vodka ao russo

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Acordei com uma faca no meu pescoço, o russo me olhava de perto, desconfiado.

-Seu nome- Ele exigiu.

-Theo-A faca na qual eu havia trago para dividir o misto ,essa era a arma dele no momento-não pode mesmo dormir com você por perto heim?-Sorri de leve, afastando com o dedo a faca de perto de mim. Ele se afastou um pouco mas ainda estava pronto para me atacar e quem sabe me matar.-E seu nome?

-Boris.

-Okay,Boris, precisamos trocar essa atadura , eu fiz o meu melhor e acredite em lado de medicina meu melhor não é nada-ele ficou me olhando sem se mover.-Entende o que eu digo?

Isso o fez bufar.

-Mas é claro que entendo, não sou burro, apenas tenho um sotaque forte.

Ele não soltou a faca e voltou a se sentar na cama, fiz todo o curativo enquanto ele ainda reclamava de dor.

Comemos e ficamos em silêncio.

A chuva lá fora era grossa, não dava sinais de que iria parar, respirei fundo e acendi um cigarro.

- Eu quero-Ele exigiu,  o ofereci e ele pegou, dei o isqueiro e o observei acender.

- Não precisa disso-Apontei para a faca-não me daria tanto trabalho de te ajudar se fosse querer te matar.

Ele ficou pensativo por uns segundos e então soltou a faca mas ainda a deixou próxima. 

- Eu estou fugindo do meu pai-Ele finalmente falou depois de minutos calado, tragou e soltou a fumaça no ar.-Ele não me quer mais vivo dês de quando perdi minha mãe.

Não comento sobre a minha, mas me levanto da poltrona e sento ao lado dele.

- Que saco cara. Vamos começar direito-estando a mão e ele cogita pegar a faca, mas relaxa um pouco e aperta a minha mão.-Eu, o Theo.

-Eu o Boris.-Ele imita minha voz meio robótica.

-Então-Solto a mão firme dele-Me mudei faz pouco tempo para cá, sou de Nova York e você?

-Rússia, vim para essa merda de país devido ao emprego do meu pai, minha mãe acabou morrendo por aqui e para ele ter total acesso ao dinheiro ele tentou fingir que eu cometia suicídio. 

Que pai escroto, reclamo em pensamento, mas o meu pai não é o dos melhores.

-Tenho 17 anos-Digo. 

Ele economicamente imita minha forma de falar, tentando com que o sotaque não ficasse tão forte, impossível. 

-Tenho 17 também.

- Eu gosto do teu sotaque, não precisa forçar nada.

Ele me observa um pouco,pisca algumas vezes rapidamente e comenta.

-Meio baixinho demais para 17 anos huh?!-O olho com raiva e mostro meu dedo do meio.

Durante a tarde ele ainda dormia enquanto eu lia meu livro, papai e Xandra haviam saido para o trabalho dês de cedo, então peguei um isopor e coloquei umas cervejas com gelo para ir bebendo enquanto lia.

Pensei em acender um baseado, mas resolvi esperar ele acordar.

Enquanto lia calmamente, o russo se levantou de uma vez, pegou o edredom e começou a procurar algo.

-Ei-Ao falar isso ele pegou um susto, me notando, como se nem sequer lembrasse que eu estava ali.

 A cena na qual ele me viu, lendo um livro com a cerveja na mão,  enquanto ele estava uma bagunça, cabelos enrolados, edredom no chão, olhos lacrimejando e ficou tonto.

-Theo, preciso… preciso ir.

-Aonde vai nessa chuva toda? Toda hora você fica tonto devido ao tanto de sangue que perdeu.

-Preciso matar meu pai, ele… ele vai viajar a trabalho e quando voltar com certeza vai vir me matar. Ele vai me procurar, ele sempre me acha. Sempre!

Me levantei indo até ele.

Coloquei minha mão no ombro não machucado e a outra segurei sua mão.

- Não te conheço cara, não sou a favor de você matar seu pai. Mas já que quer fazer isso-O fiz sentar-precisa estar forte e então quando ele chegar de viagem, você quem vai matar ele. Okay?

Tentaria por esses dias o convencer de que ele não precisava matar o pai.

Ele fez que sim. 

-Você não me conhece, mas me salvou.

Realmente, ótima observação. Nem eu mesmo sei o por que, mas não o respondi, não sei por que o salvei.

Nos encaramos, não temos assunto a não ser morte e sangue.

-Boris, quer fumar maconha?- Ele levantou uma sobrancelha.-Se preferir eu tenho vodka no andar de baixo.

-Presume que todos russos gostam de Vodka?-Balancei os ombros-Quero, quero os dois.

Sorri e isso fez arrancar um sorrisinho de lado da parte dele.

Um avanço.

Descemos pois ele insistiu em vir comigo, queria andar e sair um pouco do quarto, o acompanhei de perto caso ele caísse. Pegamos a vodka e fumamos no andar de baixo, ninguém chegaria.

- Por acaso é sua mãe?- Ele olhou a foto de Xandra e meu pai em uma praia, o porta retrato era antigo e barato.

-Graças a Deus que não,  mas o cara é meu pai.

-Bonita.

-Repugnante isso sim.

-Onde está sua mãe?

A imagem dela se afastando veio a minha mente, o peso de sua mão em meu ombro, as obras de artes e o ensurdecedor silêncio em seguida.

-eo!-Theo!-A voz de Boris pareceu ecoar, como flash ele apareceu perto de mim.-Desculpa, o que perguntei...

- Não. Tudo bem, eu… eu tenho esses apagões.

-Okay, vamos subir, estou chapado.

Levamos a vodka conosco e nos deitamos na cama.

- Como pode confiar em mim?- Ele perguntou, olhávamos o teto.

-Mas eu não confio-digo sendo sincero com ele.

- Por que me salvou?

-Além do fato de você ter uma arma, seria algo que minha mãe gostaria que eu fizesse, você tinha um olhar que pedia por ajuda, então eu ajudei.

Um trovão ecoou no céu, o barulho da chuva ainda intensa nos fez adormecer.

Acordei primeiro que o russo, escutei zuada no andar de baixo e presumi que já era fim da madrugada.

-Boris-O chamei-Precisamos trocar o curativo.

Ele resmungou algo que não entendi, achei que talvez fosse um sim, mas ele me abraçou, me impedindo de levantar.

-Acorda, cara. Acorda-O chamei,lentamente ele abriu os olhos.

-Estudamos na mesma escola. Eu sento na cadeira atrás de você e eu apenas nunca tive a oportunidade de dizer oi.

A informação repentina foi boa, pois ele realmente parecia familiar, sorri. Então depois de segundos em silêncio eu falei:

-Oi.

-Oi-Ele falou sorrindo e me soltando.

chuva no desertoOnde histórias criam vida. Descubra agora