M.e.t.a.m.o.r.f.o.s.e.

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🎄

O garoto continuava encolhido no canto. Tremia e vez ou outra, soltava grunhidos suaves de dor. Seus olhos, anteriormente, castanhos-escuro, possuíam uma estranha cor de amarelo ouro, no momento, fechados com força. Ele suava frio, a manta velha que a governanta do orfanato deu, à contragosto, não cobria seu corpo franzino e pequeno, sendo muito fina e tão furada quanto um queijo suíço.

O porão do orfanato era um cômodo abafado e úmido, escuro e solitário. Era usado para castigar os órfãos mal criados ou esconder as crianças estranhas, como estava sendo usado naquele momento.

Birdie conferiu a temperatura dele, levando sua mão à testa. Imediatamente, retirou-a. Voltou seu olhar preocupado para Theobald, sentado ao lado dela.

- Ele está muito quente - sussurrou, a voz soando chorosa. - O que vamos fazer?

O garoto deu de ombros, não tinha ideia do que sugerir. Seu amigo parecia estar muito doente e de certo, morreria em breve. Eles não podiam fazer nada, eram apenas crianças de dez anos, estranhas, mas crianças.

Milo não conseguiu reprimir um grito de dor, chamando a atenção dos seus amigos.

- Temos que fazer alguma coisa antes que elas... - Birdie não conseguiu terminar, engolindo em seco e estremecendo só de pensar na possibilidade disso acontecer. - Ele precisa de nós.

Theobald levou seu olhar ao amigo. Milo abriu os olhos, a cor de suas íris oscilava, mudando de cor constantemente. Lágrimas se formavam. Um vinco permanecia entre suas sobrancelhas castanhas, a expressão contorcida de dor, lábios fechados com força para que nenhum som escapasse.

- O que podemos fazer? - sussurrou para ele, deixando transparecer a preocupação em seu olhar esquisito para todos, menos para Milo e Birdie.

- Ele precisa de ar - disse Birdie, de repente, com uma voz distante, olhos perdidos em algum ponto do porão. Depois, balançou a cabeça, pondo-se de pé e falou em tom firme: - Vamos tirá-lo daqui. Precisamos sair da vila e levá-lo para um local isolado.

Theobald a olhou, confuso. Não entendeu o porquê teriam que fazer aquilo.

- Não é melhor ficarmos aqui? Ele precisa de um lugar confortável... - sua voz morreu no final. "confortável" não fazia sentido naquele lugar. Era uma palavra desconhecida na vida deles. Então, não fazia sentido hesitar. - Como vamos sair daqui? Trancaram por fora.

A resposta de Birdie veio no mesmo instante.

- Você sabe o que fazer. - Ergueu as mãos para ele, agitando-as.

Theobald sorriu, ele sabia o que ela queria dizer e adorou a ideia, ainda mais vindo de Birdie, que sempre o repreendia.

Com passos suaves como os de um felino, caminhou até a porta de madeira que os prendia dentro daquele lugar.

Mesmo convivendo com o garoto desde que eram bebês, vê-lo com suas mãos envolvidas em chamas e transformar a porta em cinzas em segundos continuava sendo surpreendente. Todavia, Birdie sabia que Theobald nunca a machucaria.

Ele voltou, agachando-se perto de Milo.

- Eu vou te carregar - avisou, sem ter certeza de que ele ouviu.

Theobald tinha consciência que carregar Milo seria fácil, porém, o garoto era mais leve do que aparentava ser. Com todo cuidado que conseguiu, ajeitou-o nos braços.

- Eu vou na frente - disse a garota. - Não sei se alguém está acordado, mas não custa nada tomarmos cuidado.

Birdie saiu do porão, passando por cima das cinzas. Theobald foi logo atrás.

O Natal das bruxas de HekseskogOnde histórias criam vida. Descubra agora