Noite de Jantar

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O dia passou demasiadamente rápido. Não vi mais Andrew desde o nosso pequeno diálogo na cozinha e finalmente encontrei algo de bom em um canal aberto da Tv, o que me prendeu por boa parte do dia. A outra parte passei lavando as poucas vasilhas na pia e ajeitando meu quarto, até receber uma ligação de Kyle e, um pouco receosa pela briga de mais cedo, atender. 

Não contive o sorriso quando ele me disse que a reserva para essa noite estava feita. 

Já a noite eu saía do banho quando Andrew apareceu. Me arrependi amargamente por não ter levado as minhas roupas para o banheiro, porque estar apenas em uma toalha fina e curta me deixou em constante constrangimento. Ele, por outro lado, pareceu se divertir com meu rubor.

—Eu não sabia que você estava de volta. —Balbuciei, inevitavelmente gaguejando entre as palavras.

—Não precisa ficar sem graça, não estou olhando. —Ele respondeu, um meio sorriso absurdamente charmoso no rosto.

Eu detectei a mentira deslavada automaticamente na hora. Primeiro, porque tudo o que Andrew fazia era me encarar de cima a baixo. E depois, porque seu tom de sarcasmo era evidente. Senti meu rosto queimar e me virei, empurrando a porta do meu quarto que era exatamente de frente para o seu.

—Então até mais... —Falei, empurrando meu corpo idiota para dentro do quarto e recostando na porta.

Bati a mão na testa em repreensão. Como eu posso ser tão burra? Eu tinha que me lembrar sempre que não era mais só eu e Kyle, agora tinha seu melhor amigo bonito, charmoso e incrivelmente tentador conosco. Precisava manter isso sempre em mente.

Eu já tinha deslizado o vestido preto de uma alça só ao corpo quando alguém abriu a porta. Sorri instantaneamente ao ver Kyle voltar a fecha-la e caminhar até a mim. Eu estendi os braços para ele e me aconcheguei em seu peito.

—Desculpe. —Falei, me referindo a pequena discussão de mais cedo.

Eu não gostava de brigar com ele, acabava com o meu humor em todos os aspectos e eu me sentia sempre mais sozinha do que geralmente estava. E kyle, de todo modo, não estava errado. Eu entendia que ele precisava mesmo se focar no emprego, já que ainda era apenas um estagiário e era a primeira vez que algo de bom acontecia desde muito tempo. As coisas estavam começando a nadar em nosso favor e eu apreciava muito sua capacidade de trabalhar tanto para construir algo comigo. Por nós. Por mim.

—Eu que tenho que me desculpar, amor. Não posso simplesmente te trazer até aqui e esperar que se adapte sozinha a tudo isso. É meu dever segurar na sua mão e cuidar de você.

Kyle beijou o topo da minha cabeça e me puxou mais apertado contra si.

—Vou ser melhor, Raven. Prometo.

Apertei os olhos e suspirei. 

—Eu te amo tanto, Kyle.

—Eu também te amo, minha princesa.

Sorri quando ele se afastou para deixar um beijo casto em meus lábios. O calor do seu corpo, o perfume que emanava dele, o toque sensível que acariciava a minha pele era muito mais do que um dia eu pensei que teria. Kyle Price era o amor da minha vida e cada dia que se passava, eu só conseguia ama-lo mais.

—A gente vai se atrasar. —Eu disse, quando ele começou a me beijar mais demorado. 

—Temos mais de uma hora ainda. —Retrucou, deslizando as mãos pela minha cintura.

Me afastei um pouco para encarar seus olhos brilhantes. Kyle tinha puro desejo estampado em seu rosto bonito e juvenil. 

Kyle se inclinou outra vez, dessa vez me empurrando um pouco em direção a cama. Ele beijou de leve a pele sensível atrás da minha orelha e deslizou uma mão no interior da minha coxa, suspendendo um pouco o vestido. Suspirei, já sentindo meu coração acelerado e a respiração pesar.

—Não consigo me afastar. —Eu disse entre beijos.

—Hmm... eu não quero que você faça isso.

Senti a cama atrás de mim e lentamente Kyle me deitou sobre ela. Ele tirou a camisa social e desabotoou a calça, antes de voltar a me beijar.

—Você tá cheirosa. —Ele disse, me fazendo rir.

Sua língua invadiu minha boca antes mesmo que eu me desse conta de que seu membro já estava livre das roupas. Mordi o lábio quando ele afastou meu cabelo e mordiscou meu pescoço antes de me acariciar e, só por alguns momentos, eu tive que me lembrar de que as paredes eram muito finas.

***

O jantar, por sua vez não poderia ter sido mais perfeito. Desde a escolha do restaurante até o pequeno passeio aos arredores da cidade, onde Kyle me mostrou alguns lugares que ele costumava frequentar antes de se mudar. Foi tudo tão perfeito que eu nem cheguei a notar quando já tinha passado de mia noite. Eu não queria ir embora, queria continuar com ele e ficar ali, aconchegada em seus braços enquanto encarávamos o céu estrelado. Mas Kyle tinha que dormir, ele acordava muito cedo e se não se deitasse logo acabaria com uma baita dor de cabeça durante todo o dia.

Foi por isso que eu tentei não demonstrar quando entramos no carro e ele dirigiu de volta para casa. Ao invés de demonstrar estar chateada, eu sorri e me virei para ele que tinha seus olhos castanhos fixos na estrada.

—Você não me disse que Andrew cantava.

Kyle tirou os olhos da estrada por um momento e me encarou, curioso. Depois tirou uma das mãos do volante e a apoiou em meu joellho.

—Ele cantou pra você ouvir? —Perguntou.

—Não. Ele entrou no assunto quando me levou para conhecer o Campus e... bem, ele tinha uma banda.

—É. The Dudes. Eles eram realmente bons, se apresentavam toda semana no Bart. —Kyle sorriu, provavelmente se lembrando da época —Você tinha que ver como aqueles doidos arrastavam as pessoas. —Kyle tirou a mão do meu joelho e gesticulou, rindo —E as garotas, nossa! Elas caiam matando! 

Sorri, imaginando como deviam ter feito sucesso na época em que tocavam.

—E porque eles pararam, então?

Ele me olhou outra vez rapidamente e então virou em uma esquina.

—O And não disse? -Kyle pareceu surpreso quando neguei, então ele respirou fundo —Ele sempre teve uma relação difícil com a família. O pai sempre batia nele, por qualquer motivo.

—E a mãe dele? Irmãos...?

—Andrew é filho único... bom, ele era.

—O que houve?

Kyle parou em um sinal vermelho e me olhou. Seus olhos brilhantes e de repente tristonhos.

—O pai dele teve um infarto na mesma noite em que a mãe levou um tiro em um assalto perto do Bart, o bar onde eles estavam se apresentando. —Kyle suspirou e voltou a dirigir —Foi a última vez que ele cantou. Os caras da banda até tentaram seguir sozinhos, mas o Cain não é um vocalista muito... bom, ele não é como Andrew e acabaram tendo que parar.

Senti uma pontada de tristeza no peito, imaginando o inferno em que Andrew Foster deve ter passado. Eu entendia como era perder alguém, eu sei como era a dor e a sensação de achar que está sozinho. Eu o entendia... Mas então, algo que Kyle disse sobre ele nunca mais ter se apresentado chamou minha atenção e eu o olhei quando estacionou em frente a casa.

—Você disse que ele nunca mais cantou. —Falei.

—É. Eu acho que ele deve ter se punido ou... eu não sei. Nunca mais ouvimos falar nos The Dudes.

—Tá, mas então porque eles vão se apresentar no fim de semana em uma discoteca no centro?

Kyle girou a chave desligando o carro e me olhou um pouco surpreso.

—Ele disse isso?

—Sim. Disse que a gente devia ir.

Kyle sorriu e abriu a porta.

—Parece que as coisas mudaram, então.

Desejo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora