Fogueira

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Capítulo Cinco

O pequeno Leon chorava recolhido em um canto enquanto toda a casa se mobilizava no salão ao redor do caixão de Lady Leona, sua mãe.

Seu pai, um homem sempre tão forte e inabalável, chorava como um bebê desolado sobre o corpo sem vida da esposa, a mulher que mais amou em sua vida. Os cabelos negros de Leona, imóvel no caixão aberto, se emolduravam ao redor do rosto pálido e machucado. A morte terrível se deu por um monstro, um homem sem alma e incapaz de aceitar que Leona jamais seria dele.

- Nono, nono... - Helena, sua irmãzinha de cabelos negros e grandes olhos expressivos, corria em direção a seus braços. Recolhido sobre a mesa da biblioteca, tapava os ouvidos para não ouvir o choro que vinha do salão. A menininha sentou entre seus braços, abraçando-o pelo pescoço - Venha ver a mamãe, Nono. Ela está dormindo.

A inocência de Helena o fez chorar ainda mais, abraçando-a com carinho.

- Não está não, Lena. Está morta! - Corrigiu entre lágrimas, vendo o rostinho inocente da pequena se converter em confusão. Era apenas uma menina de quatro anos e sequer sabia o que aquilo significava! - Mamãe nunca mais vai voltar, Helena. Nunca mais!

A menina saiu do colo dele com um dos dedos entre os lábios e voltou em passos curtos ao salão onde o velório acontecia.

- Leon - A voz profunda e chorosa de seu pai o fez erguer os olhos lentamente, oculto pelas sombras da sala - O caixão vai ser fechado. Venha dar Adeus a sua mãe.

No auge de seus doze anos, Leon pensou em confrontar o pai. Revoltado, levantou-se com pressa e parou frente a ele, o Lobo. Assim chamavam seu pai, o Lobo. Segundo a lenda, Don Alejandro, seu pai, foi amaldiçoado por uma feiticeira local - Rivera, como era conhecida a bruxa - ao expulsá-la de suas terras por estar relacionada com feitiçarias.

Segundo a maldição, Don Alejandro e toda sua descendência masculina perderiam a mulher que amavam de maneira trágica e jamais seriam felizes em família. A mulher de Don Alejandro morreria no parto do filho que esperava na época e assim aconteceria com as demais, as mulheres dos filhos de sua descendência. Seria chamado de "O Lobo" por sempre viver só, sem sua matilha, cada um espalhado para um lugar.

Rivera sabia perfeitamente que a família era o maior amor de Don Alejandro e amaldiçoou-a para confrontá-lo.

Don Alejandro riu da bruxa e zombou de suas palavras. Como poderia uma mulher como aquela se achar superior a ele?

- Não temo maldiçoes, minha cara. Faça o favor de se retirar de minhas terras! - Ordenou dando-lhe as costas.

- Mas deveria temer, senhor... A partir de hoje, O Lobo. E será da mesma maneira com seu herdeiro - Ergueu uma das mãos como se profetizasse - Nunca terão felicidade no amor, sempre solitários e mesmo que tenham filhos, com eles não viverão.

Don Juan riu novamente, mas a lenda se espalhou. Rivera era conhecida na cidade por ser curandeira e feiticeira, sabendo também sobre a rivalidade entre Alejandro e Don Juan Brancaglione.

Antes grandes amigos, apaixonaram-se pela mesma mulher. Leona, no entanto, escolheu Alejandro. Juan, mesmo casado com outra, jamais aceitou a perda de seu grande amor, transformando Leona em uma obsessão. Jamais os deixou em paz. Jamais abriu mão realmente dela e selou entre as famílias uma rivalidade acirrada, tanto nos negócios quanto nas relações pessoais.

Sol de Minha Vida (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora