Capítulo Um
🌼
A tempestade desabava sob a pequena cidade de Veracruz enquanto Mariana Brancaglione corria entre as árvores. Já havia caminhado um bom bocado para ser pega e não poderia permitir que acontecesse!
A cidade era pequena e quase todos se conheciam, por isso agradecia mentalmente, pela primeira vez na vida, o fato de seu pai a ter escondido na fazenda durante tantos anos. Seu rosto era quase irreconhecível. Seu cabelo vermelho e marcante chamava a atenção, era o mesmo de sua mãe, mas não seria qualquer um que a reconheceria facilmente.
Trocou as roupas caras que costumava usar por um vestido simples e branco que apanhou de uma das empregadas. Calçou chinelos, prendeu o cabelo em fita e correu desesperadamente após escapar dos homens que rondavam a fazenda. Uma fuga minunciosamente planejada por meses e que não poderia dar errado. Se fosse pega estaria diante de um final eminente de esperança... O pouco de esperança que ainda restava.
Seu casamento com um banqueiro rico estava agendado para dali alguns dias. Já havia provado o vestido, mas seu pai, o poderoso Juan Brancaglione, não contava com seu plano ousado. Não podia viver daquela maneira. Não podia ser vitima de um negócio, sujeitando-se a passar a vida como sua madrasta e suas cunhadas. Todas as mulheres que conhecia eram subjugadas aos homens, que por sua vez eram autoritários e violentos. Todas apanhavam e apenas serviam para serem usadas e engravidadas. Não podia aceitar ter o mesmo destino cruel que elas... Não podia terminar como sua falecida mãe, arrasada por um casamento de conveniência e morta de tristeza e desgosto.
"Fuja minha Sol!" dissera a pobre antes de morrer "Fuja quando tiver chance!".
E foi o que fez!
Não podia dizer que os amava, uma vez que o pai e os dois irmãos eram tudo o que conhecia, mas também jamais os admirou. Eles apenas faziam mal, tratando-a como um porco para abate visando o grande momento do casamento. Trocaram-na por dinheiro. Uma virgem de família rica que estava estorvando o pai com suas ideias revolucionárias e foi vendida por uma boa quantidade de ouro.
Não ela.
Não Mariana Brancaglione. O sol que sua mãe fez nascer dentro dela era muito maior do que toda aquela repressão.
Seguiu caminhando na clareira aberta, visualizando em meio à tempestade os muros altos que delimitavam a fazenda de Ouro, mais conhecida como "A toca do Lobo". O homem demorou anos construindo aqueles muros mesmo sabendo que ninguém seria louco o suficiente para ultrapassá-lo. Qualquer pessoa sensata passaria bem longe da toca de um cruel assassino.
O coração de Mariana apertou com certo medo enquanto encarava os muros, mas não existia alternativa. Ou se entregava ao Lobo... Ou voltaria para a casa fadada a um destino cruel. Apenas pediria um trabalho em troca de um abrigo. Não poderia ser tão difícil, poderia? O Lobo certamente tinha problemas em arranjar empregados. Ninguém costumava se aproximar.
Caminhou até a entrada da fazenda encarando a placa de madeira grossa e as letras em ouro que anunciavam a entrada.
"Fazenda de Ouro" Logo abaixo, em letras menores "A toca do Lobo".
Engoliu em seco quando atravessou a porteira, dando de cara com um homem alto, de cabelos claros e tão molhado quanto ela. Usava um chapéu velho sobre a cabeça, uma camisa surrada e azul e a encarava com curiosidade, sem esconder a admiração.
- O que procura aqui, mulher? Estranhos não são bem-vindos - A rispidez na voz do homem não a fez recuar. Ajeitou ainda mais a bolsa de ombro que carregava com alguns poucos objetos e afastou o cabelo vermelho da bela face molhada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sol de Minha Vida (Degustação)
Lãng mạnFadada a um destino submisso e um casamento forçado, Mariana Brancaglione foge de um pai opressor e se refugia no único lugar onde o mesmo não a procuraria... A casa de seu pior inimigo! Usando o codinome "Sol", a ruiva enfrentará o perigoso "Lobo"...