Dias agradáveis

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Empurrei as lágrimas que teimavam em deslizar por minhas bochechas e olhei para Kyle com uma dor imensa no peito. Ele ajeitou a mochila o ombro e se inclinou para me dar um abraço, ouvindo seu voo chamar pela segunda vez.

—Você vai fazê-lo perder o voo, Raven. —Andrew resmungou atrás de mim.

Ele tinha vindo conosco para poder me levar para a casa depois. Me despedir de Kyle estava sendo uma tarefa muito difícil, mas eu concordava que ele poderia acabar se atrasando, então me afastei e lhe dei um beijo apaixonante, sabendo que seria a última vez por dois meses. Kyle me olhou com um brilho tristonho, como se partir também fosse uma tarefa difícil para ele.

—Eu te amo, minha pequena. Lembre-se disso. —Ele falou, agarrando a mala que havia deixado no chão.

—E eu amo você. —Funguei, vendo ele sorrir e passar o polegar na minha bochecha carinhosamente.

Kyle se virou para Andrew que estava olhando para seus pés, como se não quisesse ver toda aquela cena melancólica a sua frente.

—Eu já pedi isso antes e vou pedir de novo, Andrew. Cuida da minha garota por mim. —Kyle falou, fazendo com que o garoto de cabelos castanho escuros o olhasse com a testa franzida.

—Vou cuidar. —Andrew garantiu.

Apesar de assentir, Kyle o olhou por longos segundos antes de pedir que o acompanhasse até o portão de embargue. Fiquei olhando para os dois enquanto se afastavam o suficiente para que eu não os escutasse. Queria poder ter tido mais tempo com meu namorado antes de ter que ficar longe por tantos dias.

Observei enquanto Kyle falava duramente com Andrew que apenas balançava a cabeça e encarava seus pés. No fim, Kyle sorriu e o abraçou brevemente, se virando para mim e assoprando um beijo antes de seguir para o portão de embargue. Senti minhas bochechas úmidas outra vez, enquanto via Andrew caminhando de volta para mim. Ele passou um dos braços ao redor do meu ombro e me puxou contra ele, caminhando em silêncio ao meu lado em direção a saída.

Andrew não disse nada durante todo o caminho até em casa e eu havia parado de chorar em algum momento até lá também. Desci do carro e caminhei até o portão do prédio, quando Andrew enlaçou seus dedos aos meus. Olhei para seu rosto, procurando algum motivo para aquele gesto inesperado, mas ele apenas sorriu reconfortantemente e deu de ombros.

—Amizade inocente. —Falou.

Decidi que já estávamos próximos o suficiente para não ter um motivo ao qual trocássemos gestos assim além do carinho que tínhamos um pelo outro. Apertei seus dedos suavemente e deixei que ele me guiasse até seu apartamento. Andrew não soltou a minha mão quando entramos em casa, ao contrário, ele nos levou até o sofá e me puxou contra ele. Me aconcheguei em seu abraço, suspirando.

—Posso saber qual o motivo disso? —Perguntei, de olhos fechados enquanto apreciava aquilo.

—Estou fazendo o que prometi a Kyle agora pouco. Vou cuidar de você.

Eu não tinha certeza se no fundo isso era algo inteligente a se fazer, uma vez que Andrew e eu estávamos sozinhos agora até que Kyle estivesse de volta, mas eu também não ia reclamar de todos aqueles carinhos sem um motivo aparente. Andrew tinha um abraço quente e confortável e eu estava completamente envolvida nisso, então decidi que aceitaria todos os gestos de carinho que ele tinha a me oferecer. Eram muito melhores do que toda a sua arrogância de dias atrás.

Em algum momento enquanto eu estava aconchegada feliz nos braços de Andrew, acabei caindo no sono. Acordei com ele se movendo levemente para fora do sofá e me deitando sobre uma almofada felpuda.

—Oi. —Falou, baixo —Eu não quis acordar você.

Esfreguei os olhos e encarei seu rosto tão próximo.

—Que horas são? —Perguntei, preocupada com meu horário no trabalho.

—Ainda cedo. Você tem um tempo antes de ter que ir.

Inspirei profundamente, encarando o rosto pacífico de Andrew. Ele tinha uma mecha selvagem solta na frente do olhos que eu não contive a vontade de afasta-la. Acabei deslizando a palma da mão levemente em seu rosto. Andrew fechou os olhos, apreciando o carinho e eu acabei me prendendo muito tempo em seu rosto, observando o quanto ele era bonito e fazia meu coração acelerar. Percebi que isso era muito mais íntimo do que eu poderia ter com ele, decidindo que me afastar um pouco ia ajudar meu cérebro a pensar em outra coisa que não fosse seus olhos ou seus lábios carnudos.

Me levantei, engolindo em seco e pronta para ficar o mais longe possível dele por um momento. Era tudo o que eu precisava agora.

Na verdade, os dias na semana foram todos assim. Andrew voltou a me dar carona e a me buscar no trabalho, também prometeu que estaria comigo no meu primeiro dia na faculdade, já que Kyle não estaria. Eu sempre ficava feliz com os carinhos que recebia dele, enquanto estava preparando o almoço e ele me abraçava apertado antes de se sentar perto e começar a falar de alguma coisa aleatória, ou quando eu acordava para o café da manhã e ele segurava a minha mão tranquilamente enquanto nos olhávamos em silêncio. Meus dias se tornaram agradavelmente iguais e eu quase nunca saía do controle por tê-lo muito perto. Ele também parecia impor limites dos quais não discutia comigo, era como se precisasse colocar uma barreira quase imperceptível para que nenhum de nós acabássemos saindo dos trilhos.

Apesar de ter passado apenas uma semana, eu estava tão envolvida com Andrew que eu já tinha parado de sentir tanto a falta de Kyle. Ele me ligava sempre que podia e conversávamos durante horas no telefone, mas uma ansiedade imensa se apossava de mim quando eu notava que Andrew estava por perto e eu acabava me despedindo para me aconchegar em seus braços no sofá.

Era domingo a noite quando Andrew entrou na cozinha, depois de eu lavar as louças do jantar, e me abraçou enquanto eu estava de costas. Sorri, empurrando o cotovelo em suas costelas e me virei para ele.

Andrew estava arrumado, usava minha camisa de botões preferida e suas calças pretas apertadas, além das botas de sempre. Seu cabelo estava impecavelmente bagunçado e selvagem e ele tinha um cheiro delicioso que me fez encara-lo com um sorriso.

—Está de saída?

—Estamos.

Olhei para ele com a testa franzida.

—São nove da noite, Andrew.

—Sim, e estamos saindo. —Ele deu de ombros.

Sorri abertamente me recostando contra a pia.

—E onde é que nós vamos?

Ele deu de ombros outra vez.

—Uma coisa que eu e os garotos costumamos fazer as vezes.

Olhei para ele um pouco decepcionada, sabendo que não estaríamos sozinhos.

—Ah.

Andrew juntou as sobrancelhas e se aproximou.

—O que foi?

Decidi que não iria ser tão egoísta a ponto de querer ter meu amigo só pra mim o tempo todo, então balancei a cabeça.

—Não é nada. Estou pronta para ir.

Desejo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora