Capítulo 15 - Coração Partido

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Com o Baile de Inverno chegando, Hogwarts havia ficado sufocante. Para todo lugar que eu olhava, alguém tentava convidar outra pessoa.

Além disso já ser bem chato, eu odiava mais ainda porque sabia que provavelmente iria sozinha. Não que isso me incomodasse. Iria de qualquer forma. Pela comida, para dançar, me divertir e ter uma noite de princesa.

Mas seria legal se eu não tivesse que passar essa noite dançando sozinha enquanto todos estariam valsando com seus pares, que certamente seria alguém especial para cada um (apesar de eu já ter descoberto que era uma estratégia para escolher os reféns da segunda tarefa do Torneio).

Fechei os olhos, imaginando como seria dançar com ele. A barra do meu vestido roçando em suas pernas, seu braço em minha cintura, me guiando através do salão, me fazendo rodopiar e me segurando firme enquanto se inclinava para mim.
A melodia suave de repente perdendo sua importância, bloqueada por nossos ouvidos, porque o que tinha de mais importante era aquele momento, nós dois de frente um para o outro e nossos corações batendo em sincronia.

Mas eu sabia que isso era impossível. Apesar de estar em Hogwarts, o que devia ser considerado impossível, aquilo não era um sonho que eu podia controlar. Já havia percebido que, de alguma forma, aquilo era real. De alguma forma, tudo estava realmente acontecendo e eu não sabia como nem porquê. E também não tinha poder quase nenhum sobre o que acontecia ou não.

Sabia que meu sonho de princesa não se realizaria. Não seria sua companhia no baile, mas estava em Hogwarts, o que já era a realização de um sonho.

Desde o primeiro dia soube que seria difícil, e muito, conquistá-lo. Até agora nossas interações haviam sido meramente ofensivas, o que de certa forma eu já esperava. E era extremamente difícil não ofender de volta. Como eu suspeitava, ele me irritava tanto quanto aos outros personagens da estória.

Se Hermione não o tivesse feito, eu mesma socaria Draco Malfoy.

Estava caminhando pelos arredores de Hogwarts, indo para debaixo da mesma árvore de sempre.
Carregava alguns livros para estudar e relaxar, longe do tumulto dos jovens apreensivos, quando ouvi alguém me chamar.

– Mattos, vem cá! - era a voz de Draco.

"Falando no diabo...", pensei.

Bufei, esperando pelo pior, e olhei na direção da voz para ver que ele estava no topo de uma das árvores. Não de qualquer árvore, reparei. Da minha árvore. A que eu usava para relaxar e pegar um pouco de ar fresco sempre que podia.

– O que você quer, Malfoy? - perguntei, querendo logo acabar com aquilo.

– Calma... - ele disse, sorrindo e descendo da árvore - Só queria saber se já tem par para o Baile de Inverno.

– Por quê? - perguntei, desconfiada e sarcástica por fora, mas esperançosa por dentro - Vai me convidar?

– Uma sangue-ruim como você? - debochou Draco, me olhando de cima a baixo com desprezo - Não mesmo!

Exatamente o que eu havia pensado. Como eu podia ser tão burra? Esperar um convite do Draco? Talvez nem nos meus sonhos.
Meu olho começou a encher de lágrimas. Não. De todos os dias, horários e locais possíveis para eu chorar... Não aqui, não agora.

– Aposto que ninguém vai te convidar - Draco completou, fazendo seus amigos rirem.

Eu nem havia percebido que eles também estavam ali. Isso só tornava as coisas ainda piores. Uma plateia. Ele sempre precisava de uma plateia.
Senti uma lágrima ameaçar escorrer pelo meu rosto. Não podia me virar. Eles notariam. Também não podia chorar. Isso os incentivaria.

– Malfoy, já chega! - Harry gritou, vindo na minha direção e olhando para Draco, furioso.

Me virei para olhar para ele e a lágrima escorreu. Limpei rapidamente para que ninguém percebesse.

– O que foi, Potter? - perguntou Draco - É só porque ela é menina?

– Da última vez que verifiquei, Nicole podia se defender muito bem - disse ele - Fiquei sabendo que você deu umas boas piruetas ano passado.

Os amigos de Draco riram ao se lembrarem do "Everte Statum" que eu havia lançado contra ele. E ele, perdeu toda a pose, o sarcasmo se transformando em raiva.

– Ah, então é porque você gosta dela - disse Draco - Eu me perco às vezes, precisa me atualizar mais rápido quando a fila andar.

– Vamos, Nicole - Harry me virou na direção oposta e colocou a mão nas minhas costas, me guiando para o castelo - Não vale a pena perder tempo discutindo com Malfoy.

– Parabéns, Mattos! - gritou Draco - Arrumou um namoradinho. Quem sabe ele não te leva ao baile?

– Piada não se recicla, Malfoy - falei, com desgosto, apesar da voz já um pouco embargada.

Todos ficaram em silêncio. Ninguém sabia do que eu estava falando, mas Harry deu uma risada.

– Fantástico! - disse ele, olhando para mim - Ele realmente já falou isso para mim. No segundo ano. Como sabia?

Balancei a cabeça, outra lágrima descendo pela minha bochecha.

– Ah, desculpe - disse Harry, secando a lágrima - A gente pode conversar sobre isso depois.

Andávamos meio que abraçados. Meu braço em volta da cintura dele e o dele em volta da minha, me apoiando.

– Quer que eu fique com você? - perguntou ele, acariciando minhas costas.

– Não, tudo bem - disse, a voz mais embargada.

– Tem certeza?

Assenti.

– Tá bom - disse Harry - Suba e descanse um pouco. A gente se vê amanhã.

– Obrigada - disse, abraçando ele.

Ele pareceu surpreso, mas me abraçou de volta.

– De nada - disse Harry, sussurrando em meus cabelos.

Ficamos abraçados mais um tempo. Eu estava precisando. E o abraço dele era bom. Carinhoso, amigável, protetor. Exatamente o que eu havia imaginado.

Subi para o Salão Comunal e fui direto para o dormitório. Sentei no chão e finalmente liberei todas as lágrimas que estive segurando.

Chorei por um tempo, até ouvir a voz da Luna atrás da porta.

– Blackjack ama torrões de açúcar - nossa nova senha.

Luna entrou no quarto e correu para me abraçar. Ela se abaixou no chão comigo e ficamos abraçadas por um tempo que pareceu curto demais.

– Chorar é bom - disse ela em meu cabelo, ainda me abraçando.

E então lembrei da Tristeza de Divertidamente.
Chorar fazia com que ela se acalmasse e suportasse o peso dos seus problemas.
Mas eu não gostava de chorar. Não me acalmava. Pelo contrário, me deixava com a garganta fechada, sem ar e com o nariz entupido. Mas sabia que ela só estava tentando me confortar, do jeito dela.

– Como é possível amar uma pessoa que só te despreza? - chorei em seu ombro.

Era bem irônico até. Havia passado a vida inteira sem chorar por homem nenhum. Chorava apenas por aqueles que não existiam. E agora que o Draco existia para mim, podia chorar por um bom motivo.

– Tenho certeza de que no fundo ele tem um bom coração - disse Luna, acariciando meu cabelo.

Por um lado ela estava certa. Isso era o que eu precisava ouvir, e no que eu queria acreditar.

– Talvez o amor não seja mais que sentir até que apareçam as estrelas - disse ela.

Pensei em suas palavras. Tive esperanças de que sentir até que aparecessem as estrelas significasse uma coisa boa. Porque eu sabia que Draco Malfoy era complexo. Talvez até demais.
Mas Luna poderia estar certa. Todo o seu sarcasmo e maldade podiam esconder um bom coração. E então tudo valeria a pena.

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