Helena

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Capítulo Nove


— Vai ficar ai parado me olhando como se não me reconhecesse, irmão?

Helena retirou os óculos escuros da face e Leon pôde olhar fixamente em seus olhos enquanto se aproximava, tomando em conta que realmente era ela. Ainda era linda. Ainda era o retrato vivo da beleza da mãe de ambos, tão parecida que o espantava! A semelhança era gritante, quase assustadora e os empregados também cochichavam sobre.

O cabelo era liso, longo e negro como a noite. Os olhos, escuros e brilhantes. A pele clara e as bochechas salpicadas de sardas. E grávida. Nitidamente grávida.

— Helena... — Sussurrou mais para si do que para ela, parando frente à irmã, que ergueu o pescoço para encará-lo melhor. A mão pequena da moça foi para o braço dele, tocando-o com carinho em um aperto tão emocionado quanto seu olhar — Você está grávida?

Há quase sete anos os irmãos Trovalim não se viam rosto a rosto, apenas por mensagens no celular e vídeo-chamadas. A emoção de Leon era clara, mas sua dúvida e certa ira também. Helena abaixou a mão e sorriu de canto, tomada pela indignação e com algumas lágrimas nos olhos.

— Sete anos sem me ver e a única coisa que consegue falar é isso? — O olhar de Leon seguia confuso sob o sol a pino do horário da tarde — Leon... Sempre Leon...

— Porque não me contou antes? — Não conseguia parar de olhar para grande barriga dela, que era evidenciada pelo vestido azul escuro e elegante que trajava. O rosto da moça corou — Onde está o homem que vai arcar com a responsabilidade?

Helena o tocou no braço novamente, um tanto nervosa.

— Podemos discutir isso lá dentro, por favor? — Disse entredentes — Seus empregados estão olhando...

Realmente havia um bom bocado de pessoas ao redor encarando os patrões. Leon olhou rapidamente para alguns, que começaram a se dissipar com a encarava dura do patrão. Helena relaxou um pouco.

— Não são meus empregados, são nossos! — Relembrou um tanto pesaroso — Mesmo fugindo, essa fazenda também é sua!

— Isso é o que diz o testamento do papai, mas na realidade essa fazenda é do Lobo e eu, querido, não tenho nada a ver com isso! — Tirou um leque azul da bolsa e começou a se abanar — Aliás, irmão... É muito bom te rever também.

Leon apoiou a mão na cintura e com a outra cobriu os olhos em uma postura cansada. Certamente Helena estava com problemas... Esse deveria ser o único motivo pelo qual poderia procura-lo e pisar na fazenda de Ouro. Suspirou pelo que estava por vir.

— É bom te ver, irmã, mas confesso que poderia ter me adiantado o... — Apontou com um aceno para o ventre dela e a moça o cobriu com a mão em um ato espontâneo — Detalhe — Corada, Helena abaixou o olhar — Quem é o canalha? — Leon ergueu o queixo e um pouco o tom de voz ao ver que estavam mais a sós — Está claro que isso é um problema e eu vou agora mesmo atrás do imprestável que te condenou a morte!

— O que? — Helena praticamente gritou, fechando o leque e apontando para ele com certa raiva — Leon, pelo amor de Deus! Só estou grávida, não vou morrer!

— Não? Não? — Helena negava enfaticamente — E a maldita maldição lançada sobre nossa família? Helena, por Deus... — Cobriu o rosto com as mãos — Você não podia... Você não...

— Menina Helena! — A voz de Andreia se fez atrás deles e a velha senhora veio caminhando enquanto secava as mãos no avental. Helena se voltou para ela um tanto surpresa, mas feliz pela interrupção do surto do irmão. Sabia do que o Lobo era capaz quando contrariado — Como está linda! Como é bom te ver!

Sol de Minha Vida (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora