Chovia no deserto, não costuma acontecer isso, mas quando acontece são 2 ou 3 dias de chuva intensa.
A única casa funcional por ali era a minha, meu pai havia bebido tanto que dormiu na sala mesmo, Xandra havia bebido muito também, mas se arrastou até o quarto.
Eu fumava na sacada enquanto lia um livro, o único lugar iluminado em uma plenitude de escuridão.
Os trovões chegavam a dar uma claridade e entre essas claridades levei um susto, havia um cara parado me olhando.
A claridade do meu quarto era pouca para ver direito.
O rapaz parecia respirar com dificuldades, me observava todo molhado, seus cabelos negros não me deixavam ver seu rosto e ele segurava o ombro direito muito forte.
Antes de abrir a boca para chamar e perguntar se estava tudo bem, ele caminhou em minha direção, estou igual a um pateta parado ,olhando, alguns pingos de chuva chegam a me molhar e apagar meu cigarro, o livro que eu lia se encontrava no chão.
Me apoio na sacada e o observo começar a subir.
Deuses, preciso pedir ajuda, mas nada faço, o observo pegar a lata de lixo e grunhir com o esforço, nem era tão pesada assim.
Ele começa a escalar, me afasto, entrando no quarto e fechando a porta de vidro que dá acesso.
O rapaz agora estava parado, me olhando e observo sangue, muito sangue saindo do ombro no qual ele segurava, os olhos pediam ajuda, e eu fui até ele abrindo devagar a porta.
-Precisa de um médico.
-Médico não!-O sotaque russo dele era atraente, meio arrastada a voz e então ele apontou a arma para mim, me fazendo dar uns passos para trás.
Otário. Burro. Sou muito idiota.
-Ca-Calma-Começo a pedir, numa tentativa frustrada, mas ao pensar bem, aquela arma encharcada não iria disparar.
-Médico não, faça alguma coisa-Ele disse entrando no quarto deixando um rastro molhado de chuva e sangue e desmaiando nos meus braços em seguida.
O coloquei no chão.
Fui até o banheiro para achar um kit de primeiro socorros e por incrível que parece lá estava ,intacto, com alguns analgésicos, itens de costura e outras coisas.
-Porra! O que eu faço?
Corro até o meu celular e numa tentativa idiota de lembrar o que minha mãe costumava fazer e o tutorial, dei o meu melhor.
Rasguei o que restava da camiseta preta dele.
Joguei o anti-séptico nele o que fez com que ele acordasse, gritasse algo em russo e voltasse a desmaiar.
-Silêncio, se não, médico sim, okay? -Notei que ele havia realmente desmaiado, ri comigo mesmo pensando no que diabos eu estou fazendo e continuei.
Peguei a linha e me tremendo pus na agulha de sutura, costurei como minha mãe uma vez havia me ensinado a costurar um casaco meu, e também ficou parecido com o do vídeo que eu assistia. Coloquei o esparadrapo e vi no vídeo o rapaz dizia que ele precisava tomar os remédios.
Por que? Por que tão difícil?
Peguei a arma e guardei no banheiro, debaixo da pia onde antes ficava o kit.
Fui até a cozinha rapidamente pegar um copo d'água e meu pai adormecido roncava alto.
Volto pro quarto com a água e tento chamar ele, pego a embalagem com os comprimidos e seguro junto ao copo.
Cutuco ele, dou uma chutadinha de leve,nada.
Ele precisa MESMO tomar isso?
Sentei no seu colo e dei-lhe um tapa, o fazendo levantar puto e segurar meu rosto perto ao dele.
-Precisa tomar esses remédios.
-Babaca!- Ele reclama, pegando os dois comprimidos e bebendo-onde está minha arma?-Pergunta zangado, balanço a cabeça negativamente.
-Primeiro descanse.
- Não!- Ele tenta se levantar mas estou em cima dele e isso o fez se esforçar e voltar a desmaiar.
-Ótimo-Digo-Mais trabalho. Termino de tirar a camisa na qual ele vestia e a calça jeans.
Noto sua pele branca e gelada, acabo por notar também o volume em sua cueca mas resolvo não troca-la, afinal, eu não quero mesmo morrer.
Colocando uma calça de moletom preto nele e uma camisa branca.O coloco sobre a cama e o cubro, nem parece que me mataria em segundos.
Suspiro olhando a imensidão de sujeira e sangue no quarto.
Depois de limpar tudo, percebo que o dia já vai sair, mas a chuva não iria cessar , o céu cinza se iluminaria por um período mínimo de tempo , mas a chuva cairia incansavelmente.
Desço as escadas e me deparo com Xandra, ela observa o balde em minha mão e os produtos de limpeza.
-Insônia?- Ela pergunta.
-Sim, fiz uma limpeza no quarto.
Ele dá de ombros e volta a subir.
Só se minha insônia for russa.
Pego umas frutas e faço um misto. Levo até meu quarto e sento na poltrona.
Observo o rapaz deitado, acendo um cigarro e noto os lábios grossos dele entreaberto ,os olhos se movimentando lentamente com as pálpebras fechadas, o cabelo no qual tive dificuldade em secar formavam uns cachos.
-E se ele acordar e tentar me matar?-Pergunto a mim mesmo em voz alta, mas nada faço a não ser o observar até meu cigarro acabar e então cair no sono.
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chuva no deserto
FanfictionEra mais uma noite chuvosa, o menino só queria ler um livro, não esperava uma arma apontada para sua cabeça