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Seul, 15 de junho de 2098 - 09:55 a.m.
Os dedos inquietos tamborilavam na mesa de vidro; ouvia o burburinho de conversas paralelas ao redor, mas não prestava muita atenção nisso. Seus pensamentos, inquietos como os próprios dedos, vagavam em combinações numéricas capazes de corromper e invadir um sistema software de última geração. Suspirou, atraindo olhares sobre si.
– Está tudo bem? – Kangmin, sentado na mesa ao lado, perguntou.
Estavam na aula de Cálculo avançado, uma das poucas aulas que Yeonho frequentou durante a semana.
Olhou para o amigo, vendo o semblante preocupado em seu rosto.
– Está sim, eu só… – pela vidraça das janelas do auditório, pôde ver um veículo da polícia chegando no estacionamento. Instantâneamente, seu sangue correu rápido nas veias.
– Só…?! – os olhinhos atentos do mais novo suplicavam uma resposta.
Yeonho segurou com firmeza os ombros do amigo.
– Kangmin, me escuta, se alguém te perguntar sobre nossa amizade, diga que somos apenas colegas de turma, nada além disso, está bem? – Kangmin franziu ainda mais o cenho. – Está bem? – Yeonho insistiu.
O mais novo concordou com um menear de sua cabeça; queria perguntar ao mais velho o motivo de seu aparente desespero, mas não teve tempo, pois este já havia arrumado as coisas na mochila e saído da sala de aula.
Pelos corredores, Yeonho andava apressado e de cabeça baixa. Ouviu alguns murmúrios dos estudantes que passavam pelo mesmo corredor sobre agentes do governo estarem fazendo uma vistoria no campus. Estavam à procura de algo, ou alguém em específico.
Saiu pelo portão principal. Havia três veículos blindados no estacionamento e, em um deles, dois policiais permaneciam encostados na lataria, observando os estudantes que passavam.
Yeonho petrificou. Tinha medo de caminhar naquela direção e passar pelos agentes e sua feição indubitavelmente suspeita acabar lhe entregando. Deu meia-volta, no entanto, outros agentes vinham em direção ao portão.
"É o meu fim" pensou, tombando a cabeça.
Sentiu a vibração de seu smartphone no bolso da calça, anunciando uma ligação. Rapidamente o tirou do bolso e o levou à orelha, aceitando a chamada.
"Ouça, não temos muito tempo. Quero que vá para o outro lado da rua e vire à esquerda, depois siga reto. Irá encontrar uma livraria. Entre nela"
Yeonho ouviu a voz de Minchan. Enfiou o smartphone no bolso e andou apressado até a calçada, atravessou a rua e dobrou a primeira esquina que viu pela frente.
Começou a correr.
Não ousou olhar para trás. Seu corpo projetava apenas o percurso pela frente.
Avistou uma livraria com a fachada de madeira. Era um lugar bastante antigo, pois todas as livrarias da capital se tornaram lojas virtuais desde os últimos dez anos.
Teve seu braço puxado de modo abrupto assim que passou pela porta.
– Me dê seu smartphone – Minchan disse.
Yeonho não pensou muito, apenas entregou o aparelho ao mais velho, vendo-o atirá-lo com força contra o chão da livraria.
– O quê?! – Yeonho via os estilhaços de seu smartphone espalhados por todo o piso.
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Além da Barreira
Science FictionA realidade, tal qual Kim Yongseung a conhece, não passa de um software de última geração capaz de decodificar estímulos psíquicos; já a realidade de Ju Yeonho se trata de um futuro distópico, onde um ser humano criado em laboratório tem sua vida ex...