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Acordei tarde, com minha mãe no meu quarto falando comigo. Ela me achou febril, mas eu não sentia a febre. Obedeci com o resguardo para tranquiliza-la. Passei o dia no quarto.

Prestando mais atenção ao longe, conseguia distinguir os sons dos pássaros dos ruídos da cidade. Gostava de fazer isso para relaxar. Mas naquele dia, os barulhos me chegaram em uma gradação sonora tão intensa, que pareciam estar dentro do meu quarto. Tive que levar as mãos aos ouvidos. Fiquei procurando ao redor e nada. Até que vi a coruja batendo as asas entre o telhada e o guarda-roupa.

Corri para abrir a janela e deixar o caminho livre para sua fuga, mas ela ainda se debateu muito, antes de vir em minha direção, pousando em minha cabeça, e eu não vi mais nada.

Quando acordei, ouvi bem perto do ouvido, o chirriar, mas ela não estava lá. Já era noite e eu me sentia muito cansada. Levei as mãos à cabeça e toquei as feridas que as garras da ave tinham deixado. Doía.

Não mostrei a mamãe. Aquilo era inusitado demais para revelar. A dor de cabeça aumentou, então eu mesmo cuidei dela e dos ferimentos, sem complicações.

Passei a noite acordada, com a forte impressão que ficava de tudo aquilo. A imagem do homem que gargalhava na mata voltava à minha cabeça, mas eu não conseguia lembrar com precisão de suas feições. Apenas da expressão risonha. Seria ali a origem do fogo?

Pensando nisso, forcei a visão para olhar. Apertei os olhos até que apareceu o fogo tremulante. Eu precisava me livrar daquela assombração. Pensei em bater na porta do Seu Gerônimo, mas já era madrugada. Senti um arrepio antes de sair. Mas precisava ir. Fui depressa, sem barulhos, para não acordar a mamãe. 

A Matinta e o SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora