Capítulo 5

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Caminhar pelos corredores do palácio, sentindo o chão de pedra da lua sob seus pés e a leve brisa com cheiro de jasmim fluindo pelo ar, era algo que Alynna jamais pensou que faria outra vez

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Caminhar pelos corredores do palácio, sentindo o chão de pedra da lua sob seus pés e a leve brisa com cheiro de jasmim fluindo pelo ar, era algo que Alynna jamais pensou que faria outra vez. A fêmea caminhava com postura confiante, logo atrás de Cassian, sem saber exatamente onde estavam indo. Seu andar era intrêmulo, mas lento; andava com certa dificuldade, pois se cansava rapidamente e ainda sentia dores devido aos cortes em seus pés.

Cassian não percebeu, ou pelo menos não se importava. Alynna o considerava impertinente e insuportável, desde quando se lembra. Ter crescido na Corte Noturna, de certa forma isolada, não permitiu que a fêmea desenvolvesse laços de afeto com muitos feéricos. Passava o dia brincando ou treinando para ser uma fêmea respeitosa e senhora de alguma Corte no futuro, mas à noite, treinava secretamente para ser uma guerreira. Era essa sua verdadeira natureza: uma caçadora. Após algum tempo, abandonou a personagem ingênua e assumiu sua verdadeira identidade. Era considerada selvagem por alguns. Sempre serena e observadora, era uma figura de presença forte e de certa forma, assustadora.

— Você vai me dizer onde estamos indo, ou vou ter que entrar em sua mente para descobrir?

— E você consegue fazer isso? Fraca desse jeito, duvido que consiga invadir a cabeça de uma minhoca — o general nem se deu ao trabalho de se preocupar ou olhar para trás. Seguiu seu caminho.

Alynna irritou-se.

— Eu sou muitas coisas, Cassian, mas fraca não é uma delas.

— Como quiser, Alynna.

Continuaram caminhando em silêncio pelo longo corredor até alcançarem a biblioteca. Para a surpresa de Alynna, não havia ninguém ali.

— Onde estão todos?

— Esperando. Mas não aqui.

Àquela altura, Alynna já estava desconfiada. Seus sentidos ficaram mais aguçados, e passou a observar atentamente cada passo do general.

— O que quer dizer com isso?

O general observava a varanda do salão, de costas para a fêmea. Virou-se de lado, e com um olhar malicioso, anunciou:

— Nós vamos dar um passeio.

Alynna congelou. Havia séculos que não voava. Há muito não se lembrava da sensação. E havia ainda um fator óbvio: a illyriana já não possuía mais asas, por culpa de um infeliz assassinato. Pelo menos, não asas que ela pudesse usar ainda.

— Não.

— Você não tem escolha. Seu irmão está a sua espera.

— Eu não vou. Nem que você me arraste.

— Isso é um desafio?

— Não me irrite, Cassian, ou eu...

— Ou você vai fazer o quê? — A voz do illyriano ficou mais firme. A tensão emergente no ambiente era mais forte que o calor mágico do palácio. Por algum motivo, Alynna, no fundo, estava gostando da tensão no ar.

— Você não sabe nada sobre mim. E talvez você, não tenha percebido, mas falta uma coisa essencial em mim para voar.

Cassian tinha sua atenção completamente na feérica. Examinou seu corpo dos pés à cabeça, mas não como alguém que procura algo, mas com certa malícia. Alynna corou levemente.

— Isso não será um problema. — Cassian afastou-se, caminhando em direção à larga varanda e ao céu estrelado da Corte Noturna. — Venha.

Havia muito tempo que Alynna não via o céu de sua casa, de sua Corte. Enquanto esteve em cativeiro, sozinha e machucada na escuridão da cela em Hybern, fechava os olhos e sonhava com o céu estrelado de Velaris. Durante muitas noites, aquele foi seu único consolo.

A fêmea ansiava por aquele momento. Seus pés formigavam, mas encontrou forças e coragem para andar. Já não se preocupava mais com o olhar indecente do general ao seu lado. Caminhando lentamente em direção à varanda, seus olhos violetas brilhavam, não por culpa do reflexo das estrelas e da lua, mas por lágrimas que inundavam sua linha d'água. Sua postura firme e ameaçadora desapareceu, revelando uma garota vulnerável e de certa forma inocente, admirando o céu como se fosse a primeira vez em sua vida.

Enquanto lágrimas tímidas escorriam por seu rosto, Cassian se aproximou da fêmea. Ao sentir a presença próxima do general, Alynna recuperou sua postura, e enxugou as lágrimas com a manga do vestido.

— Fazia muito tempo, não?

Com a voz um pouco abatida, Alynna respondeu.

— Sim. Eu pensei que nunca mais veria este céu novamente.

— Bom, agora você está em casa. Precisamos ir.

Alynna virou-se para o general. Havia um pouco de dor em sua voz.

— Cassian, eu... eu não sei mais como fazer isso. Faz...

— Não se preocupe. Prometo não fazer balançar muito — disse, rindo. Cassian subiu no parapeito da varanda e estendeu a mão para Alynna.

Relutantemente, a mão franzina e enfaixada de Alynna encontrou a mão de Cassian. Ele a puxou para cima do parapeito, e Alynna desequilibrou-se levemente. A fêmea olhou para baixo e visualizou o precipício de rochas abaixo do palácio, e um arrepiou percorreu sua nuca.

— Você tem medo de altura?

— Não, é que eu estou desacostumada.

— Preparada?

Alynna assentiu. Cassian aproximou o corpo da fêmea de si, e envolveu seu braço em sua cintura, segurando-a firmemente próximo de seu peito. A respiração de Alynna ficou levemente acelerada, e relutantemente, pousou seu braço ao redor do corpo de Cassian. Para ela, era estranho estar tão próximo de alguém que a mantinha segura depois de tantos anos de proximidades violentas e abusivas.

Alynna suspirou uma última vez e anunciou:

— Estou pronta.

Cassian assentiu e centrou sua força em suas asas, saltando do parapeito da varanda, segurando Alynna firmemente em seus braços.

Alynna não ousar fechar os olhos ao ver as luzes da cidade.

Corte de Trevas e TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora