Uma cerveja?

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Esse havia sido o fim de semana mais curto da história dos fins de semana. Apesar de ter passado rápido, eu e Kyle não nos desgrudamos nem por um segundo. Ele foi paciente em relação ao meu grude, sempre me dando carinho e me fazendo rir. Passamos muito tempo conversando sobre o futuro, o que faríamos quando ele voltasse com um cargo melhor na empresa. Eu chorei uma porção de vezes entre nossas conversas, tentando de alguma forma me acostumar com aquela ideia.

Mas eu sabia que não aconteceria.

Apesar disso, eu não pedi que ele ficasse, ou implorei que reconsiderasse. Era uma coisa importante para ele e eu simplesmente não conseguia ficar em seu caminho. Também sabia que não seria tão ruim, já que eu entraria na faculdade na próxima segunda. Eu iria trabalhar, ir para as aulas e de volta para casa e isso já seria tarde, o que não ia me dar muito tempo para chorar pelos cantos, quando eu menos esperasse os dois meses já teriam passado e Kyle estaria de volta inteirinho para mim.

No fim da noite de domingo enquanto Kyle bebia uma cerveja e eu fazia cafuné em seu cabelo, Andrew apareceu. Ele estava ausente desde a manhã de sábado oque me fez lembrar que talvez tivesse feito isso para eu e Kyle termos alguma privacidade antes de eu ficar sem ele. Andrew estava arrumado, como se tivesse acabado de tomar banho e tinha uma roupa impecável ao corpo. Me perguntei se ele tinha outro lugar, para quando se cansasse de hóspedes o tempo todo pelos cantos da casa, mas acabei deixando esse pensamento quanto o vi se arrastar até o sofá da frente. Era algo novo estarmos nós três no mesmo ambiente, fazendo algo juntos.

—Ei, cara. —Kyle falou.

Andrew o encarou, seu semblante um pouco difícil de identificar. Ambos entraram em um assunto comum e riam naturalmente por qualquer coisa. A essa altura eu não estava prestando atenção na conversa e sim no quanto aquele momento significava. Andrew e Kyle eram melhores amigos a anos e eu pensei que talvez pudesse ter estragado isso quando decidi beijar nosso colega de quarto.

—Vou pegar uma cerveja —Kyle resmungou, se levantando e olhando para Andrew —Quer uma, amigo?

Andrew assentiu, se recostando contra o sofá.

Kyle saiu em direção a cozinha, nos deixando sozinhos. Notei que estava encarando minhas unhas, com medo de qualquer coisa que fosse encontrar em seu olhar.

—Como se sente? —A pergunta sussurrada de Andrew me fez levantar os olhos em sua direção.

Ele estava me analisando e no mesmo instante eu soube que se referia a Kyle ter que ir embora logo pela manhã.

Senti meu coração apertar, me lembrando desse fato injusto. Mesmo assim eu lhe mostrei um sorriso.

—Acho que posso sobreviver.

Andrew apresentou um meio sorriso e em algum momento pensei tê-lo visto suspirar, antes de ele voltar a olhar na televisão e Kyle estar de volta. Ele entregou a cerveja a Andrew que agradeceu e tomou um longo gole. Minutos depois Kyle já estava envolvido de volta no jogo, mas eu não conseguia de fato parar de olhar para Andrew. Havia algo nele que não o deixava com a atenção presa na tv. Ele estava segurando a cerveja com ambas as mãos enquanto olhava fixo para ela. Não tinha tomado mais que um gole e eu estava me perguntando se ele realmente estava bem.

Andrew se levantou e passou por nós, em direção a cozinha. Notei que Kyle estava ligado de mais no jogo para ter percebido aquilo, então lhe dei um beijo na testa e esperei alguns segundos antes de me levantar e ir para a cozinha também. Antes de chegar até lá, dei uma olhada rápida na direção de Kyle para me certificar de que ele realmente estava com a atenção voltada para a tv e então adentrei a cozinha. Andrew estava com os cotovelos apoiados no balcão, o rosto enterrado entre as mãos e o corpo relaxado.

Me aproximei devagar, não querendo assusta-ló. Eu estava preocupada, não sabia por onde ele andou e porque parecia tão perdido. Apoiei uma das mãos em seu ombro e a outra na bancada ao seu lado.

Andrew virou levemente a cabeça na minha direção. Ele se endireitou, como se de alguma forma não quisesse que eu o visse no estado em que estava.

—Você está bem? —Perguntei, realmente preocupada.

Andrew olhou em direção a sala, onde só era possível visualizar parte das costas de Kyle.

—É, estou. —Ele disse.

Deixei minha mão deslizar do seu ombro e cair ao lado do corpo, a outra permanecendo sobre o balcão. O encarei cética.

—Bom, não parece. —Insisti.

Andrew me olhou nos olhos por alguns segundos e depois levou a mão até a minha, cobrindo-a inteiramente. Fiquei olhando pra nossas mãos juntas, na dúvida se me afastava ou não.

—Amizade inocente, Raven. —Ele tentou me tranquilizar.

Olhei pra trás, me certificando de que Kyle não nos ouvia e depois voltei a encarar nossas mãos juntas. Andrew se aproximou um passo e parou, tentando decidir se continuaria ou não.

Ele não parecia muito bem e já tínhamos concordado em voltar a ser amigos. Era inocente, eu precisava lembrar. E amigos ajudavam um ao outro. Foi por isso que eu passei os braços ao redor de seu pescoço e o abracei. Andrew ficou imóvel por um instante antes de me abraçar de volta. Ele enterrou o rosto em meu pescoço e inspirou profundamente. Fechei os olhos para apreciar aquele abraço tão confortável e sua respiração quente contra minha pele. Eu não sei em qual momento o abraço de Andrew havia se tornado o Meu lugar preferido, mas acontece que era e eu não queria ter que soltá-lo, mas para não cair no erro de fazer Kyle nos pegar daquele jeito que seria difícil conseguir explicar, eu me afastei. Sorri, tentando mostrar que eu estaria ali por ele, como ele esteve por mim durante minha crise de choro no dia anterior.

—Senti falta de ser sua amiga.

Andrew sorriu fracamente e tocou a ponte do Meu nariz com seu indicador.

—Volte para Kyle ou ele vai acabar vindo até aqui.

Concordei com seu pensamento e lhe dei um breve beijo na bochecha antes de me virar e, contente como não me sentia a semanas, me aconchegar nos braços de Kyle.

Sorri sozinha enquanto pensava no quando Andrew era uma completa caixinha de surpresas. Eu nunca saberia o que esperar dele, Andrew foster era um enigma perfeito que eu estava longe de desvendar.

Desejo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora