Capítulo 2 - De Cara com o Medo

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Olhei em volta, desnorteada. Estava em uma cabine vazia, sabe-se lá por quanto tempo.
Pela janela, podia ver várias árvores se movendo depressa. Constatei que ainda era manhã.
Pelo reflexo da janela, pude ver que tinha treze anos novamente. Caramba! Como isso podia ser real?

Olhei para baixo, preocupada por ainda estar de pijama, mas percebi que estava com vestes de Hogwarts. Suspirei aliviada.

Nesse momento, duas garotas entraram na cabine. Uma era morena e estava com vestes azuis, a outra era loira e vestia amarelo. Pareciam ser melhores amigas. Sorri. Toda loira tem sua morena, é o que dizem.

– Oi, podemos ficar aqui? - perguntou a loira - Parece que o restante do trem está cheio.

– Claro - disse, escorregando no banco para dar lugar à loira. A morena se sentou no banco da frente.

– Obrigada - disse a loira - A propósito, meu nome é Lina. Lina Tande.

– Prazer, Nicole Mattos - disse, apertando a mão dela.

– E o meu é Sheila Brooks - disse a morena, apertando minha mão.

Não foi necessário nem mesmo um segundo para eu reparar que Lina era lufana e Sheila, corvina. E não por causa das vestes.

– Desculpe a pergunta, mas onde estão as vestes da sua casa? - perguntou Sheila.

– Ah, eu... - hesitei, procurando por uma explicação - Eu não fui selecionada ainda. Sou aluna de intercâmbio. Castelobruxo.

Elas ficaram animadas ao ouvirem que era aluna de intercâmbio e começaram a perguntar tudo sobre a escola brasileira.
Para a minha sorte, eram perguntas simples que eu pude responder facilmente, sem ter que pensar muito.

Mesmo sabendo tudo sobre a escola, fui educada e esperta o suficiente para perguntar sobre Hogwarts também.
E é claro que elas ficaram mais do que felizes em responder todas as minhas perguntas.

Eu me identificava nisso, o orgulho que elas tinham da escola. Mesmo sem nunca ter efetivamente pisado lá, já sentia que era parte de mim.

Quando me dei conta, a noite caía e a paisagem havia mudado completamente. Agora, estávamos mais perto de Hogwarts.

Comecei a sentir frio e percebi que uma fina camada de gelo estava se formando na janela da cabine.
Juntando todas as peças do quebra-cabeça, me lembrei de algo assustador e extremamente desagradável: estávamos no Expresso de Hogwarts, no terceiro ano do Harry na escola.
Olhei para o lado e vi que Lina e Sheila ainda estavam dormindo.

Comecei a entrar em desespero. Sabia que os Dementadores já estavam no trem, o ar parecia pesar nos pulmões e estava ficando mais frio a cada minuto.
Lina e Sheila estavam dormindo, então não poderiam ajudar em nada. Mesmo que pudessem, aparentavam estar no terceiro ano também. Não seriam capazes de produzir um Patrono.
E eu... apesar de já ter lido todos os livros e saber muitos feitiços de cor, não sabia efetivamente lançar nenhum deles. Afinal, nunca realmente fiz aulas de magia.

Me estiquei na direção de Sheila e peguei a varinha que guardava em sua bota, cautelosamente para não acordá-la.
Apontei a varinha para a porta da cabine e lancei o único feitiço que me pareceu minimamente útil:

Colloportus.

Sabia que esse feitiço trancaria a porta da cabine. Talvez fosse o suficiente para os Dementadores não entrarem.
Após um tempo, pude ver uma figura alta e escura se aproximando. Estávamos na última cabine, então eles já haviam passado por Harry e Lupin.
Desejei, com todas as minhas forças, que ele desse meia volta.

Ele chegou a olhar para mim e esticar a mão esquelética para abrir a porta, mas então se virou e deu meia volta, como se alguém o tivesse chamado, o que provavelmente foi o que aconteceu.

Olhei para baixo e vi que ainda estava segurando a varinha de Sheila. Eu a estava apertando com tanta força que os nós dos meus dedos haviam ficado brancos.
Devolvi a varinha à bota dela e recostei no banco, finalmente relaxada.

Da janela, já podia ver o contorno do castelo. Mal podia esperar para entrar em Hogwarts.

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