Chamas

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Não foi difícil me acostumar com a rotina. Em uma semana eu já tinha gravado muitos nomes e já estava me sentindo mais a vontade para lhe dar com os clientes.

Apesar de querer muito, eu e Kyle quase não tínhamos tempo para conversar. Ele saía cedo quando eu ainda estava tomando o café e geralmente chegava em casa quando eu já estava no décimo sono. Andrew, por outro lado, virou meu companheiro de copo. Todas as manhãs dividíamos a cozinha em uma conversa parcial e agradável e todas as noites ele me dava uma carona na volta do trabalho. 

Era o segundo fim de semana desde que comecei na Little Wheel e Andrew havia comentado algo sobre se apresentarem no Bart. Kyle não estava animado, queria ficar e assistir a algum programa de tv bobo enquanto comíamos pipoca e nos aconchegávamos no sofá. Mas eu realmente estava animada para ver Andrew em toda a sua glória em cima de um palco outra vez. E como era a minha noite de folga, eu consegui convencer Kyle, depois de alguns beijinhos ternos, que esse seria o melhor programa para essa noite.

Andrew havia saído a um par de horas para ensaiar com a banda antes que o Bart começasse a lotar, então eu e Kyle estávamos terminando de nos arrumar. Terminei de passar o batom e me virei para ele.

—Está linda, como sempre. —Disse, um brilho intenso nos olhos.

Eu sabia o que aquele brilho significava e sorri indo até ele e passando os braços ao redor de seus ombros.

—Obrigada, você está muito bonito também.

E era verdade. Kyle estava incrível, com sua camisa polo branca e a calça apertada. Seu cheiro era inebriante e aquele sorriso... eu amava aquele sorriso.

Ele afundou o rosto no meu pescoço e depositou um beijo molhado e demorado ali. Depois afastou meus cabelos e mordiscou a pele abaixo da minha orelha.

Me afastei um pouco e sorri.

—Nada disso, seu assanhado. Vamos, Andrew e os caras já devem estar se preparando.

Kyle suspirou e balançou a cabeça.

—Ainda dá tempo de ficar e terminar isso. —Suas sobrancelhas se levantaram em esperança.

Fui até a cama e peguei a minha bolsa antes de sorrir e passar por ele.

—Vamos.

Como eu já imaginava, o Bart estava incrivelmente cheio. Era uma loucura, conseguia ter o dobro da quantidade de pessoas do que tinha na última vez, em sua grande maioria mulheres. Eu tinha certeza que isso se dava ao fato de que os The Dudes iam se apresentar e estava remotamente feliz que Andrew tivesse por fim escolhido que era hora de seguir.

Kyle sorriu quando avistou Luke, que fazia a segurança no interior do bar. Ele acenou e sorri, balançando a cabeça em cumprimento. Procurei por uma mesa, mas todas pareciam estar ocupadas. No palco não havia nenhum dos caras, exceto um garçom do Bart que ajeitava uma cadeira de frente ao microfone. Não havia sinal de Andrew nem de qualquer outro membro da banda, mas quando eu já ia desistindo de procurar por um lugar, avistei os cachos perfeitos e soltos de Clover. Ela estava bebendo cerveja enquanto ria para Kent e outra garota em um vestido vermelho e atraente. 

—Ali. —Apontei para a mesa deles. Kyle me olhou confuso -Colegas de trabalho, tenho certeza de que vão nos deixar sentar juntos. —Eu expliquei.

Kyle sorriu, parecia animado em finalmente conhecer alguém do meu trabalho. Eu deixei que ele nos guiasse até a mesa, empurrando alguns corpos para abrir caminho. Já sentia uma gota de suor escorrendo pelo meu pescoço.

Bart estava tão cheio que eu estava começando a pensar que não teria espaço suficiente para quem estava ao lado de fora esperando na fila. Era um absurdo, surreal e fiquei feliz por Kyle conhecer Luke e a banda, nos dava alguma vantagem já que chegamos em cima da hora para o show.

—Raven! —Clover disse, assim que me notou chegando até eles.

Kent virou o rosto. Estava em uma camiseta transparente e coberta com glitter. Totalmente diferente do seu habitual no trabalho. Não contive o riso.

—Ei gente, não sabia que ia encontrar vocês aqui. —Eu disse.

—A equipe da noite chegou uma hora mais cedo, assim acabamos vindo direto pra cá. -Clover explicou.

—Garota, você está um arraso. —Kent disse.

—Obrigada, você também está um graça. —Sorri, sentindo os dedos de Kyle apertarem os meus —Esse aqui é Kyle, meu namorado.

Clover sorriu para ele.

—Sou Clover, esse aqui é o Kent e essa é a Lily. —Clover apontou para a garota com cabelos loiros e olhos intensamente azuis —Vocês já se conhecem, né?

—Na verdade não. —Eu falei, curiosa —Porque?

—Ah, ela é uma... amiga do And. Achei que a essa altura vocês já teriam sido apresentadas. —Kent disse e se virou para Lily —Eles são os colegas de quarto do Andrew.

Os olhos azuis da garota brilharam e um sorriso se fez nos lábios vermelhos dela.

—É um prazer. Sentem-se com a gente. —Lily disse.

Olhei para Kyle que puxou duas cadeiras para nós.

—Eu queria ter visto a primeira apresentação de volta deles. —Clover falou —Dizem que foi um estouro.

—E foi! —Lily disse, antes mesmo que Clover se calasse —Andrew foi quente como o inferno.

Olhei para seu rosto animado. Ela prendia o lábio entre os dentes, provavelmente se lembrando da apresentação dos rapazes. Na hora saquei o que Lily e Andrew realmente eram um do outro.

Não tive prazo para fazer um comentário quando a banda entrou no palco. Primeiro Jacob, com a guitarra pendurada no pescoço e as mãos em um gesto bem obsceno que causou um estrondo vindo da multidão. Depois entrou Chris que piscou para um grupo de garotas na lateral do palco e levantou as baquetas em um cumprimento geral. Tob entrou logo depois, passou as mãos pelos cabelos loiros e sorriu com algo que Jacob lhe disse, balançando a cabeça em negação. Cain entrou em seguida e lançou alguns beijos e sorrisos para o mesmo grupo de garotas na lateral do palco que gritaram ainda mais com o gesto. Por último, Andrew adentrou o palco e, ao completar a equipe, a platéia enlouqueceu. Ele ajeitou o microfone no centro do palco, de modo que ficasse na altura de seus lábios, e sorriu.

—E aí, pessoal! —Ele disse, empolgado. A multidão gritou em resposta e ele riu ainda mais —Prontos para verem esse lugar em chamas?

Andrew colocou a mão atrás da orelha como se quisesse ouvir a resposta da plateia e sorriu quando todo mundo gritou enlouquecido..

Ele passou os olhos lentamente sobre as pessoas, parecendo procurar por alguma coisa. Seus olhos encontraram os meus, seu sorriso cresceu ainda mais, Lily gritou algumas palavras nada inocentes e então Andrew piscou para mim, se afastando do microfone e acenando para Chris que acertou as baquetas uma na outra três vezes e começou a tocar a bateria enfurecidamente antes que Cain e Jacob o acompanhasse na guitarra e Tob no baixo.

Era uma música alegre e agitada que fez com que as pessoas que estavam de pé começassem a pular e dançar como loucos. A voz de Andrew veio arrastada e forte, arranhando o fundo de sua garganta enquanto ele se movimentava de forma sedutora em cima do palco, como se fosse um verdadeiro astro do rock. Era impressionante, como se Andrew Foster tivesse nascido para isso. 

Chamas era a descrição perfeita para ele naquele momento.

Desejo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora