos, após se levantar.

Talia franziu o cenho.

- você está bem? Isso tem acontecido muito nos últimos dias – questionou a mulher ao se recordar de que em quase todas as refeições, o seu filho não estava comendo direito.

- estou – mentiu – apenas estou pensando em umas coisas –

- liga pro Alan. Enfeitiçaram ele de novo! – exclamou Erica já apontando para o telefone da cozinha.

- ninguém me enfeitiçou, Erica. Eu nem saí de casa – argumentou o moreno, colocando o prato na pia e se virando para se dirigir ao seu quarto.

Os seus parentes haviam voltado de viagem na noite anterior. Era bom ter os primos e os tios em casa, mais uma vez. Gostava de passar o tempo com Erica. Isaac, Theo e Jackson. No entanto, não conseguia expressar a sua alegria com o retorno dos membros do bando devido a Stiles. Não conseguia parar de pensar no castanho. A sua mente, volta e meia, acabava direcionando os pensamentos para o rapaz e a discussão que tiveram em seu quarto.

As coisas que disse. As coisas que ouviu. Tudo era repassado em sua cabeça, junto com os momentos que tivera com o íncubos. Se martirizava por ter gritado com o castanho. Não queria que as coisas fossem daquele jeito. Queria ter conversado melhor, argumentado melhor, ter tido um diálogo civilizado.

Suspirando, Derek subiu as escadas.

Fazia cinco dias que havia visto Stiles pela última vez, naquela maldita discussão. Desde então, Derek sempre deixava a janela aberta, esperando pelo momento em que o íncubos entraria em seu quarto. No entanto, esse momento não veio. Mesmo com o rapaz indo averiguar o lado de fora da casa pela janela a cada vinte minutos, o demônio não apareceu. Vez ou outra, o Hale se pegava chamando pelo castanho, em um volume um normal, na esperança de ouvir uma resposta.

Quem sabe Stiles não estivesse sentado no telhado de sua casa, apenas se alimentando de si?

Derek gostava de se iludir.

Naquela tarde, no entanto, algo diferente do usual ocorreu.

Durante alguns momentos da tarde, o Hale jurou ouvir tosses e um som característico de alguém coçando a garganta varias vezes. Sempre parava o que estava fazendo para procurar a origem do som. Sua família era inteiramente composta por lobisomens, ninguém ali ficava doente, apenas envenenado ou enfeitiçado.  Por vezes, ia até a janela, ver se não havia ninguém rondando a casa. Mas seria impossível, os seus instintos aguçados e os dos outros membros de sua família iriam detectar alguém.

- Stiles? – chamou, curioso, tentando identificar se poderia ser o castanho.

Mas Stiles também era imortal. Com certeza ele também não ficaria doente.

- Stiles? Ele estava aqui? – inquiriu Theo, curioso, e só então Derek percebeu o primo na porta do seu quarto.

O Raeken estava de passagem quando ouviu o Hale chamar pelo misterioso garoto demônio.

- não – respondeu Derek, deprimido.

- o que houve, cara? Você não está assim desde que foi solto do feitiço, está? – perguntou o louro, preocupado com o primo.

- não. Não. Relaxa. Eu só estou pensando – ditou enquanto se jogava deitado em sua cama.

- consigo sentir o cheiro de queimado de longe! – falou Jackson, se apoiando no batente da porta do quarto, sorrindo vitorioso.

- teu cu – rebateu Derek, não se importando em olhar para os primos.

- qual é o problema, cara? Você nem olhou para mim – argumentou Jackson, preocupado.

Sempre que ele provocava Derek, o moreno insistia em lhe lançar um olhar de tédio, independente da situação.

- você sabe que pode falar com a gente, certo? – indagou Isaac, surgindo atrás dos primos.

Derek suspirou.

Ele não queria falar sobre aquilo. Não com a sua família. Temia que eles acabassem desenvolvendo uma ideia errada sobre Stiles. No entanto, ele sabia que podia contar com os primos.

Suspirando mais uma vez, o Hale tratou de contar tudo o que havia ocorrido desde que eles viajaram, até o dia em que retornaram. Havia contado, inclusive sobre a discussão que tivera com Stiles e como aquilo lhe preocupava quanto a possibilidade de sua família criar um pensamento errado sobre o íncubos, sobre o garoto que queria namorar.

Como iria namorar alguém que o seu bando odiasse?

A porta do banheiro do quarto de Derek se abriu e Erica surgiu do cômodo, ajustando a sua saia ao corpo, antes de chacoalhar as mãos, tentando as secar melhor.

- uma ideia errada? Do mesmo jeito que você criou? – questionou a loura, puxando o celular da escrivaninha do primo e seguindo para a cama do mesmo, enquanto desbloqueava o aparelho.

- como é? – perguntou Derek, confuso.

- você criou uma ideia errada do Stiles – respondeu a Reyes se jogando ao lado do primo de cabelos escuros.

- eu criei?! – inquiriu o Hale, indignado e confuso.

- sim. Você e todo mundo nessa família tem um complexo de Superman – afirmou a garota, jogando as pernas sobre o rapaz de olhos verdes.

- complexo de Superman? – perguntou Theo, tão confuso quanto todo mundo.

- sim. Vocês ficam: temos que salvar todo mundo, temos que salvar todo mundo. Não somos uma família de deuses. Somos imortais por causas naturais. Temos nossas limitações também. – argumentou a loura enquanto abria o perfil de Vernon em mais uma rede social, passando a analisar o mesmo enquanto sorria de canto.

- o que isso tem a ver com o Lúcifer boy? – indagou Jackson, cruzando os braços

- lúcifer boy? – Derek encarava o primo, perdido.

- demos esse apelido ao Stiles durante a viagem. Fofocamos de vocês para três caralhos – explicou Isaac.

- sabe, durante a viagem, eu pesquisei bastante sobre os Cubos. Aproveitei a biblioteca do vovô. Pesquisei, principalmente sobre o clã Stilinski. Sabiam que a família do Stiles é a maior família de cubos do mundo? Eles são quase tão grandes quanto a nossa família – comentou Erica sorrindo boba para a foto em que Vernon se encontrava ao lado do íncubos, que segurava um urso de pelúcia, estando os dois na frente de uma máquina de prêmios.

- e daí? – inquiriu Jackson, entediado.

- segundo o tio Peter, os Stilinski só torturam e matam humanos em duas ocasiões: extrema escassez de alimento; ou quando alguém os ameaça. Tipo quando um caçador está o caçando ou coisa assim. Os Stilinski se espalharam pelo mundo fazendo uso de cargos em que possam se alimentar sem problemas. – ditou a loura mordendo o lábio inferior para a foto em que o humano aparecia com roupa de banho.

