A Protegida

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Capítulo Três

— Se realmente sabe quem eu sou, deve também saber do que meu pai é capaz — Andreia analisava o rosto da moça com certa pena. Já usando um vestido amarelo que pertencia a Flora, Mariana penteava o cabelo diante do pequeno espelho pendurado no quartinho — Alcancei a idade adulta de vinte e dois anos e ele me quer casada. Não atura mais minha solteirice e não me deixa estudar.

— Isso é muito absurdo... — A velha senhora se colocou de pé ao lado dela, de braços cruzados. Observou o corredor para se certificar que a filha não estava chegando — Se eu tivesse a oportunidade de dar estudos a Flora, realmente o faria. Mas consegui com a ajuda do Lobo que ela estudasse ao menos o ensino médio básico na cidade.

— O Lobo é a favor de uma mulher estudar? — Virou-se para ela de maneira surpresa.

— O Lobo é um homem justo — Afirmou com convicção e Mariana negou.

— Para todos ele é um assassino... Temido — Pontuou e se aproximou a ponto de tocar as mãos da senhora — Preciso do abrigo, senhora Andreia. Você conhece o meu pai... Ele me quer casada para servir ao velho ignorante que me arranjou como marido. Se eu me casar, terei o mesmo destino de minha madrasta e minhas cunhadas, serei fadada a um matrimônio infeliz! Morrerei aos poucos como minha mãe, afundada na tristeza! Ela me fez prometer que iria fugir quando pudesse e escapar de ter um destino como o seu...

Andreia segurou nas mãos pequenas de Mariana e sentiu como se estivesse realmente diante de Lady Emília, olhando nos olhos dela. Olhos sempre tristes e cansados, mesmo emoldurados por um rosto carregado de beleza. Mariana era como a mãe e ela não poderia permitir tamanha atrocidade. Não poderia permitir que Don Juan roubasse novamente o destino de uma inocente, mesmo sendo ela sua filha. Sabia que Mariana não mentia. Conheceu a verdade.

— Está bem, Mariana. Você pode ficar — Afirmou com um suspiro, arrancando um sorriso enorme da moça — Mas seu nome será realmente Sol e ninguém poderá saber sua verdadeira origem. Ninguém, muito menos o Lobo! Não sei do que ele seria capaz se soubesse que tem uma Brancaglione pisando em suas terras.

Mariana suspirou aliviada e abraçou Andreia pelo pescoço com emoção.

— Obrigado, dona Andreia. Obrigado! Prometo que vou fazer o que quiser! Lavo, passo, cozinho, cuido da horta... O que quiser! — Garantiu ainda abraçada ao pescoço dela.

Andreia sorriu de canto quando se separaram.

— Estou fazendo isso por Lady Emília... Eu realmente tinha muito carinho por ela — O sorriso de Mariana murchou — Sei também do que Don Juan é capaz.

— Nasci fadada ao fracasso...

— Não! — Ergueu o queixo da moça — Você está lutando e isso já é um começo! — Mariana sorriu pequeno e ajeitou o cabelo atrás da orelha de maneira tímida — Já te adianto que não será fácil convencer o Lobo... Ele não aceita ninguém de fora na fazenda.

— Ele não precisa de mão de obra aqui? Posso fazer contas, também... Fui ensinada em casa por muitos anos por bons professores e falo inglês. Sei costurar, cozinhar e me interesso por moda — Andreia acenou negativamente.

Mariana ficou constrangida com a maneira como a governanta a olhou dos pés a cabeça, dando um giro ao redor dela para analisá-la de todos os ângulos. Ajeitou o vestido no corpo e procurou ficar parada de maneira correta.

— A única coisa que o Lobo precisa e você poderia ajudar... — Parou perto do ouvido dela — É de uma esposa!

Mariana pulou para frente e tapou o ouvido.

Sol de Minha Vida (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora