5 - Uma proposta

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Laísa saltou da cama logo nas primeiras horas do amanhecer

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Laísa saltou da cama logo nas primeiras horas do amanhecer.

Tomou um banho rápido, vestiu um short jeans e uma camiseta básica, passou dar um beijo de bom dia em tia Marta — que parecia mais lúcida ao reconhecê-la — e desceu para tomar o café da manhã. Pelas grandes e límpidas janelas, viu a chuva fina que caía pelo jardim.

— Agora sim — disse enquanto entrava na cozinha. — Essa é a terra da garoa que eu me lembro.

— Prefiro o sol — Marcos resmungou, os olhos sonolentos. — Dias assim só servem para ficar dormindo até mais tarde.

Laísa se serviu de café e deu um primeiro gole, estudando-o por cima da borda da caneca, imagens da noite anterior enchendo sua cabeça. Ele não havia se barbeado ou escovado a massa escura de cabelos, as mangas da camisa social dobradas até a altura do cotovelo. Ainda era mal-humorado de manhã, como o menino que conhecera vinte anos atrás, mas nada disso o tornava menos atraente.

Ela piscou, surpresa com o próprio pensamento.

— Sua mãe está melhor hoje — Laísa falou, a voz estranhamente rouca, quase constrangida. — Até me reconheceu e me perguntou sobre a minha mãe. Hoje dobrarei a teimosia dela e colocarei enfermeiros nessa casa, e nem mesmo dona Marta conseguirá espantá-los. Também li alguns artigos sobre a doença dela, ensinando estímulos para deixá-la mais lúcida.

Marcos riu, recostando-se contra a bancada de granito. Uma névoa fumegante subia de sua xícara de café.

— Nem tenho como te agradecer por toda essa ajuda, a ponto de você deixar sua cidade e sua vida para vir até aqui.

Laísa encolheu os ombros.

Uma vida que estava desmoronando.

Tentou disfarçar a onda de tristeza com um sorriso ameno, mas os olhos de Marcos eram ágeis, desmembradores, e ela quase se sentiu completamente despida de cada máscara que vestia.

— Sinto muito pelo seu noivo... — ele falou, baixo demais para seu tom sempre grave e imponente. — E por tudo o que você passou.

Ela inspirou fundo e encarou o café.

— Nunca esperamos que isso vá acontecer com a gente, sabe?

— Ele...

— Pode perguntar, Marcos. Todo mundo me pergunta.

— É verdade que ele tirou a própria vida?

O silêncio espiralou entre eles, cadenciado pelo gotejar da chuva contra as janelas.

Laísa bloqueou a sequência de imagens borradas que a atravessaram ao ser tragada no tempo, onde as luzes das sirenes se refletiam contra a familiar portaria de um prédio.

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