Então, continuamos correndo
Cidade das Rosas, 18 de junho de 2020 - 7:48 a.m.
Os degraus que levavam ao segundo andar pareceram não ter fim, enquanto os dois jovens, já sem fôlego, subiam desesperadamente as escadas. Ouviram o som inconfundível de um tiro soando de dentro do estúdio de dança, e sobressaltaram-se.
– Para onde devemos ir? – Yongseung sussurrou, atrás de Yeonho, que, afoito, atravessava o vão entre o corredor e a porta da frente da casa onde o Kim cresceu.
Yeonho não respondeu. Estava aturdido demais com os códigos numéricos em cor roxa em seu monitor, e com a agitação vinda logo atrás deles dois, para conseguir formular qualquer frase.
Adentraram no quarto onde, alguma vez na vida, Yongseung chamou de seu.
Estava escuro e perturbadoramente silencioso.
– Deveria estar aqui – murmurou o mais velho.
– O quê? – Yongseung se esforçava para compreender todo aquele caos. – O que deveria estar aqui?
Os passos dos agentes do governo já podiam ser ouvidos no cômodo ao lado.
Yeonho não pensou direito, apenas respirou fundo e puxou o mais novo pelo braço. Ambos se arrastaram para o lado de fora da janela do quarto. Um passo em falso resultaria em uma queda horrenda, contudo, permanecer dentro da casa podia ser fatal para eles dois.
– Acabei de lembrar… – Yeonho ia na frente, guiando Yongseung pela curta pilastra que ligava as paredes das duas casas vizinhas. Os nós dos dedos tornaram-se brancos, devido a força com a qual segurava a mão de Yongseung – tenho medo de altura.
Por mais perigosa que fosse toda aquela situação, Yongseung achou graça.
Outro barulho intenso surgiu, dessa vez ensurdecendo os dois rapazes empoleirados do lado de fora do estúdio de dança, fazendo-os cair ao chão. Por sorte, caíram em uma lata de lixo.
– Você está bem? – Yeonho tateou o mais novo, coberto por fuligem e pedaços de papel e plástico picotados.
Yongseung assentiu, porém, logo percebeu que algo em seu corpo desatinava em dor.
O de cabelos preto-azulados ajudou o loiro a sair do latão de lixo.
Da janela, os agentes do Laboratório's Rosa observavam, prontos para atirar contra eles mais uma vez.
– Vamos! – com o braço em volta do ombro, Yeonho caminhou com Yongseung na direção de uma viela atrás da casa. – Você está bem? Por que está mancando?
Ao observar melhor o mais novo, Yeonho notou a mancha escura que ficava cada vez maior no tecido colorido das roupas que Yongseung usava. Ele estava ferido, logo abaixo da 11° costela do lado esquerdo.
Na escuridão úmida da viela, Yongseung se encostou na parede, arfando em dores intensas que pareciam querer derrubá-lo. Não havia muito o que ser feito, além de tentar escapar com vida daquele lugar, por isso Yeonho segurou firme outra vez na cintura de Yongseung, colocando os braços dele envolta de seu ombro.
– Não podemos ficar aqui.
Kim Yongseung era forte, mais do que imaginava ser. A dor que consumia seu corpo era insuportável, ainda assim ele se apoiou com firmeza nos ombros do Ju, e, cambaleando, atravessaram a estreita rua.
Uma mensagem chegou no monitor de Yeonho, bem quando adentraram em uma loja de penhores, despistando o agente que os seguia no meio dos civis pelas calçadas. A mensagem foi enviada por Gyehyeon, para informar que o tempo estava quase acabando dentro da matrix.
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Além da Barreira
Science FictionA realidade, tal qual Kim Yongseung a conhece, não passa de um software de última geração capaz de decodificar estímulos psíquicos; já a realidade de Ju Yeonho se trata de um futuro distópico, onde um ser humano criado em laboratório tem sua vida ex...