- o tio Peter? Ele conhece os Stilinski? – perguntou Theo, surpreso.

Erica sorriu ladina.

- está brincando? Eu descobri um babado forte na família. Lembram que o tio Peter nunca vai para a casa do vovô? Ele sempre visita os outros parentes, mas não o vovô – indagou a garota, finalmente tirando os olhos do celular.

- sim. Ele e o vovô tem uma treta, aí – disse Jackson dando de ombros.

- essa treta é um dos motivos da mãe do Derek odiar os Stilinski. Pelo que eu ouvi dos mais velhos, lá na casa da tia Chloe, o tio Peter e os pais do Stiles eram amantes há muito tempo atrás – soltou a garota vendo os primos lhe fitarem perplexos.

- os pais do Stiles?! Tipo... com os dois? – inquiriu Derek, surpreso.

- sim. Pois é. Pois é. O vovô descobriu, e não gostou nem um pouco. Houve uma briga das grandes entre as nossas famílias. Quando o tio Peter pediu que deixassem os Stilinski em paz, o vovô surtou. Disse que era uma afronta a família os atos do tio. Falou que era uma traição das grandes. Aí ele expulsou o Peter de casa. Disse que o tio continuava sendo da matilha, mas não de sua família – explicou a garota vendo os primos se entreolharem, perplexos.

- caramba! Eu não fazia ideia disso – exclamou o Raeken, surpreso.

Uma tosse alcançou os ouvidos aguçados de todos.

- o que foi isso? – indagou Isaac, curioso.

- vocês ouviram? – inquiriu Derek, ansioso.

- sim. Veio lá de fora – respondeu Jackson e o moreno praticamente avançou na janela, colocando a cabeça para for, olhando para cima.

- Stiles? – o Hale chamou, desesperado, pelo outro.

- Stiles?! – questionou Jackson, confuso.

O moreno de olhos verdes sentiu o vento se mover ao seu lado com certa violência. Ao olhar para baixo, notou a grama se mover em um determinado ponto, antes vários pontos menores no gramado começarem a apresentar marcas momentâneas. Os olhos lupinos se fixaram nas marcas, antes de Derek saltar a janela e começar a seguir as marcas de passos invisíveis.

- Stiles! Vamos conversar? – pediu o Hale vendo os passos se tornarem mais visíveis, antes de os perder de vista quando um casaco vermelho fora jogado em seu rosto.

O cheiro de enxofre alcançou as narinas de Derek, antes de o som de asas batendo ecoar no ambiente. Quando conseguiu retirar a vestimenta vermelha de seu rosto, o lobisomem não viu o mais nenhuma marca de pé no chão, apenas ouvia o som de um bater de asas se distanciando.

- porra! – exclamou olhando para cima.

Se lembrava de Stiles ter lhe explicado sobre as asas.








Derek estava preocupado.

Muito preocupado.

Estava cheirando o casaco de Stiles há dias, sempre com o mesmo pensamento em mente: “estou maluco. Não é possível!”.

Aquele cheiro. Aquele maldito cheiro lhe incomodava e martelava a cabeça. Ele estava delirando. Tinha que ser um delírio de sua cabeça. Aquilo não podia ser verdade. Mas se fosse apenas o cheiro, ele estaria menos preocupado. No entanto, Derek também viu.

Não tinha como estar maluco até aquele ponto. Mas também não queria acreditar que aquilo poderia ser verdade. Quer dizer, Stiles era um imortal. Não era possível que ele estivesse doente.

A imagem de um Stiles abatido e tossindo não lhe saía da cabeça. Havia visto o castanho quando fora ao supermercado, comprar algumas porcarias para ajudar a passar o tempo em sua jaula depressiva, vulgo o seu quarto. Desde que fora ignorado e abandonado por Stiles, ficava todos os dias em seu quarto, apenas se lamentando e comendo porcaria.

Mas naquele dia, fora diferente. E ao ver Stiles pálido, com olheiras e tossindo várias vezes lhe surpreendeu. Ele sabia que não era uma mentira do adolescente para enganar Vernon. O casaco que o Stilinski jogou em sua cara na fuga de sua casa também tinha um cheiro característico de doença.

Stiles realmente estava doente.

Quando tentou se aproximar para perguntar o que estava acontecendo, se desculpar e quem sabe ajudar, o lobisomem fora barrado por Vernon e Garret. O Hale tentou argumentar com os dois adolescentes, mas eles estavam irredutíveis.

- não sabemos o que foi, mas ele não quer lhe ver – foi tudo o que Vernon lhe contou sobre Stiles.

Agora, já em casa, Derek continuava preocupado. Estaria alguém envenenando Stiles? Eles eram imortais. Não morriam por causas naturais. Apenas envenenamento e assassinato. O que poderia estar causando a doença do Stilinski? Seriam caçadores? Poderia ser. Talvez a maldita Kate tivesse descoberto como ele se libertou do seu feitiço e fora atrás da única coisa que estava impedindo os seus planos

Trancafiado em seu quarto, Derek estava jogado sobre a cama, abraçado a um travesseiro, o qual era vestido com o casaco vermelho do íncubos. Com o rosto inteiramente afundado no travesseiro fofinho, o rapaz ouviu batidas em sua porta. O moreno soltou um suspiro, antes de se erguer, ainda abraçado ao travesseiro, jogar o mesmo dentro do seu guarda-roupa e se dirigir até a porta.

- oi – o garoto cumprimentou o tio assim que o identificou do outro lado da porta.

O homem com uma corrente grossa de ouro sorriu em sua direção.

- eu posso entrar? – indagou Peter já adentrando o quarto, sem esperar por uma resposta do sobrinho.

- e eu tenho opção? – questionou o adolescente vendo o tio se jogar em sua cadeira.

- não. Você não tem – respondeu o mais velho, cruzando os braços e as pernas.

- o que o senhor quer? – perguntou o adolescente vendo o tio lhe fitar com normalidade.

- conversar – respondeu o Hale observando o sobrinho lhe fitar com curiosidade.

- sobre o quê? –

- cubos – respondeu de forma direta.

- como é? – o adolescente se viu mais confuso ainda com a visita do tio em seu quarto.

- os seus pais estão preocupados. Acham que a sua falta de fome é consequência do íncubos estar lhe usando de alimento – comentou o louro  vendo o mais novo lhe fitar abismado.

- não! Não. Não é o Stiles que está causando isso! – exclamou o moreno negando a cabeça várias vezes

- então o garoto não tem nada a ver com a sua falta de fome? – indagou o mais velho observando o outro parar para analisar a situação.

- não. Quero dizer, sim. É o Stiles, mas não do jeito que estão pensando? – o adolescente tentou se corrigir, mas apenas deixou as coisas mais confusas na visão do louro

- desenvolva – soou tranquilo e paciente.

