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O fogo era forte, intenso, liberando fumaças espessas. Iluminado por parte do corpo, vi novamente o homem pela metade. Ele não gargalhava, mas tinha um olhar sinistro.

- Quem, quem...? – tentei formular a pergunta.

- Olá! – ele movia com exagero as sobrancelhas.

- Sou Maria, moro aqui. Você fez esse fogo?

- Hahaha! Eu? Não, minha senhora... Maria. Foram os homens que expulsei daqui.

- Os de farda verde?

- Sim, eles mesmo! Mas eles sempre voltam. E a minha casa só diminui em brasas.

- Você mora aqui?

- Você não? Hahaha!

O fogo se espalhava rápido e se propagava em nossa direção. Comecei a me afastar, mas o homem permanecia parado.

- Cuidado! – tentei adverti-lo.

- Eu sempre morro, todos os dias, minha amiga. Até a floresta acabar!

E o fogo avançou tão subitamente que engoliu o homem como uma fera.

Corri desesperada.

Na cidade, não me controlava e tentava avisar a quem eu encontrava no meio da fumaça sobre o incêndio. Mas, quando vi, estava falando com os homens de uniforme verde, que me encararam com cara de nada. Gelei.

Seu Gerônimo estava entre eles. Também absorto, mas caminhando, como os outros, em minha direção. Corri para casa e, estranhamente, as minhas passadas pareciam mais leves, como se pudesse levitar em meio à fumaça. Fechei a porta atrás de mim, e um som estridente de coruja me atingiu o ouvido. Estava amanhecendo. Cheguei ao quarto, antes de mamãe acordar. 

A Matinta e o SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora