T.r.ê.s.

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Todos encaravam atônitos a flecha que deveria ter perfurado o peito da caçadora. Scarlett ainda segurava firmemente a flecha, sem parecer minimamente preocupada com o que poderia ter acontecido consigo. A ponta afiada fazia contato com sua roupa de couro. Seu olhar incisivo permanecia no chocado Gawain.

— É assim que seus cavaleiros recebem ajuda, rei Dalibor? — Nem quando disse tais palavras, desviou seu olhar dele.

O olhar severo do rei desviou da flecha, que Wolfgang tirava das mãos da caçadora, indo de encontro para um pálido Gawain.

— Por que atacou ela? — questionou, não parecia irritado, apenas queria manter a calmaria naquele salão. — Esses são os caçadores, Gawain.

— Majestade, essa é a bruxa que me atacou na floresta — Gawain praticamente rosnou, entredentes. Levou uma de suas mãos para o cabo de sua espada, pronto para puxá-la e defender seu rei e seu irmão a qualquer movimento suspeito daquela mulher ou de qualquer outro de seus subalternos. Wolfgang percebeu o movimento, não parecendo preocupado. — Dou minha palavra que a bruxa que se denomina Hera possue este mesmo rosto que estou vendo nela.

— O que aconteceu com o seu olho? — interrogou Scarlett, de repente, analisando o curativo com um olhar clínico e expressão alarmada.

Sem esperar uma resposta, ela deu um passo à frente. Imediatamente, Gawain sacou a espada e mirou em sua direção.

— Fica longe de mim — avisou em tom ameaçador.

— Por que ele está achando que você é a bruxa, caçadora? — interveio o rei, agora curioso.

Inquieta no canto do salão, Birdie não controlou sua boca inteligente e explicou:

— Bruxas eram fadas que se corromperam com magia. Quando usamos magia proibida ou para uso próprio com fins egoístas ou deploráveis, a primeira coisa que se esvai é a beleza e, fadas, normalmente, prezam por ela. A saída é usar um disfarce. A bruxa Hera deve ter usado o rosto de Scarlett, por isso ele acha que ela é a bruxa.

Dalibor ouviu tudo com atenção. A garota parecia ter a idade de sua filha do meio, Sadie, porém, tudo nelas era diferente, desde a aparência física, à coragem de tomar a frente em uma conversa com alguém importante.

— Além de Theobald, há outro ser mágico entre vocês? Você falou como se todos fossem — observou ele, a voz era cautelosa, todavia, seu olhar gélido era levemente acusatório.

Birdie olhou culpada para Scarlett, sem saber o que dizer.

— Isso não é relevante, rei Dalibor. Nosso serviço será feito, de qualquer forma — respondeu Scarlett. Encarou Gawain, que ainda apontava a lâmina afiada para si. — Seria bom se eu e Birdie déssemos uma olhada nesse ferimento. Você pode ter sido envenenado.

— Não quero você perto de mim — disse, irredutível.

— A garota não consegue analisar sozinha?

— Posso sim — respondeu Birdie, procurando aprovação em Scarlett, que assentiu. — Mas acho melhor amanhã, na luz do dia fica mais fácil consultar meus livros.

— Gawain, acho que você já pode guardar a espada — cochichou Godwin para o irmão. — Ela não deve ser a bruxa mesmo.

Gawain desviou seu olhar da caçadora pela primeira vez desde que entrou no salão do trono para encarar seu irmão.

— Não vou confiar novamente em alguém que nem parece humana — cochichou de volta. — Olha bem para ela, você acha que alguém com essa aparência pode ser humana?

O Natal das bruxas de HekseskogOnde histórias criam vida. Descubra agora