parte quatro: irei aonde quer que você vá

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- Você está bem?

White coçou a bochecha, erguendo os olhos para a voz que lhe dirigia a palavra. Ela deu um sorriso pequeno e forçado ao notar Emily parada na porta e assentiu.

Depois de compartilhar as coisas com Derek, ele a trouxera de volta para a delegacia e estava ficando tarde. Ela só queria poder se aproveitar de um descanso sem se preocupar com um serial killer por aí querendo se vingar.

- Sim, claro - a mulher respondeu, tentando ao máximo soar educada.

Seu corpo inteiro implorava por um descanso, mas a mulher sabia, com uma infelicidade comum lhe consumindo, que assim que ela colocasse a cabeça sobre um travesseiro macio, não iria conseguir dormir.

Todas as novas informações e a aproximação com seu ex estava embaralhando os seus pensamentos de uma forma que ela não conseguia relaxar. Fora um alívio poder finalmente contar a Derek sobre sua gravidez.

Ela tinha sofrido a perda de um filho sozinha por muito tempo e achou que poderia carregar esse fardo sozinha, mas compartilhar com o agente Morgan aliviou o seu peso.

- Vivi minhas fases no escuro para saber quando alguém mente sobre isso - Prentiss soou gentil, fechando a porta atrás de si.

A mulher de cabelos pretos sentou-se ao lado de Skye, um sorriso fechado e compreensível nos lábios.

- Morgan contou? - Skye indagou, desconfiada.

- Não - a outra respondeu, soando firme o suficiente para a novata acreditar.

- Entendi - Skye disse. - Você é a inteligente de quem ninguém esconde nada.

Prentiss esboçou um sorriso sincero, seguido de um aceno de cabeça. Sim, ela era bastante inteligente e perceptível.

E isso a tornava muito boa no trabalho, transformando-a em alguém incomparável e insubstituível.

- Se você observa demais, acaba encontrando as respostas - Prentiss respondeu.

Skye estalou a língua, encarando o teto, como se buscasse algum controle emocional sobre si. Ali estava ela, fingindo estar bem depois de um dia cheio de revelações. Não bastasse os próprios problemas, agora precisava lidar com um adicional bastante indesejável: um serial killer caçando a sua vingança contra ela.

A mulher suspirou, deixando o cansaço se tornar evidente aos olhos da outra, que a observava em silêncio, respeitando o seu espaço.

Emily Prentiss parecia disposta a ouvir qualquer coisa e não devolveria um julgamento por isso. Estranhamente, Skye sentia-se confortável ao seu lado e ela achava que só seria possível se sentir assim com Penelope, já que era a única integrante da equipe que conhecia.

- Como ele está? - Skye murmurou a pergunta, ainda sem desviar os olhos do teto, mordendo o lábio inferior.

- Vai sobreviver - Emily respondeu.

- Eu não queria. Não queria ter escondido isso tanto tempo dele, mas não fazia sentido contar só para vê-lo sofrer por algo que não vingou - White começou a falar, piscando os olhos e finalmente parou de encarar o teto, voltando a olhar para Prentiss, que permanecia respeitosamente em silêncio. - Descobri quando eu estava no hospital. Não foi um dos melhores momentos da minha vida. Ainda assim... tudo o que eu desejava era só ele comigo.

- Agente White, você não precisa... - Emily tentou dizer, mas foi interrompida.

- Skye.

- O quê? - Prentiss questionou.

- Pode me chamar de Skye. - White comentou, mexendo os ombros. - Eu prefiro.

Prentiss balançou a cabeça, em um aceno positivo. Não era problema nenhum para ela chamar a outra mulher pelo nome, ela só era acostumada demais a ser profissional com pessoas com quem não tinha uma proximidade semelhante ao que tinha com quem já era da equipe.

- Como eu ia dizendo, Skye - Emily retomou as palavras, com um sorriso discreto nos lábios, como se esperasse ser interrompida de novo. - Não há necessidade de você falar algo que não quer. Você não precisa.

- Tudo bem. - a outra concordou, beliscando a pele do próprio polegar, uma mania que tinha desde muito tempo. - Não é como se eu tivesse amigos com quem eu pudesse falar disso, às vezes.

A Agente Prentiss engoliu a seco. Tinha sido fácil para ela, claro, juntar as peças do quebra cabeça quando estavam investigando melhor o caso mais cedo.

Não havia sido uma dedução, mas uma certeza que Skye estava grávida na época em que prendeu Louis McLanner, mas toda essa certeza não dava uma visão clara do que tinha sido ou era a sua vida. Ex-namorada de Derek Morgan; Agente especialista em crimes sexuais; objeto de vingança de um assassino.

Eram as três informações sólidas que a maioria da equipe tinham sobre ela, com exceção de Derek e Penelope.

- Desculpe. - Prentiss murmurou, na falta do que dizer. - Achei que houvesse alguém.

- É difícil, pelo menos para mim, manter as relações nesse trabalho. Não gosto de conversar sobre isso com meu parceiro ou equipe - White começou a dizer. - No começo, eu conseguia conciliar as duas coisas. Mas com o tempo, fui pegando casos mais extensos. - explicou. - As coisas que eu vejo, ouço, faço... Tudo isso pesa. Comecei a trabalhar demais. Me viciei no trabalho. - confessou. Lá no fundo, havia uma pontada de culpa, mas não se arrependia de sempre escolher a sua carreira. No final, sempre seria a única coisa que permaneceria. - Comecei perdendo aniversários, jantares, datas importantes. Não importava mais se eu tinha que concluir o meu trabalho, eles cansaram. No fim, pararam de me convidar e eu parei de ir.

Emily assentiu, entendendo perfeitamente. Em sua ocupação, e por experiência própria, era mesmo difícil manter relações naquele ambiente. Era ainda mais difícil encontrar pessoas que entendia isso, mas existia.

- A única pessoa a quem posso chamar de amiga é a Penelope - Skye completou. - E você sabe que ela não combina com coisas sombrias.

Prentiss riu, concordando.

- Você pode compensar trazendo coisas coloridas - respondeu.

- Sim, é uma boa ideia - Skye concordou.

Teriam continuado a conversa por mais um tempo, mas a porta fora aberta naquele momento e Derek Morgan entrou.

Skye não percebeu que tinha prendido a respiração por segundos, até o ar escapar pela sua boca entreaberta. Depois do que ela tinha contado, ele não disse muita coisa, embora pudesse compreender a mágoa nos seus olhos.

- Com licença - Emily murmurou, constrangida com o silêncio e a troca de olhares entre o casal.

Derek deu espaço para a colega de trabalho passar e fechou a porta atrás de si. Skye permaneceu com os olhos nele, incapaz de dizer qualquer coisa para iniciar uma conversa. O que ela poderia dizer depois de tudo, afinal?

- Eu devia ter estado lá - ele murmurou, andando para o mesmo lugar onde Prentiss tinha estado antes.

- Derek...

Ela não conseguiu completar a frase. Havia tanta coisa que ela poderia ter dito, e ao mesmo tempo, não havia nada. Ela encarou o homem à sua frente, um misto de emoção lhe envolvendo e suspirou, inclinando o próprio corpo para que pudesse abraçá-lo.

Derek apoiou suas mãos ao redor da cintura da mulher, inspirando o seu perfume quase sem querer. Era óbvio, para qualquer um que observasse aquela cena, que o casal ainda tinha sentimentos um pelo outro.

O silêncio, no entanto, era predominante, como se a coisa mais importante ali, além dos dois corpos estarem abraçados juntos, fosse o momento compartilhado de dor da perda sofrida de um bebê que nunca nasceu. Skye estava mais do que aliviada de finalmente poder ter aquele momento.

Ela nunca abandonou a sensação, porém, de que Derek Morgan merecia mais do que aquilo.

In Dark // criminal minds [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora