Desejo Insano

Maldita vida real

Eu e Andrew não havíamos feito nada além de trocar alguns olhares antes de sua apresentação. Eu sabia que ele estava chateado, mas não sabia se pela conversa de mais cedo ou se pela notícia de que Kyle estaria de volta. Eu sabia que devia ter contado da notícia assim que soube dela, mas estávamos tão bem que eu não queria que ele agisse comigo da forma que estava agindo agora. No entanto, Eu precisava desligar um pouco aquele turbilhão de preocupações e pensar apenas em não misturar nenhuma bebida, ou tomar tequila novamente, então tentei ignorar esses pensamentos focando apenas em me divertir essa noite na companhia de Clover.

A banda entrou em um ritmo agitado e dançante, fazendo com que Clover me arrastasse para a pista de dança e juntas começássemos a nos mover. Eu sentia falta de ter uma amiga como ela, que fizesse com que eu me distraísse facilmente com coisas que pessoas normais costumavam fazer. A verdade é que desde que eu e Kyle nos mudamos para a casa de Andrew, eu não penso muito nas coisas que deixei para trás ou na minha mãe que eu demorei para me adaptar a ideia de não tê-la por perto. De certa forma, bem no no fundo eu sabia que ali era o meu lugar.

—Cain não tira os olhos de mim. —Clover gritou sobre a música, enquanto me fazia levar os olhos distraidamente até o palco.

Cain estava tocando a guitarra fervorosamente enquanto mantinha seus olhos pregados em Clover. Ele parecia um astro do rock apaixonado. Me fez sorrir.

—É verdade. Tenho a sensação de que ele vai descer de lá e te agarrar a qualquer momento. —Eu disse, vendo Clover soltar um riso.

—Eu ia adorar isso. —Falou, antes de virar a cabeça em direção ao palco. Clover parou de se mexer e me encarou, suas sobrancelhas franzidas —Andrew também não para de olhar pra cá.

Meu coração errou algumas batidas antes de eu levar os olhos até ele. Sua voz arrastada gritava as letras da música enquanto ele mantinha os olhos em mim. Seus olhos sorriram levemente, como se ele estivesse apreciando aquilo, como se não se importasse com as pessoas ao redor. Todo mundo podia ver aquilo, Andrew não estava se preocupando com discrição.

Parei de me mover rapidamente, olhando em volta para me certificar de que não havia ninguém aqui que também tivesse reparado naquilo.

—Eu acho que ele está distraído. —Gaguejei, mais para mim do que para Clover—Eu vou buscar uma bebida, você quer?

Ela deu de ombros e continuou olhando de Andrew para mim. Seus lábios se abriram e eu disse antes que ela falasse alguma coisa:

—Já volto. —Me movi de rapidamente entre a multidão em direção ao bar.

Meu coração estava rápido, eu mal podia respirar. Eu não podia permitir que alguém descobrisse sobre o que andávamos fazendo por aí, não até que eu mesma contasse a Kyle e tudo estivesse resolvido. Eu preferia morrer ao magoar Kyle, ele não merecia nem o começo do que eu estava fazendo por aí às escondidas.

A culpa me pegou desprevenida quando cheguei ao bar. Como eu me sentiria se a situação fosse o contrário? Se Kyle estivesse tendo um caso com alguém e estivesse esperando a oportunidade certa para me contar e acabar comigo?

Eu não podia simplesmente entornar tudo aquilo em cima do homem que segurou a minha mão enquanto me tirava do fundo do poço depois de perder minha mãe. Ele não merecia, eu não poderia...

Me recostei contra o balcão do bar, vendo que o barman vinha em minha direção.

—Vodca. —Eu pedi a ele.

Observei ele preparar a bebida enquanto passava as mãos pelos cabelos, assustada com tudo o que eu havia me dado conta. Não era uma brincadeira, era a vida real. Em qual parte dessa maldita vida real eu havia me perdido? Com certeza na parte em que eu enfiava a língua na garganta do melhor amigo do meu namorado!

Virei a bebida de uma só vez antes de sentir alguém atrás de mim. No segundo seguinte suas mãos cobriram meus olhos e seu hálito quente soprou contra meu rosto, me deixando alarmada.

—Tem noção do quanto está quente com essa roupa?

Meu coração parou de bater no mesmo instante em que ouvi sua voz. Kyle tirou as mãos dos meus olhos e me puxou contra ele, antes de afundar o rosto em meu pescoço.

—Que saudade de você, amor.

Estremeci sobre seu abraço, me virando para encara-lo quando ele me soltou. Seus olhos castanhos claros me encararam tão familiarmente que eu senti meu coração apertado e toda a saudade que havia de nossos momentos juntos me pegou desprevenida. Joguei os braços ao redor de seus ombros, sentindo meus olhos marejados enquanto o via me apertando contra ele.

—Kyle... —Eu chamei, minha voz por um fiasco enquanto ele ainda me mantinha contra ele.

—Estou aqui, amor. Está tudo bem. Me desculpe, não queria ser duro com você. Te amo tanto, me desculpe. —Ele falava, enquanto eu sentia as lágrimas rolando livremente.

Arrisquei um olhar para o palco, por sorte havia muitas pessoas no campo de visão, o que fez com que Andrew certamente não conseguisse nos ver e nem eu poder vê-lo. Mas sabia que ele arrastava os olhos entre a multidão enquanto começava uma canção mais calma. Eu estava tão agitada que precisava fugir de tudo aquilo. Eu não fazia ideia do que iria fazer, mas quando olhei para Kyle tudo o que eu quis foi ficar com ele, então segurei suas mãos e apertei nossos dedos juntos.

—Me leva pra casa?

Kyle franziu a testa em surpresa e depois olhou para o palco.

—Tudo bem se quiser ficar mais, amor. Não estou cansado do voo.

Suspirei, sentindo meu coração disparando de uma forma absurda.

—Eu só quero ficar com você. —Eu disse, enquanto Kyle sorria e me puxava para outro abraço. Seus lábios beijaram o topo da minha cabeça e eu suspirei em seu abraço.

Kyle se mexeu e me afastou levemente para me olhar nos olhos.

—Só me deixa avisar o Andrew e a gente vai...

—Não. —Eu disse rapidamente. Seus olhos se estreitaram em desconhecimento —Ele vai saber que você está de volta quando ver seu carro na frente de casa. Só vamos, quero muito matar a saudade.

Kyle ficou em silêncio por alguns segundos antes de sorrir levemente e segurar minha mão.

—Claro, princesa. Como quiser.

Ele nos levou em direção a saída, parando para cumprimentar Luke no caminho até lá. Eu sentia olhos queimando sobre minha pele, me julgando, me enxergando como a completa covarde que eu era. Quando eu estava com Andrew, eu tinha a certeza do que queria. Sabia dos sentimentos que eu sentia por ele e do quanto eu gostava de tê-lo por perto. Mas Kyle era algo com que eu já sabia lidar. Eu já o conhecia, já sabia tudo sobre ele. Era mais fácil. E no momento o mais fácil parecia mais conveniente.

Mesmo assim, eu sabia que fugir não era a opção mais sensata. A verdade sempre viria a tona e eu precisava escolher de uma vez, antes que acabasse perdendo os dois. Mas imaginar uma vida em que um deles não estivesse comigo, acabava com tudo em mim e mesmo assim, eu estava deixando Andrew enquanto ia embora com Kyle.

Antes que eu pudesse atravessar a porta, arrisquei uma última olhada para o palco. Andrew estava mudo, ele havia perdido a parte mais importante da canção enquanto me olhava ir embora com Kyle. Eu não sabia exatamente o que se passava em seu rosto, mas sabia que ver aquela cena havia lhe dado a resposta que eu não pude lhe dar.

A resposta que nem mesmo eu tinha.

E sabia que esse caminho não teria mais volta.