Embriagado

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Capítulo Dez


Sol não sabia exatamente o que dizer ao parar frente à Helena, já no quarto dela. A mesma chorava sentada sobre a cama grande e parecia preocupada com o bebê na barriga, uma vez que cutucava os lados para ver se ele se movia.

- Me ajude a colocar as coisas de volta nas malas, Sol. Amanhã mesmo partirei deste lugar tenebroso! - Secava o rosto com as mãos trêmulas.

- Dona Helena... - O olhar de Helena foi para o rosto dela. O semblante da grávida era de dor e angústia - Sinto muito por tudo que seu irmão disse. Sei que as palavras ditas pelo Lobo foram muito duras, mas tudo isso é pelo medo que ele tem da solidão. Também sou solitária como o Lobo e sei o quanto isso é doloroso... - A morena se compadeceu com as palavras de Sol - Não ter ninguém quando se olha ao redor é como um gelo na alma, uma sensação de vazio tão grande... Seu irmão tem muito medo de perdê-la - Helena adotou uma expressão debochada e secou ainda mais o rosto com as costas das mãos trêmulas - Dona Andreia já me falou sobre a senhorita... O Lobo a ama muito e você tem um grande coração, como a sua mãe e seu irmão também! Aquela fúria toda do Lobo... Isso é tudo uma grande cena! Ele não é um homem ruim e tenho certeza que vai reconsiderar suas palavras e amará muito o sobrinho que está por vir quando a ira que o toma passar. Estou segura, senhorita.

Parada com as mãos entrelaçadas em frente ao corpo em uma postura respeitosa, Sol conseguiu que Helena pensasse em suas palavras. A morena secou o restante de lágrimas no rosto e suspirou.

- Como consegue amá-lo, Sol? - A pergunta fez a ruiva estremecer em silêncio. Via a convicção no rosto de Helena - Porque eu... Bom... Ele é meu irmão e o amo pelo fato de termos o mesmo sangue e um laço eterno, mas você... Você realmente não precisa amar um homem tão agressivo e sem coração!

- Ele não é assim. O Lobo me salvou de um destino cruel - Explicou sem desmentir que o amava, fato que não passou despercebido por Helena, que a observava com uma das mãos apoiadas no queixo - Se não fosse por ele, eu teria sido estuprada por muitos homens quando cheguei aqui. O próprio Lobo poderia ter me possuído sem meu consentimento, no entanto me respeitou e me salvou - Helena não escondeu o horror perante as palavras - O Lobo sumiu com todos os homens ruins e me acolheu em sua fazenda, me dando um teto e um trabalho digno. Nunca exigiu nada mais de mim... Se fosse mesmo um demônio teria me deixado morrer a deriva, teria me usado junto com aqueles outros e depois me matado... O Lobo tem um coração, dona Helena. Um bom coração.

Surpresa, Helena apontou a cama a frente para que a ruiva se sentasse. Sol o fez, pousando as mãos no colo e encarando-a de perto. Helena era realmente intimidadora e altiva, diferente de Sol, que era pequena e doce.

- O que Leon sente por você? - Sol corou nas bochechas e baixou o olhar - Não precisa entrar em detalhes sobre o que existiu ou existe entre vocês.

- Não sei o que o Lobo sente por mim... Mas sei o que eu sinto por ele. Sei, também, que ele tem muito medo da tal lenda, um fato que talvez o impeça de se aproximar - Não mentiu e Helena gostou do fato - Tenho certeza que vai reconsiderar sobre a senhorita, só precisa dar-lhe um tempo.

Sol estava segura de suas palavras, mais ainda das boas intenções de Leon para com a irmã.

- Essa maldita lenda acabou com a vida de meus pais e está acabando com a de meu irmão também... - O semblante desolado de Helena fez com que Sol tocasse a mão dela carinhosamente - Compreendo o que quis dizer. Leon não merece meu perdão, porém ficou com medo de me perder. Preciso entender o lado dele também, realmente.

Satisfeita por ter conseguido mudar a ideia dela, Sol apertou ainda mais a mão da moça. Um movimento na barriga de Helena se fez e ela levou a mão até o local, sorrindo para Sol, que acompanhou a leve mexida do bebê com o olhar.

Sol de Minha Vida (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora