Não há linhas aqui, era tudo hipocrisia lá
Seul, 19 de junho de 2098 - 16:00 p.m.
— Nós voltaremos antes do jantar. — Minchan disse, acenando na porta. Colocou o capuz, Gyehyeon fez o mesmo, e juntos saíram pelo corredor, tentando desviar dos repórteres até a saída do prédio.
Yeonho não pôde ir à aula, Kangmin foi em seu lugar, mas àquela altura, sabia que reprovaria por falta. Talvez há um mês isso significasse o fim do mundo, mas agora a única coisa que realmente lhe preocupava era a segurança de seus amigos.
Respirou fundo, atraindo a atenção de Yongseung, sentado no sofá, rolando o dedo sobre a tela do smartphone de Yeonho na tentativa de esquecer as dores em seu corpo.
— Você só tem livros de engenharia? — perguntou, buscando a atenção do outro.
Parado no canto da sala, Yeonho sorriu fraco, assentindo.
— Nenhum romance policial, ficção científica ou suspense? — ele entortou os lábios.
— Não. Apenas números, fórmulas e regras.
Yongseung suspirou.
— Está entediado? — Yeonho rapidamente se aproximou do sofá. — Podemos ver um pouco de TV — ligou o aparelho televisivo, mas o desligou em seguida, ao ver o rosto de Yongseung estampado na manchete do jornal da tarde. — Podemos… — olhou para o mais novo, nervoso. Ele o olhava de volta. — Podemos pintar seu cabelo.
A caixa de tinta castanho médio que repousava no banheiro esperando o dia em que Yeonho decidisse abandonar o tom azulado de seus cabelos ganhou um novo destino. Sentado na borda da banheira, cuidadosamente Yongseung teve seus cabelos tingidos.
Com uma toalha em volta dos ombros, tremendo um pouco de frio e sentindo o cheiro da tinta dominar o ambiente, Yongseung perguntou para Yeonho:
— O que te fez querer cursar Engenharia?
Yeonho, concentrado em não manchar a testa do garoto sentado em sua frente, não pensou muito, apenas respondeu o que primeiro lhe veio à mente:
— É a única coisa que sei fazer.
Yongseung pensou, repensou, tremeu devido ao frio causado por seus cabelos úmidos, e pensou novamente.
— A única coisa que sei fazer é dançar — disse.
Yeonho parou e olhou para baixo, para o rosto pensativo que fitava o chão cinza do banheiro.
— Então dance, Yongseung! Faça aquilo que gosta! — sorriu, vendo um tímido sorriso no canto dos lábios pálidos de Yongseung. Notou então que sua palidez era anormal.
Largou o vaso e o pincel sujos de tinta na pia e tocou o rosto do Kim com as duas mãos. Suas bochechas estavam frias. Extremamente frias.
Correu até a cozinha e pegou um dos remédios que Minchan havia deixado para situações como aquela, encheu um copo d'água e voltou ao banheiro.
— Aqui, beba por favor — disse, entregando uma cápsula do regulador térmico e o copo com água para o jovem encolhido sob a toalha.
Partia-lhe o coração ver Kim Yongseung tão abatido. Sempre o observara tão vivaz, saudável, com um tom rosa bonito nos lábios e bochechas, e um brilho esperançoso nos olhos castanhos. Certamente era tudo mentira, e saber disso doía ainda mais.
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Além da Barreira
Science FictionA realidade, tal qual Kim Yongseung a conhece, não passa de um software de última geração capaz de decodificar estímulos psíquicos; já a realidade de Ju Yeonho se trata de um futuro distópico, onde um ser humano criado em laboratório tem sua vida ex...