(Recomendo que leiam essa parte do capítulo ouvindo à "Dancetale Toriel (Waltzache)" no youtube!)
Nosso arredor se tornou preto e branco e uma música começou a tocar. Será uma melodia melancólica porém forte. Ela irradiava toda a dor de Toriel, seu coração partido, e tudo que ela guardava pra si. Era composta por uma orquestra, e senti que estávamos em um salão de valsa.
Toriel então pegou em minha mão e me conduziu numa dança conforme a melodia, ela olhava em meus olhos, numa mistura de tristeza e determinação.
Ela então me soltou e eu presumi que ela faria seu ataque. Muitas bolas de fogo vieram até minha direção, porém consegui desviar delas, entre piruetas e saltos.
Eu sabia que não conseguiria vencer essa dança se não fosse ao estilo da dança de meu oponente. Só precisava ter certeza que eu não a machucaria, e vice-versa.
Em um giro, voltei a segurar a mão de Toriel. Tentava a fazer me ouvir, queria que ela parasse e conversássemos.
-Tori! Olha pra mim! -mas agora ela olhava desfocado para algo atrás de mim.
Notei que estávamos na frente do portão. Toriel então soltou minha mão mais uma fez, e eu parei longe. Mais ataques de bolas de fogo vinham da frente, e consegui as desviar, acabei não percebendo as que vinham de trás, e levei 3 ataques.
O fogo era mágico, não tinha muito a sensação de queimadura normal, mas ainda sim era horrível, e meu hp agora estava 17/20.
Me recompus, e era minha vez de agir. Os quatro botões apareceram na minha frente: Lutar, Agir, Item, e Piedade. Obviamente apertei para poupa-la.
Infelizmente não pareceu ter surgido muito efeito, pois ela ficou calada. Voltamos a nossa dança. Estava cada vez mais difícil de acompanhar seus passos, ela fazia uns movimentos complicados, e eu não sabia como seguir esses movimentos, pois nunca tinha dançado valsa antes.
Foi quando me lembrei de quando a via dançar, na sala. Seu vestido grande rodopiava pelo lugar, e ela sempre parecia estar segurado nos braços de alguém mais alto, como um parceiro conhecido. Sempre com um sorriso no rosto, ela ia de lá pra cá, seus pés acompanhando a batida de 1-2-3 1-2-3.
Aquilo me ajudou, e conforme a música ia ficando mais tensa, e mais ataques vinham a minha direção, eu desviava com rodopios e deslizes baixos, sempre acompanhados de um clique no botão de piedade, se possível.
Ao nos juntar na dança novamente, Toriel parecia tão cansada, e apesar de não mostrar, ou pelo menos tentar não mostrar que estava abalada, dava pra ver que lá dentro ela queria que isso acabasse tanto quanto eu.
Eu tinha levado alguns outros poucos ataques, meu hp estava 11/20, mas continuei dançando. Toriel me girava, e aos poucos vi um sorriso formar em seu rosto, e a batalha tinha virado, aos poucos, uma dança familiar. Nossas almas emergiram e continuam uma aura boa. Nossa compatibilidade era alta.
Toriel então parou de tentar me atacar, e cada vez mais eu ia apertando meu botão de piedade. Até que chegou uma hora em que ela decidiu parar de dançar, e delicadamente me soltou de seus braços.
-O que eu estou fazendo... -ela estava de costas para mim, e sua voz estava embargada.- eu... isso não é certo. -ela se virou para mim.
Veio até mim, lentamente, e eu a olhava. As cores do corredor voltavam, aos poucos.
-Você não é mais uma criança indefesa... já é uma adulta responsável, e se mostrou tão forte nessa dança... -ela enxugou os olhos que se enchiam de lágrimas.- Não posso ficar te contendo aqui dentro. Depois de um tempo, as ruínas vão se tornando pequenas e não poderia deixar que esse fosse o jeito que você viveria o resto de sua vida.
Ela pegou em minhas mãos, e sorriu, apesar da tristeza evidente.
-Promete se cuidar lá fora?
-Eu prometo, mãe.