- tio, eu... Eu estou gostando do Stiles faz um ano – confessou o moreno e logo as engrenagens começaram a se encaixar na mente do mais velho.

- entendo. E você teme que a diferença entre as espécies e a rivalidade entre as famílias seja um empecilho – comentou o mais velho, já imaginando que Derek soubesse sobre os acontecimentos do passado.

- não. Quero dizer, também. Mas eu sei que a gente pode dar um jeito. O que...

- a gente? – inquiriu Peter, curioso com as palavras escolhidas pelo sobrinho.

- por acaso ele também sente algo por você? – indagou observando o sobrinho suspirar e menear positivamente.

- sim. Ele se confessou para mim, quando vocês estavam viajando.

- se ele gosta de você e a rivalidade entre as famílias não lhe preocupam tanto. O que tem lhe deixado assim? – questionou, preocupado.

Derek suspirou. Talvez o seu tio soubesse de algo. Peter já fora amantes de cubos. Por anos, segundo Erica. Ele deveria saber algo sobre a espécie. Algo que os outros membros de sua família não poderiam lhe informar melhor. Decidido, o adolescente se arriscou.

- Tio, cubos adoecem? – o Hale fora direto ao ponto, chamando a atenção de Peter para suas palavras.

- ah... Por que a pergunta? – o homem se viu curioso.

Mais uma vez, o mais novo suspirou.

- eu fui ao mercado. Fui comprar algumas porcarias para comer e encontrei o Stiles, lá. Ele parecia doente. E nos dias anteriores, eu escutei ele tossir no telhado – respondeu o moreno, preocupado.

- no telhado? Pensei que ele ficasse no seu quarto – comentou o mais velho, confuso.

- a gente... Acabou discutindo e... Ele não aparece mais para mim – explicou o adolescente, chateado com a própria situação.

- vocês discutiram? Sobre o quê, exatamente? – perguntou o louro, já fazendo uma certa ideia do motivo.

Derek suspirou, olhando para o chão, pensativo.

- tio... O que o senhor acha dos cubos? – questionou o mais novo, perdido.

Peter sorriu, singelo.

- você os acha cruéis? – a pergunta do mais velho surpreendeu Derek.

- eu... Eu acho. Eu não queria achar, mas eu acho. Não consigo ver alguém que tortura pessoas inocentes como alguém bom – respondeu o moreno de olhos verdes, suspirando em derrota.

- eu não os acho cruéis. A maior parte da família tem o mesmo pensamento que o seu. Foi por isso o seu avô me afastou de Noah e Cláudia. Ele os via como você os vê. – disse o homem vendo o rapaz lhe fitar com surpresa.

- não os acha cruéis?! Eles... Torturam pessoas inocentes! Estragam relacionamentos, matam pessoas! Isso não é ser cruel? – inquiriu o moreno de olhos verdes, indignado, vendo o louro suspirar.

- eu vejo os cubos como pessoas, assim como eu e você – ditou o mais velho coçando a têmpora com o indicador.

- o quê?! – soltou, indignado.

- de onde você acha que vem a carne que comemos todos os dias? O papelão das caixas de cereais, a borracha das rodas do carro, o couro da sua jaqueta? – questionou o louro observando o mais novo franzir o cenho.

- onde quer chegar? –

- todos os humanos, lobisomens e grande parte do mundo comem carne. Carne esta proveniente de outros seres vivos. Os cubos não comem carne. Eles comem sentimentos. Quanto maior a negatividade, maior a nutrição – explicou enquanto gesticulava com as mãos, separando dois grupos de seres vivos.

- nós matamos animais para nos alimentar. Os cubos matam qualquer ser vivo que expresse sentimentos. As vezes, nem os matam. Apenas se alimentam e os deixam – falou o homem de forma calma.

- mas torturam. Eles torturam, tio! – argumentou o moreno, indignado.

- assim como contribuímos para a tortura de vários animais, Derek. O gado ao descobrir que vai para o abate; a mãe que é separada dos filhotes; os vários animais que são friamente torturados em testes de medicamentos e cosméticos. Eles não são tão diferentes do resto do mundo. Não são diferentes de você. Cubos fazem o que fazem para sobreviver – explicou o louro observando o sobrinho tomar um ar pensativo, surpreso.

- claro. Isso não quer dizer que não existam, sim, cubos psicopatas que fazem apenas pelo prazer. A maioria deles acabam admitindo essa característica. Alguns, por serem taxados tantas vezes, se tornam exatamente o que os outros dizem que eles são. – argumentou sentindo o cheiro de confusão e culpa começar a ser exalado pelo mais novo.

- Mas eu, aqui, estou falando sobre os que conheço. Os Stilinski podem odiar a nossa família, e a nossa família pode odiar eles. Mas eu conheço ambos os lados. Odeio os pais de Noah e Cláudia pelo que fizeram conosco? Sim. Odeio o meu pai pelo que ele fez comigo? Sim. Mas tanto os Hale’s quanto os Stilinski’s são boas pessoas – completou o mais velho se erguendo e se aproximando do mais novo.

- você sabe que, como seres sobre-humanos, nos escondemos deles em meio a sua sociedade. Nós, Hale’s, usamos nossas habilidades em diversas áreas do conhecimento humano. Os Stilinski não são diferentes. Você sabia que toda a família Stilinski é médica ou trabalha com a lei? – o homem começou a falar, tentando amenizar a confusão do mais novo.

- eles são? – inquiriu o moreno, surpreso.

- cubos são capazes de sentir a mentira na aura e curar doenças psicológicas graves com muito tempo, como a depressão. Eles também podem coagir um culpado a confessar, bem como agir como um sedativo para pessoas com muita dor – explicou o louro afagando os cabelos do mais novo.

- eu... Não sabia disso – comentou, culpado.

- eu... Não vejo Noah ou Cláudia desde que fomos obrigados a nos separar. Mas... Eu sei que Noah é o atual xerife da cidade e Cláudia é médica na Eichen House – ditou o lobisomem mais alto, um tanto magoado

Derek poderia sentir de longe a tristeza do mais velho.

- o senhor ainda gosta dos pais do Stiles? Ainda ama eles? – questionou o adolescente observando o adulto suspirar.

- sim. Nós nos marcamos, Derek. Eles me deram essa corrente de ouro dias depois em que fomos obrigados a nos separar. Foi uma forma de dizer que ainda me amavam. E eu continuo usando como forma de dizer que ainda os amo – respondeu o mais alto tocando a curta corrente de ouro.

- mas e a tia? Ela sabe disso? – indagou, receoso de estar sabendo mais do que queria saber.

