U.m.

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🎄

O cavalo relinchou assim que o jovem cavaleiro o guiou para dentro da floresta Hekseskog. As árvores robustas, altas e densas, davam um ar sombrio ao local, embora os camponeses — principalmente, os lenhadores e caçadores — não temessem adentrar pelas diversas trilhas existentes.

A trilha que o homem usava era vagamente camuflada pela falta de luminosidade que a manhã trazia. Gawain sabia que a melhor decisão seria esperar o dia amanhecer para poder voltar para o reino de Hekseskog, todavia, tinha pressa para sair da hospedagem em que estava logo após ter acabado seus afazeres reais. 

Sua família mandou-lhe diversas cartas enquanto ele estava fora do reino, além das embaraçosas cartas de Maria. A filha de uma das cozinheiras do castelo.

Gawain achava a jovem de dezoito anos muito bonita, porém, sabia que não seriam compatíveis para um possível casamento. Ela sofreria muito querendo prender um espírito livre. Livre e guerreiro. Não daria falsas esperanças, com esse pensamento, sequer chegou a ler as cartas, simplesmente guardou no meio de suas coisas.

Ao seu redor, a floresta mantinha-se em silêncio, absorvendo os tons alaranjados do pôr do Sol. Vez ou outra, algum pássaro cantava ou levantava vôo. Talvez, a floresta se preparava para dormir.

O jovem cavaleiro estava ansioso para rever sua família e, não tendo coragem de admitir em voz alta, sentia saudade de Godwin, seu melhor amigo e seu irmão por consideração. Ele andava o evitando desde que descobriu não ser filho legítimo, porém, Gawain ainda o amava da mesma forma.

O cavalo relinchou novamente, parando de trotar, agitado. Ele tentava voltar, entretanto, Gawain o controlou usando as rédeas, tentando acalmá-lo.

— Calma, Tempestade — disse, mansamente. Fazia carinho no pescoço do animal, que ainda estava assustado. — O que você viu para te deixar com medo?

Sabendo que seu companheiro não o responderia, ergueu seu olhar para frente, achando que poderia encontrar uma cobra — ou outro animal — no caminho, contudo, surpreendeu-se ao ver uma mulher parada no meio da trilha, poucos metros de si, encarando-o.

Os últimos raios solares foram engolidos pela floresta e mesmo assim, aquela mulher parecia ser iluminada por algo, como se possuísse uma áurea.

Gawain não percebeu quando Tempestade se acalmou, porque sua atenção estava completamente voltada para a bela mulher.

A mais linda que já viu em sua vida. Poderia ser facilmente uma divindade, ou, a própria perfeição feita pelos deuses.

De cabelo ondulado, com os fios mais escuros e brilhantes que o céu noturno estrelado que já apreciou; o rosto era simétrico, as bochechas rosadas davam um ar de saúde e o vermelho dos lábios fartos em formato de coração era tentador. Seus olhos pareciam pretos, envolvendo-o cada vez mais, incentivando-o a se aproximar.

Sem nem pensar no que fazia, fez Tempestade prosseguir, tendo um pouco de dificuldade com a hesitação do animal no começo.

Quanto mais se aproximava dela, mais ele ficava hipnotizado com a sua beleza. Ao parar em sua frente, viu que os olhos dela, na verdade, eram azuis. O tom de azul mais escuro que julgou ser possível existir.

Achou melhor descer do cavalo. Ela acompanhou com o olhar enquanto ele ficava na sua frente, com as rédeas em uma das mãos para Tempestade não fugir.

— Boa noite, senhorita, precisa de ajuda? — conseguiu perguntar quando achou sua voz, essa engolida pela beleza quase irreal.

Agora, há poucos centímetros, Gawain analisava cada detalhe do belo rosto. Tudo perfeito: a pele lisa como pêssego, nenhuma pintinha ou sarda ousou colorir seu corpo — pelo que o vestido marrom e sem graça mostrava.

O Natal das bruxas de HekseskogOnde histórias criam vida. Descubra agora