Capítulo 2.

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"Olha só! É a pequena bailarina!" dizia um garoto com seu grupo, jogando bola de papel em mim enquanto riam.

"Não tem nada melhor pra fazer, não? Sabe que dançar é pra criminosos!"

Eu apenas ignorava. Todo dia era a mesma coisa. Meus pais me acordavam, eu me arrumava, ia pra escola, era zoada por minha paixão, voltava pra casa e desejava para as estrelas que as coisas mudassem. Meus pais queriam que eu seguisse uma carreira que pudesse manter minha mente ocupada para não me preocupar com a dança.

Medicina, advocacia, contadora, qualquer coisa que não mencionasse o mínimo sequer daquilo. Eles achavam que isso era apenas um interesse bobo de uma criança.

Particularmente, eu nunca me importei muito com o que diziam. Nunca me desanimou. Eu estava determinada a poder seguir meu sonho.

Os anos passaram, eu fui fazer estágio em um lugar aí onde eu não tinha o mínimo de interesse, e consegui meu dinheiro pra alugar um apartamento pequeno, porém bom o bastante. Todas as noites, depois de um dia cansativo, eu ligava minha música e me conectava com a melodia.

Aquela era a parte do dia que me fazia me sentir o melhor possível. Meus vizinhos nunca reclamaram do barulho, ou nada. Porém, aquilo que acontecera havia sido a pior coincidência do mundo.

Agora, eu estava... onde eu estava?

Meu corpo inteirinho doía. Minha pernas estavam duras e doloridas, meus joelhos e mãos raladas. Minhas roupas sujas e meu cabelo bem bagunçado. Eu nunca fora de manter meus olhos abertos, mas mesmo se eu tentasse, o cansaço me mantinha incapaz de abri-los. Fiquei deitada aonde quer que eu estivesse, e tentei recuperar minhas forças.

Assim que minha cabeça parou de rodar um pouco, levantei meu tronco, me sentando. Meu olhar percorreu o cenário, eu estava em uma caverna, em cima de muitas flores douradas e macias, porém as amassei ao cair. Aquilo me entristeceu um pouco, pois eram tão lindas.

Tentei me levantar, e com as pernas meio bambas, eu consegui andar pra fora das flores. Analisando melhor o local, tinham alguns pilares, muitas vinhas e raizes pelas paredes. Ergui minha cabeça e vi de onde tinha caído. Era uma descida e tanta. Imaginei como que não tinha morrido.

Encontrei um corredor de teto alto, e escuro pelo caminho. Pensei em ficar por lá, por segurança. Eu sabia onde tinha caído, era prisão dos monstros, mas o que poderia acontecer se eu ficasse? Ou se eu seguisse?

Não tive muita opção, eu segui pelo corredor, deixando a câmara das flores douradas.

Era um corredor gelado e bem escuro. Tive medo de tombar com teias de aranha ou algum monstro. Graças a Deus não encontrei nenhum deles... não até eu chegar no final da passagem.

Entrei na passagem e a próxima câmara era escura também, porém algo iluminado no chão mostrava um pequeno montinho de grama e uma flor. Uma flor de pétalas amarelas e um rosto?

-Howdy! -a flor disse, com um sorriso.

Uma música começou a tocar de fundo, uma música inocente e de 8-bit, estilo vídeo game.

-Sou o Flowey, Flowey a flor!

Não sabia como reagir àquilo. Era uma flor falante.

A flor esperou uma resposta minha, pois eu fiquei em silêncio.

-Bom, vejo que é um humano, certo? Não parece uma criança, como as demais que caíram antes.

-Não sou uma criança.

Ele riu.

-Certamente não é.

Tentei não demonstrar um pouquinho de medo. Não que eu estivesse com medo, mas bem tensa. Não sabia se ele iria me machucar.

Dancetale - Uma dança para lembrar Onde histórias criam vida. Descubra agora