Ao ouvir isso, ela me abraçou fortemente, e senti meu ombro ficar úmido com suas lágrimas. Acabei chorando também, pois depois de tanto tempo, eu havia criado um afeto enorme por Toriel. Depois de tanto tempo na superfície, sem ter ninguém pra realmente chamar de família, aquilo tudo era novo e maravilhoso pra mim. Conhecer Toriel e os monstros das ruínas me deu mais um motivo para querer liberta-los. Eu queria que tivessem agora a oportunidade de serem felizes como me fizeram no tempo que passei aqui.
-Ei -nos afastamos do abraço, e enxuguei as lágrimas de Toriel.- não é a última vez que nos veremos, tudo bem?
Beijei sua testa e sorri mais uma vez.
-Eu só tenho a agradecer pelo seu carinho e amor. Você me fez sentir que pertencia a algum lugar. Muito obrigada, mesmo.
-Oh, Frisk... -ela arrumou meu cabelo bagunçado, contendo algumas lágrimas. -te vejo em breve, minha pequena.
Ela se recompôs.
-Que sua jornada seja gratificante e que possa fazer muitos amigos. Mas não se esqueça dos perigos. Sua alma é boa, e sei que vai transformar a vida de muitos. Obrigada por me fazer tão boa companhia nesse tempo, mas agora, temo que seja sua hora de partir.
Assenti, e tirei meu telefone do inventário, mostrando pra ela.
-Ainda vou te ligar -ri de leve- você não se livrou de mim ainda.
Ela riu também, e começou a andar pra dentro novamente.
-Frisk -ela se virou pra mim.- assim que sair desse portão, não poderá mais voltar. Então... tome cuidado, está bem?
Assenti novamente.
-Até logo, Tori.
-Até logo, minha pequena.
Ela voltou para dentro, sumindo na escuridão do corredor. Meu coração estava acelerado, minhas pernas tremiam de cansaço, e meu rosto ardia, mas eu não podia parar agora.
Abri o portão, e nele veio um clarão. Ao atravessar a porta, ouvi-la bater atrás de mim, e me encontrei em uma sala totalmente preta. Olhei para frente e vi mais uma luz apontando para um matinho sem nada.
-Ah nem... -eu já sabia o que estava vindo.
Uma florzinha brotou daquele matinho e sorria para mim.
-Olha olha, se não é a pequena bailarina Frisk -ele sorria sarcástico.- olha seu estado! Aquela batalha acabou com você
-Ainda sim tô melhor que você.
-Gosta de piadas, não? -ele deu uma risadinha.- mas sabe o que é uma boa piada? Sua jornada. Quando vi que você queria sair das ruínas, aí caramba, deve ter sido a pior decisão da sua vida!
Mantive uma expressão neutra.
-Nossa! Okay okay, já vi que você não está pra conversa, porém devo-lhe avisar de uma coisa. Poupar os monstros não fará de você uma salvação, Frisk. Você pode ter poupado muitas vidas aqui, mas o que acontecerá quando encarar um monstro assassino? Um monstro que não estará nem aí pra sua vidinha inútil? O que fará? Matará por vingança? Fúria? Tédio?
Ele analisou meu rosto.
-Pense nisso, Frisk. Você ainda tem muito para conhecer sim, mas não esqueça de quem é mais forte nessa sala. Não me subestime por ser apenas uma flor, pois do mesmo que eu não conheço tanto sobre você, você com certeza não conhece sobre mim. Mantenha sua guarda alta, nem sempre esperamos por um ataque vindo de trás, não é?
Ele então entrou debaixo da terra, e fiquei sozinha na sala. Minha respiração estava ofegante, ainda com minha expressão neutra, que por sinal se desfizera com a tensão.
Será que... Flowey estava certo? Não. Eu não iria erguer um dedo para machucar alguém aqui. Que eu morresse lutando então.
Atravessei a sala e encontrei um portão emergindo da escuridão. O atravessei e mais uma vez um clarão me cegou.
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Dancetale - Uma dança para lembrar
FantasyEm um lugar onde a prática e o hobbie da dança fora banida e proibida da superfície depois da grande guerra entre as duas raças dominantes, agora o mundo humano, resta à nossa bailarina Frisk trazer essa magia de volta e libertar a raça dos monstros...