- sim. Corinne sabe de tudo. No começo, ela se preocupou. Temia que eu a abandonasse por eles. Mas com o tempo, ela entendeu que o que sinto por ela é o mesmo que sinto por eles. Por isso dei uma corrente parecida para ela – respondeu o homem sorrindo para o adolescente.

- como sabe que a corrente significa que os pais do Stiles ainda gostam de você? – questionou, curioso.

- porque é ouro. É uma tradição entre os cubos. Quando um cubos gosta de um ser de outra espécie, ele presenteia essa pessoa com ouro, seja uma corrente, um broche ou brincos. Porque o ouro impede que algum cubos nos hipnotize apenas com os olhos – ditou com naturalidade, ajustando a corrente ao pescoço.

- como? – perguntou, perdido, franzindo o olhar para o acessório dourado.

- cubos são vulgar e popularmente  conhecidos como demônios do prazer.  Eles conseguem hipnotizar as pessoas apenas com os olhos. É uma habilidade natural. Mas eles precisam se concentrar em despertar a luxúria alheia. E o ouro impede que eles se concentrem nos olhos das pessoas. – o mais velho começou a explicar.

- o ouro os atrai. Quando tentam seduzir as pessoas, eles acabam se deixando seduzir por ouro. Assim que concentram nos seus olhos em gerar a luxúria nos outros, acabam gerando um pouco de luxúria neles mesmos. E o ouro alimenta essa luxúria, os desconcentrando. Eu não sei se você já viu alguma vez, mas quando um cubos tenta usar hipnose óptica, os seus olhos ficam dourados como ouro puro. – o louro terminou a sua explicação vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar com confusão.

- o ponto fraco dos cubos é ouro?! – inquiriu, indignado.

- não. Você não seduz um cubos com ouro, ou o atrai para uma armadilha com ouro. O ouro apenas quebra a hipnose óptica deles. Por exemplo: Noah controla o metal. Ele não conseguiria mais me hipnotizar, já que uso essa corrente de ouro perto do rosto. Mas Cláudia ainda conseguiria me hipnotizar, se quisesse. Ela controla uma neblina capaz de colocar deixar a mente das pessoas confusas e totalmente suscetíveis ao seu controle -  o homem explicou, observando o sobrinho atentamente, tentando perceber qualquer sinal de confusão no mais novo.

Derek suspirou, se jogando em sua cama, enquanto retirava a munhequeira que usava, a jogando para um canto.

- eu me sinto um idiota, agora! – ralhou levando a mão ao rosto, observando a serpente misticamente tatuada em sua pele.

Ele se lembrava das palavras de Stiles durante a discussão que tiveram.

“eu sou realmente tão mau?”

Agora, Derek entendia o que o íncubos queria dizer com aquelas palavras.

“Eu sou realmente tão diferente das pessoas?”

Essas eram as palavras por trás da pergunta solta pelo castanho.

Derek queria chorar.

- vocês fizeram um pacto? – indagou Peter se aproximando e agarrando o braço do sobrinho.

- sim. Nós fizemos um pacto. Está mais para uma aposta. Se ele não devorasse a minha paixão por ele por completo, antes que eu o fizesse desistir, ele namoraria comigo. Eu... Eu diria que não sei o porque que ele teme tanto um relacionamento com um não-cubos, mas agora eu entendo. Deve ser horrível ser acusado assim, do mesmo jeito que eu fiz – fora a vez do adolescente explicar as coisas.

O peito de Peter gelou.

- Derek – repreendeu o homem, assustando o adolescente pela mudança repentina de humor

- o quê? – indagou, nervoso.

- desfaça isso – ordenou o louro, com seriedade.

- desfazer? Por que? – inquiriu, confuso.

- é por isso que ele está doente. Ele está se matando – acusou o mais velho vendo o mais novo lhe fitar abismado.

- como é?! – exclamou, nervoso.

- cubos são parasitas, dependem dos sentimentos dos outros para viver. Mas eles não podem absorver sentimentos positivos, Derek. Sentimentos como paixão, amor, alegria, alívio, orgulho... Tudo isso é venenoso para eles. É por isso que os cubos torturam as pessoas quando não encontram alguém com sentimentos negativos. Porque eles adoecem quando absorvem sentimentos positivos. Esse garoto está se matando e sabe disso – alertou o mais velho sentindo o cheiro de desespero explodir de seu sobrinho.


- n-não... Ele não... – Derek tentou argumentar, descrente, mas a medida em que se lembrava dos dias que passou com o íncubos, mais ele tinha certeza da veracidade das palavras do tio.

A cada dia em que via Stiles, o rapaz estava mais estranho. Era como se ele escondesse algo de si. O dia em que passou a ouvir tosses e o momento em que viu Stiles tão debilitado perto de Vernon e Garret. Tudo apenas servia de base para a afirmação de seu tio. Stiles sabia o que estava fazendo quando começou a absorver o seus sentimentos por ele.

Foi por isso que o castanho aceitou aquele pacto. Mesmo que não pudesse destruir a paixão de Derek por si, ele não iria sobreviver para poder pagar o pacto. O Hale se sentiu magoado, frustrado, traído, e, acima de tudo, preocupado.

- como faço para quebrar o pacto? – questionou o rapaz, ansioso.

- um pacto com um cubos é um acordo mútuo, mas ordenado. Se a primeira condição não ocorre, a segunda também não. Se um dos participantes desistir, o outro também deve desistir – respondeu o mais velho observando o sobrinho com atenção.

- então eu só tenho que desistir? – inquiriu, esperançoso.

Era simples.

- não vai ser tão fácil. Mesmo que desista assim do nada, o garoto com certeza vai continuar com o parasitismo. Agora, mais do que antes, ele quer se ver livre do que sente por você – as palavras do seu tio lhe atingiram como um golpe de garras lhe cortando o peito.








Ele não sabia como diabos faria aquilo. Derek apenas sabia que teria que fazer.

Encarava as janelas da casa dos Stilinski de longe, tentando identificar por onde deveria entrar. Uma vez dentro da casa, ele apenas deveria seguir o seu olfato para poder encontrar Stiles. E foi com esse pensamento em mente que ele esperou. Primeiro, o xerife saiu da casa, rumo ao trabalho. Um homem de aparência jovial, alto, rosto quadrado e olhar cético.

- ele com certeza é um Íncubos – comentou o Hale analisando bem o corpo jovial marcado pelo fardamento apertado, bem como os vários piercings e acessórios metálicos no corpo do homem.

- gato pra porra – comentou Theo se escondendo ao lado de Derek.

- o que vocês estão fazendo aqui? – inquiriu o moreno, não se dando ao trabalho de olhar para os primos.

Havia detectado a presença dos mesmos assim que chegou ao local.

- viemos te ajudar a entrar – respondeu Isaac, abaixado ao lado de Theo.

- gente! Que homem gostoso da porra! – exclamou Erica, perplexa.

- Íncubos, Erica. Íncubos. Eles têm que manter a forma para atrair suas vítimas – ditou Derek observando o xerife adentrar a viatura e, finalmente, sair de casa.

- um já foi. Agora só falta a mãe dele – comentou Jackson escondido na árvore ao lado.

Não demorou nem três minutos para que uma mulher alta de longos cabelos castanhos e pele clara saísse da casa. Jackson assoviou ao analisar melhor a mais velha. Os adolescentes estavam estupefatos com a beleza da mulher do xerife.

- e eu achando que a professora de biologia tinha os peitos mais bonitos da cidade – comentou Jackson completamente atraído pela mulher.

- é sério isso?! Cara! É a ex-namorada do nosso tio! – exclamou Isaac, indignado.

- quem vive de passado é museu. E o tio Peter é casado! – argumentou o Whittemore em defesa própria.

- você é doente. Não pode ver um par de peitos que já fica babando – acusou Theo, negando com a cabeça.

- eu fico com a mãe e você pega o pai – propôs o louro mais alto erguendo o punho fechado para o primo, que o socou de leve em um cumprimento.

- vocês dois querem calar a boca? – inquiriu Erica, irritada – como se aqueles dois, que tem quase quatrocentos anos, fossem querer uns bebês de fraudas como vocês –

- você não tinha que... Sei lá... Dar pro Vernon? – questionou Jackson um tanto frustrado com a verdade.

- é o plano. Mas primeiro tem que rolar um filme – respondeu ainda de olhos fixos na mulher de longos cabelos castanhos.

Os adolescentes observaram a mais velha retirar um Cadillac Eldorado 1960 preto perfeitamente conservado, quase novo, da garagem, antes de sair cantando pneu.

- porra! A mulher está podendo, viu? – comentou Erica, admirada.

- vai. Vai. Vai – ditou Isaac, impaciente, começando a empurrar os primos na direção da casa.

- calma, caralho! – exclamou Theo, irritado.

- pelos fundos! A janela do segundo andar – apontou Derek vendo Isaac e Jackson correrem para se colocarem abaixo da janela, unindo os braços com as mãos em um quadrado.

Derek correu na direção dos primos e saltou, encaixando os pés sobre os pontos fortes da união dos quatro braços, sendo jogado para cima quando, com esforço, Jackson e Isaac ergueram os braços ainda unidos. O Hale conseguiu alcançar o telhado com o torso sem muita dificuldade, se agarrando ao mesmo com as mãos e se impulsionando para cima.

- me esperem aqui – ditou o moreno seguindo para a janela.

Assim que abriu, cautelosamente, a passagem, após constatar que o cômodo estava vazio, Derek se viu surpreso ao ouvir Erica subir no telhado logo atrás de si.

- o que...

- nem fodendo que eu vou perder a chance de bisbilhotar essa casa, enquanto você está tendo a sua DR – ditou a loura e, antes mesmo que o moreno pudesse argumentar, todos os seus primos que moravam consigo já estavam naquele telhado.

- tá. Tá. Tá. Mas se o Stiles ficar puto comigo, eu mato vocês – ralhou o moreno adentrando a casa pela janela

- se ele conseguir ficar mais puto do que já está, você vai estar de parabéns – comentou Jackson assim que Derek se encontrava do outro lado.

- entrem logo! Discretos! Querem que os vizinhos saibam que a gente invadiu?! – exclamou, enraivecido.

Quando todos os cinco se encontravam no interior da casa, Erica fechou a janela, enquanto Derek tratava de abrir a porta. Ao analisar o corredor, o moreno de olhos verdes liberou o caminho, sendo o primeiro a sair do escritório do xerife.

- eu esperava algo mais... Dark – comentou Erica olhando bem para a decoração do lugar.

- vai estereotipar as pessoas, agora? – questionou Isaac cruzando os braços.

- posso fazer a minha análise em paz? – indagou a garota rolando os olhos.

- silêncio! – ralhou Theo, em um tom de voz baixo.

- o cheiro dele fica mais forte para cá – murmurou Derek seguindo o aroma único de Stiles e ignorando os odores interessantes que deveriam ser do xerife e da doutora Stilinski.


Ao passar por uma porta, os adolescentes sentiram o cheiro do castanho se intensificar, mas ainda sentiam uma trilha seguir pelo corredor, indicando que o rapaz não estava mais naquele cômodo.

- esse é o quarto dele – disse Isaac para que apenas os lobisomens ouvissem

- vamos bisbilhotar! – exclamou Jackson, animado.

Derek se sentiu incomodado. Era como se estivesse se esquecendo de algo, mas não se importou, estava mais preocupado em repreender os primos.

- não! Aí, não! - ralhou, irritado

- está bem. Estraga prazeres – reclamou o louro de cachos, já se afastando da porta.

- já entrei – disse Jackson abrindo a porta, sem se importar com o  aviso do moreno.

Assim que a porta se abriu por completo, o Whittemore e os primos foram surpreendidos por um som agudo e insuportável. Ao cobrir os ouvidos com as mãos, os adolescentes não puderam ver quando duas serpentes enormes avançaram no louro mais próximo ao quarto. Ao sentir uma das serpentes lhe envolver o pé esquerdo, Jackson tentou recuar, mas acabou caindo no chão. A outra serpente lhe envolveu o pescoço, antes de as duas começarem a se enroscar em seu torso, o imobilizando.

- mas que porra! – exclamou o Whittemore, mas nenhum dos adolescentes lhe deu a devida atenção, estavam ocupados demais tentando fazer o som irritante, que tanto maltratava os seus ouvidos, ficasse mais vaixo.

Abrindo os olhos parcialmente, devido ao incômodo em sua cabeça, Derek pôde ver duas serpentes pequenas deslizarem com velocidade pelo corredor, seguindo na direção do cheiro de Stiles. O moreno de olhos verdes não conseguia raciocinar com todo aquele barulho infernal. Erguendo o olhar na direção da porta aberta, o Hale pôde perceber a origem do som. Dois morcegos voavam livremente pelo ambiente, transitando entre corredor e quarto com facilidade, grunhindo e gritando em um tom tão agudo que lhe deixava atordoado devido ao som do quarto, que se encontrava ligado, com um microfone perto de uma prateleira onde dois morcegos batiam as asas e grunhiam. Aquilo, somado sua audição sobre-humana, criava uma incrível dor aguda em seus ouvidos e sua cabeça.

Se afastando do quarto, Derek pôde sentir o alívio da redução do som estridente. Somente quando desceu as escadas foi que sentiu o som se tornar baixo o suficiente para que ele pudesse pensar. Logo Erica e Isaac surgiram em seu campo de visão.

- mas o que porra foi isso?! – perguntou o louro, assustado

- são os bichinhos do Stiles. Os morcegos estão gritando e duas cobras prenderam o Jackson – respondeu Derek, franzindo o cenho.

Ainda conseguia ouvir os gritos estridentes dos mamíferos voadores.

E foi só então que a mente de Derek trabalhou.

- os bichos do Stiles! As cobras! Temos que achar o Stiles ou elas vão esmagar o Jackson! – exclamou o moreno, exasperado

- cara. Ele é um lobisomem, vai ficar bem – argumentou Isaac, despreocupado.

- mas elas são duas das grandes. Devem ser o suficiente para matar ele enforcado. Somos lobisomens, não titãs.– rebateu Erica, começando a se preocupar.

Começando a acelerar os passos, o trio seguiu o rastro do cheiro do castanho até a garagem, onde, graças ao seu olfato aguçado, encontraram um alçapão. Descendo as escadas e seguindo por um corredor escuro, sempre com Erica e Isaac comentando o quão tenebroso era o lugar, o trio acabou encontrando algumas portas no final do percurso.

O que mais os perturbava era o cheiro intenso de dor, tristeza, sangue e morte.

- eu já me arrependi de ter vindo aqui – comentou Isaac, nervoso.

- ele está aqui – sussurrou Derek assim que se colocou de frente para a porta em que sentia o cheiro do castanho.

Os três engoliram em seco.

Nenhum dos três estava preparado para a cena que viram.

Quando Derek abriu a porta, lentamente, o cheiro de sangue explodiu em suas narinas apuradas. Stiles estava de pé, parado, de costas para a porta, do outro lado do ambiente. Espalhados pelo cômodo, três corpos adultos do sexo masculino estavam pendurados pelas mãos, que se encontravam algemadas ao teto, com os braços abertos em diagonal. As cabeças baixas e os corpos ensanguentados, somados ao cheiro de dor e morte do ambiente os deixavam aterrorizados.

- MAS QUE PORRA É ESSA?! – gritou Isaac, abismado.

Com uma das mãos erguidas a frente do ombro, com a palma para cima, Stiles se virou, revelando estar segurando uma das cobras pequenas que Derek viu fugir pelo corredor. A outra, se encontrava enrolada no pescoço do demônio. O olhar do rapaz era frio, ameaçador. O pouco de sangue que se encontrava em seu rosto apenas o deixava mais aterrorizante ainda. Os olhos azuis cinzentos levemente saltados e o cheiro de fúria eram bons indicadores de o quão possesso o rapaz estava. De suas costas, membros cobertos por escamas vermelhas como vinho, repletos de sangues fresco, eram exibidos, sustentados no ar lateralmente, balançando como caudas de gatos.

A imagem de Stiles gritava perigo para os corpos licantropos.

- vocês invadiram a minha casa! – acusou o Stilinski, furioso.

- Stiles, o que está acontecendo aqui? – inquiriu Derek, receoso.

- além de me insultar, invadem a minha privacidade! – ralhou o castanho revelando os olhos dourados como ouro.

- Stiles... – Derek tentava falar, mas estava assustado demais com a imagem a sua frente.

O Stilinski apenas moveu a mão livre para o lado e a porta de metal a frente dos três lobos se fechou sozinha e com violência, os assustando ainda mais. A porta voltou a se abrir, mas Stiles não se encontrava mais no campo de visão dos adolescentes. A porta voltou a se fechar com violência, fazendo os três se sobressaltarem com o estrondo da mesma.

Desta vez, os lobisomens ouviram a tranca se mover, indicando que não poderiam mais abrir a porta. Antes que pudessem ter qualquer tipo de reação, os três ouviram uma tosse grave vir de suas costas. Ao olharem para trás, os adolescentes viram algumas gotas de sangue caírem no chão, vindas do teto.

- ele está invisível. Está fugindo pelo teto! – exclamou o moreno começando a correr, sendo seguido pela dupla de louros.

Ao alcançarem a casa dos Stilinski, o trio se viu perdido. Não sabiam para onde seguir. Stiles poderia ter ido para qualquer lugar daquela casa consideravelmente grande para apenas três pessoas. Mas os três ergueram os olhares para as escadas quando ouviram o som perturbador desaparecer. Subindo as escadas, os três puderam ver o momento exato em que o íncubos abaixou o olhar para as duas serpentes de escamas amareladas.

- Kah, Orochi. Soltem ele – ordenou o Stilinski e, segundos depois, as duas serpentes começaram a se desenrolar do louro.

- você... Você consegue falar com as cobras? – inquiriu Isaac, impressionado.

- do mesmo jeito que você consegue falar com caninos. Eles não tem um vocábulo. Animais falam com o corpo, não com a língua – ditou o castanho de brincos e piercings, e logo as duas pítons estavam se enroscando em seu dono.

- eu odeio cobras! – reclamou Jackson, após recuperar o fôlego, tentando se afastar do quarto alheio.

- ótimo. Agora sei que pelo menos você não vai mais invadir o meu quarto. Agora saiam da minha casa antes que eu tome as providências – ralhou o adolescente de cabelos castanhos apontando na direção das escadas.

- Stiles, eu...

- CAI! FORA! – gritou o íncubos dando ênfase ao seu dedo apontando para a saída.

Aquilo apertou o peito de Derek.

Ele conseguia perceber mais ainda o quanto havia magoado o rapaz a sua frente. Não pelas expressões de Stiles ou coisa do tipo. Era o cheiro do íncubos que o denunciava. Aquele odor incomodava dos adolescentes de sentidos aguçados.

Eles eram sensíveis.

Como seres naturalmente sociáveis, lobisomens eram extremamente sensíveis aos sentimentos alheios

- podemos conversar? – pediu o Hale em um tom de voz arrependido, chamando a atenção dos primos.

Derek era orgulhoso. Ver o rapaz expressar aquela fragilidade emocional os surpreendia por demais.

- não! Já conversamos demais! – ditou o Stilinski com raiva.

- por favor? – implorou Derek, com a mão no peito, se aproximando um passo.

Stiles cerrou os punhos

- olhe nos meus olhos se tem coragem de falar comigo depois de tudo o que me disse – ditou o rapaz com fúria e os adolescentes, os quais não tinham o que dizer ou fazer, olharam para Derek, o vendo respirar fundo e obedecer o rapaz, com sinceridade no olhar.

O nariz de Erica coçou.

- que cheiro é esse? – inquiriu olhando para Stiles, se focando nos olhos brilhantes do rapaz.

- sintam as suas mentes se esvaírem – foi tudo o que os quatro ouviram antes de sentirem os seus corpos serem tomados por uma sensação relaxante.

Era como se todo o seu corpo fosse massageado por serpentes, que deslizavam por ele com tranquilidade, pouco se importando com a sua presença. Era frio e relaxante. Era gostoso. Eles não queriam sair dali. Os cinco apenas desejavam sentir aquilo pelo resto de sua vida. Eles não pensavam direito, além de pensar no quanto aquilo era gostoso.

Eles conseguiam ouvir, ao fundo, uma voz bifurcada, baixa e confusa, que ecoava até os seus ouvidos. Era como se estivessem em uma caverna há vários metros de distância da pessoa que falava. Não entendiam o que ela dizia, eles apenas apreciavam a carícia do feita em suas peles. Ao piscarem os olhos, os cinco se encontrarem em meio a reserva, próximo ao local em que estavam se escondendo dos pais de Stiles.

- é o quê? – inquiriu Isaac, confuso.

- como a gente chegou aqui? – questionou Jackson, surpreso.

- hipnose – rosnou Derek cerrando os punhos com força, frustrado.






Stiles estava deitado em sua cama, assistindo, no canto do quarto, em uma estrutura estrategicamente posicionada, os seus morcegos interagirem entre si, balançando para a frente e para trás sempre que se moviam. Estava um tanto entediado. O seu peito doía, tanto física, quanto emocionalmente. Ele precisava de descanso e sabia disso.

O rapaz suspirou, puxando o controle do vídeo game para si, enquanto ligava a televisão e jogava o controle da mesma ao seu lado, na cama. Assim que colocou Dark Souls para abrir, ouviu algo bater em sua janela. Um som agudo e irritante. Os morcegos começaram a se agitar lentamente com os barulhos sem ritmo e com intervalos de segundos.

O castanho se ergueu, se aproximando da janela, procurando pela origem do som. Ao olhar para baixo, fora surpreendido quando um cascalho atingiu o vidro de sua janela. Olhou na direção do único ser humanoide diante da lateral de sua casa, vendo o moreno de olhos verdes que tanto tentava esquecer parado em seu gramado.

O Stilinski franziu o cenho para os lábios comprimidos do Hale, que lhe encarava com culpa e arrependimento. O íncubos revirou os olhos, se afastando da janela. Antes mesmo que voltasse a ter o controle em suas mãos, Stiles fora surpreendido por batidas mais fortes na janela. Se virando, ele pôde ver o lobisomem parado na mesma,  lhe encarando com súplica.

- por favor, vamos conversar – pediu o Hale em um tom de voz normal, o que fora o suficiente para o Stilinski escutar.

- não temos nada para conversar – ditou o dono da casa, com seriedade.

- por favor? – implorou o moreno, tristonho.

- não! Já invadiu essa casa ontem. Não se cansou dela ainda? – retrucou o castanho, irritado.

- eu fui um babaca, eu sei. Me deixa pelo menos eu me desculpar sem ter que me preocupar em cair dessa altura – ditou o Hale com certa preocupação.

Ele conseguia ouvir a madeira lascar com o seu peso todo concentrado em suas garras, que perfuravam a madeira do contorno da janela de Stiles. Ele não queria irritar o rapaz mais ainda.

- eu não quero ouvir nada que venha de você – rebateu o Stilinski, irredutível.

- eu fui um vacilão, ok? Eu me foquei tanto no ato, que nem me preocupei em pensar no porquê – confessou o lobisomem ouvindo a madeira emitir mais um som se lascas se quebrando.

As vezes, ter uma audição sobre-humana era agonizante.

- do que diabos você está falando? – questionou o íncubos, confuso.

Derek franziu o cenho

- ah... Da discussão que tivemos em minha casa – respondeu tentando encontrar do que mais ele poderia estar falando.

- ah! E eu estou falando da minha casa. Do meu quarto! Vocês simplesmente ... Espera. É o quê?! – o Stilinski desatou a falar, mas, assim que processou o que ouviu, se viu surpreso.

- isso também foi babaca. Eu sei. Mas eu estava tão preocupado com você e não era para os meus primos entrarem também. Eles deveriam ter ficado do lado de fora, vigiando a casa – admitiu o moreno, se justificando logo em seguida

O som de madeira se lascando aos poucos começou a se tornar mais constante, preocupando o adolescente. Quando a janela se abriu, o Hale levou um susto tão grande, que acabou se soltando e caindo. Antes que se afastasse da janela, Derek sentiu suas mãos serem agarradas, o fazendo olhar para cima, surpreso.

Stiles puxou o lobisomem para dentro do quarto, o vendo ficar cabisbaixo assim que passou pela janela. Derek estava nervoso. Olhava para o chão constantemente, tentando não se tornar um invasor enxerido, mais uma vez.

- vigiando a casa?! – indagou Stiles, curioso. Ainda irritado, mas curioso.

Derek coçou a nuca, nervoso.

- s-sim. Para que os seus pais não acabassem voltando e me pegando dentro da casa deles. Você sabe, certo? De nossas famílias? – respondeu o rapaz, receoso que se tornasse confuso demais.

- que os meus pais e o seu tio tiveram um romance, mas que agora as nossas famílias se odeiam? Sim, eu sei. – respondeu com tédio.

- eu não sei como eles reagiriam a um Hale na casa deles. Então eu achei melhor evitar contato- disse ainda nervoso, colocando as mãos nos bolsos de sua jaqueta.

- eles com certeza odiariam. Os dois têm aversão a sua família – comentou o íncubos com convicção.

O silêncio dominou o quarto.

- me desculpa. Eu fui um idiota. Eu não pensei em você. Eu... Só pensei em besteiras e idiotices. Fui um babaca... Disse coisas que eu não queria dizer – pediu o moreno de olhos verdes, arrependido, lambendo os lábios em nervosismo.

- não queria dizer mas é o que você pensa – rebateu Stiles, incomodado.

- não mais – o Hale se apressou em corrigir o pensamento do Stilinski

Stiles olhou desconfiado para o moreno, se surpreendendo ao não ver alteração na aura do Hale.

Derek não mentia.

- você não pensa que eu sou cruel? – indagou o castanho, tentando averiguar que realmente não houve alteração nenhuma no moreno, e não uma falha  em sua detecção devido a sua condição de saúde.

Derek coçou a nuca, nervoso.

- não. Eu... Eu pensei bem e vi que eu estava errado, Stiles. Você faz o que é preciso para comer. Assim como muita gente... Assim como eu. Eu fui um tapado por pensar aquelas coisas. Você .. me desculpa? – ditou Derek vendo o íncubos lhe fitar com surpresa

Antes que Stiles pudesse dizer algo, o rapaz começou a tossir desenfreadamente, assustando Derek. O íncubos levou uma mão ao abdômen e a outra a boca. O lobisomem, assustado, apenas abriu os braços, se perguntando o que poderia fazer. Ele acabou apenas assistindo e seguindo o outro correr até o banheiro, ainda tossindo. O cheiro de sangue atingiu as narinas apuradas do Hale, o surpreendendo e o assustando ainda mais.

O moreno assistiu, perplexo, o outro colocar um quantidade considerável de sangue para fora ao, simplesmente, retirar a mão da boca. Com os olhos arregalados para a privada ensanguentada, Derek ouviu a voz de seu tio em sua cabeça.

“Sentimentos positivos são venenosos para eles”.

Agora ele conseguia ver o quão perigoso era, para um cubos, o que Stiles tentava fazer.

- Stiles...

- eu estou bem – o castanho logo cortou o moreno.

- não. Não está. Eu sei o que você está fazendo. Você está se matando, Stiles – ralhou o Hale se aproximando do castanho que tentou se afastar, falhando miseravelmente ao quase cair.

Estava muito debilitado pelas toxina em seu corpo.

Com cuidado, Derek amparou o íncubos, o colocando nos braços e o levando até o quarto. Com suavidade, deitou o castanho na cama, o observando ilhe ignorar a imagem.

Aquilo lhe magoou.

Então ele ainda não estava perdoado?

Ele entendia. Havia dito coisas horríveis para o outro. Stiles tinha o direito de estar tão chateado consigo.

- eu sei que você está chateado comigo pelo que eu disse. E você tem todo o direito. Mas eu não vim aqui só me desculpar, Stiles. Eu vim aqui quebrar o nosso pacto – ditou o Hale surpreendendo o Stilinski.

- você não pode! – repreendeu o castanho, indignado.

- eu posso e vou. Eu prefiro desistir de você, ao deixar que você se mate nessa ideia estúpida – falou o lobisomem com a voz tristonha, se sentando na cama, ao lado de Stiles

- não. Eu só preciso absorver mais dele. Eu preciso de tempo – argumentou o íncubos, se sentando, desesperado.

- não vai rolar, Stiles. Isso é tóxico para você. Olhe só o que essa ideia estúpida fez com você – rebateu o lobisomem, preocupado, acolhendo a mão do íncubos nas suas

- não! Se eu absorver mais eu tenho certeza que você vai... – o Stilinski fora calado quando o Hale avançou em si, lhe roubando os lábios em um beijo singelo e sentimental.

- olhe o seu estado, Stiles. Você está muito doente, e ainda não chegou nem perto de diminuir o que eu sinto por você – o moreno sussurrou contra os lábios do castanho.

Stiles se viu desejando mais um beijo, antes de Derek se afastar. O Hale se sobressaltou, em um susto, quando um morcego passou voando diante de sua testa, o pegando desprevenido. Ele estava tão focado em Stiles, que se quer havia notado os quatro mamíferos voadores no canto do quarto.

O moreno sorriu.

Stiles era tão excêntrico.

- então... Morcegos – comentou, tentando quebrar o silêncio que havia se instalado entre eles.

Stiles riu brevemente, junto a um sorriso.

- morcegos – ditou o Stilinski encarando os seus bichinhos de estimação.

- e onde estão as cobras? – indagou, um tanto nervoso.

Jackson havia sido completamente inutilizado por duas das cobras de Stiles. Ele não iria correr o risco.

- estão nos aquários, tomando luz – respondeu apontando para os dois aquários, um deles extremamente grande, que eram iluminados por lâmpadas específicas. Os ofídios estavam confortáveis em um canto do aquário, apenas apreciando o calor.

- ainda não acredito que Jackson foi imobilizado por aquelas duas – comentou Derek exibindo a sua perplexidade quanto aos animais do outro.

- pítons são extremamente dóceis, mas ainda assim são incrivelmente fortes. Mas o que deixou o seu primo no chão foram aqueles quatro – disse o castanho voltando a olhar para os morcegos.

- o som que eles produzem não me afeta em nada, mas vocês, por outro lado – explicou o íncubos vendo os morcegos balançando para a frente e para trás.

- é melhor eu ir antes que... Os seus pais cheguem. E a minha mãe não vai gostar de saber que eu me atrasei para o jantar porque estava aqui – comentou o moreno, coçando o ombro, nervoso, antes de se erguer.

- você... Me desculpa? Por tudo? – pediu o moreno, mais uma vez, enquanto se afastava da cama do castanho.

- você realmente não pensa aquelas coisas de mim? – inquiriu o Stilinski, receoso.

Derek lambeu os lábios, negando com a cabeça.

- então tudo bem. Você está desculpado – disse o castanho e o moreno sorriu, aliviado.

Stiles conseguiu ver a felicidade no lobisomem. O moreno de olhos verdes parou ao passar a primeira perna pela janela, assim que o castanho lhe chamou.

- você... Realmente não sentiu diferença alguma? Não sentiu diminuir nem um pouco? – questionou o íncubos, cabisbaixo.

Derek se viu confuso com as palavras, antes de finalmente entender a qual assunto o castanho estaria se referindo. Sorrindo minimamente, negou com a cabeça.

- nem um pouco – respondeu com carinho, antes de começar a colocar a cabeça para fora da janela.

- Derek – chamou Stiles forçando o lobisomem a parar do outro lado da janela, apenas para colocar a cabeça para dentro.

O Hale se viu surpreso quando o castanho surgiu em seu campo se visão, tão próximo a janela. Ele não esperava que o íncubos fosse se levantar tão cedo.

- sim? –

Stiles o encarou com seriedade no olhar.

Derek se sentiu receoso com o olhar sério e penetrante do íncubos.

- estamos namorando – ditou o castanho, com naturalidade, surpreendendo o Hale.

- como é? – perguntou, chocado, antes de Stiles fechar a janela com velocidade.

O lobisomem, surpreso, retirou as mãos da janela, para que não ficassem presas. Ele se arrependeu logo em seguida. A queda não lhe feriu gravemente, mas ele teve certeza de que torceu o pé direito. O lobisomem olhou, surpreso, para o andar de cima por um tempo, observando o castanho se afastar da janela.

Um sorriso cresceu em seus lábios.

O lobisomem voltou para casa com um sorriso de orelha a orelha. Mais saltitante do que um coelho. Fora essa a visão que Laura e Cora tiveram do irmão, da varanda de sua casa, assim que avistaram o mesmo se aproximando. Ao olhar para o próprio pulso, mais tarde naquela noite, durante o banho, o moreno de olhos verdes notou a ausência da serpente misticamente tatuada em seu pulso.

Mas aquilo pouco importava.

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