Capítulo 7

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Como lutamos contra a arma daquele que está mirando?

Seul, 18 de Junho de 2098 - 08:12 a.m.

Yeonho acordou como se estivesse segurando o fôlego há bastante tempo. A visão turva e o coração acelerado, sentia o estômago revirar em náusea, como se tivesse feito um longo e agitado passeio de barco. Aos poucos foi recobrando os sentidos, e se lembrou de onde estava.

Minchan e Gyehyeon observaram-no, postos ao lado da cama onde ele estava deitado.

– Como se sente? – Minchan quebrou o silêncio, atraindo os olhos avermelhados de Yeonho.

Ele tentou levantar, mas estava fraco demais. O ajudaram a se sentar, apoiando suas costas em uma pilha de travesseiros.

– Foi você que nos tirou de lá? – Yeonho perguntou a Gyehyeon, recebendo um aceno como resposta.

– A exatos quatro segundos para a reinicialização do sistema – disse Minchan. – Foi por pouco.

Yeonho suspirou aliviado. Imaginava que se o software se reiniciasse, a consciência de Yongseung se perderia em qualquer combinação binária do disco rígido do computador central do Laboratório's Rosa, e nunca mais poderia ser restaurado e trazido à vida real. No entanto, não imaginava que, se Gyehyeon não os tivesse resgatado antes que a contagem regressiva chegasse a zero, ele também jamais conseguiria voltar.

– Onde ele está? – Yeonho pisou o pé direito no chão frio, sentindo seus nervos se alongarem.

O televisor ligado no canto do esconderijo cochichava as últimas notícias caóticas que abalaram todo o planeta: Kim Yongseung não estava mais na Cidade das Rosas.

– Estão com ele. – Minchan cerrou o maxilar.

– Temos que tirá-lo de lá.

– Sim, temos. Mas você precisa se recuperar primeiro. – Gyehyeon tocou o ombro do mais novo e foi em direção à cozinha improvisada na sala ao lado.

– Ele gosta de você... – disse Minchan, sorrindo, acompanhando os passos do ruivo, que agora apanhava um pacote de macarrão instantâneo na despensa – ele raramente gosta de alguém.

Yeonho sorriu fraco, mas seu semblante se tornou preocupado, ao lembrar dos códigos numéricos que não conseguiu encontrar dentro da matrix.

– E os outros códigos, quem são? Eu não pude encontrá-los.

– De fato – Minchan suspirou – isso é um grande problema. Não sabemos quem são, só que seja lá quem forem, continuam presos naquele maldito laboratório.

Gyehyeon chegou com um prato de macarrão e alguns bolinhos de arroz e os entregou para Yeonho.

[...]

Na sede do Laboratório's Rosa, a imprensa faltava roer as paredes de vidro do lado de fora, tentando descobrir novas informações. Do lado de dentro, uma confusão jamais imaginada se instalava em todos os andares do enorme edifício, contudo, os cientistas e a diretora da corporação mantinham a calma.

Kim Minju verificava os sinais vitais pelo telão, analisando minuciosamente cada número nos gráficos em sua frente.

– Uma dose de digoxina e duas de ceftriaxona – ordenou ela, pegando sua prancheta, indo em direção ao quarto onde Yongseung repousava.

Ao Yongseung acordar, não demorou para que o sedassem novamente, primeiro porque queriam levá-lo de volta à matrix o mais rápido possível, e segundo porque ele havia passado toda a sua vida sedado, seu corpo não era capaz de ficar um minuto sequer sem aquelas substâncias químicas.

Agora ele dormia pesado, desconectado dos cabos do aparelho psíquico-cognitivo.

– O presidente marcou uma reunião às 10:30h – informou a secretária.

A cientista apenas assentiu, observando Yongseung com seus olhos afiados.

– O que vamos fazer com os jornalistas lá fora? O pessoal da DHJ Notícias está exigindo um esclarecimento.

Kim Minju soltou um riso sarcástico. Se aproximou do equipo para soro e regulou a dosagem.

– Isso é o que menos me preocupa. Já encontraram aqueles moleques? – Inquiriu a cientista.

– Não, senhora.

– Pois tratem de encontrar, antes que eles venham até ele – resvalou o olhar sobre Yongseung, e saiu da sala, indo para o escritório.

[...]

– Precisamos de um plano – Yeonho gesticulou, andando pela penumbra da sala, atônito.

Minchan e Gyehyeon assistiam o caminhar inquietante do mais novo.

– O que precisamos fazer é desmascarar de vez o Laboratório's Rosa na frente da mídia. Arrancar de uma só vez o band-aid e revelar a ferida que há debaixo dele.

– E como faremos isso, Gye? – Perguntou Minchan.

O smartphone de Yeonho, ligado após vários dias sem conexão, acendeu a tela, mostrando um ícone de mensagem. Era Kangmin, desesperado por notícias.

– Tive uma ideia! – Yeonho parou de andar e apanhou o aparelho smartphone.

[...]

Kangmin não entendeu muito bem as últimas mensagens do melhor amigo, só sabia que deveria encontrá-lo em frente a sede do Laboratório's Rosa, na tarde daquela quarta-feira nublada.

Chegou dez minutos adiantado, e deu de cara com a multidão de repórteres na calçada do edifício. Tinha acompanhado as notícias sobre O mundo de Kim, mas também não tinha entendido muita coisa, além de ver seu amigo de escola e colega de faculdade dentro do programa, tentando tirar Kim Yongseung de lá. Foi um susto imenso, mas Kangmin já imaginava que Yeonho não era a favor do sensacionalismo envolto na vida do rapaz criado em laboratório.

Havia um grupo de pessoas se formando no meio da rua, de frente para o edifício. Segurando cartazes com frases como "Libertem-no agora!" e "A vida é dele, e não do Laboratório's Rosa", escritas com letras coloridas e chamativas.

Uma mão fria tocou o ombro de Kangmin, fazendo-o girar o corpo para trás.

– Yeonho! – exclamou, contente. – Meu Deus! Por onde você andou? Ou melhor, o que você foi fazer naquele lugar?

Kangmin analisou o amigo dos pés a cabeça, notando seus olhos um pouco fundos e sua feição angustiada, depois olhou para os dois outros rapazes parados ao lado dele.

– Quem são eles?

Yeonho riu.

– Depois eu te explico, agora preciso que você nos ajude.

Yeonho entregou um cartaz para Kangmin, e pediu para que ele se juntasse à pequena multidão parada na rua.

Não foi difícil reunir aquelas pessoas, a insatisfação sobre como o Laboratório's Rosa geria a vida de Yongseung estava solta na sociedade, bastava apenas um incentivo, um pavio aceso para colocar fogo em todo o resto. Logo os jornalistas perceberam a movimentação e viraram suas câmeras na direção dos manifestantes.

As palavras de ordem eram: "Libertem o menino e deixem-no viver".

De seu escritório, olhando pela vidraça, a doutora Minju observava a rua. Seu sangue ferveu. Estava à beira de cometer um grande erro.

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