Fim.

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Os sete reis do tempo e da escuridão que sonda a terra e trás consigo o medo do fim de uma velha era. Aprisionados no fundo do oceano, guardados por mares revoltos e águas tão turvas quanto à noite sem a lua ou o dia sem o raiar de uma nova aurora.

Tentaram soterrar a escuridão, junto dos teus sete reis, mas a terra é governada pela sombra, como o mar é governado pelas profundezas do esquecimento, no abismo do fim do mundo, onde homem algum ou qualquer outra criatura jamais ousaria pisar seus pés enlameados pela cor da ambição que estampa a fúria de suas pupilas mornas de um amor fervilhante pela ganância. O que aguarda do outro lado da ponte da vida, senão a completa incerteza, ressaltada pelo inconfundível silêncio da morte. Outros dos caprichos dos homens, que em seus corações nada germina e nem floresce a não ser a representação do que o homem tanto cobiça.

O sal das profundezas marinhas conserva os corpos mais odiosos, Os sete reis da escuridão do tempo novamente andaram pela terra e mais uma vez, tudo será devorado e extinguido.

A sombra do tempo paira sobre as águas escuras e inóspitas da vida, devora rochas, minérios, consome a resina das árvores e subjuga os pensamentos humanos cheios de ganância. O tesouro supremo, que homem algum pode possuir em mãos. Tolos e insensatos assim podem ser chamados Os reis que o tempo não deixou descansar, que o tempo não devorou e apagou da terra as suas passagens, ainda que as histórias não sejam mais contadas, é sabido que o tempo tornará a viver nestes seres sem vida.

Como pode a humanidade viver mais mil anos de trevas, sem o fardo da morte que à espera e que destino mais bem aventurado não seria se o tempo, um dia, for apagado da memória. Amor pelo ódio, amor pelo poder e acima de tudo, amor pelo desejo de externar suas mais fantasiosas ganâncias, de cor dourada e prateada como as estrelas que estampam o fino véu negro do céu. Sobre a terra por onde homens caminham nada mais é como era no início, nada mais poderia existir e permanecer imutável enquanto o homem ainda caminhar pelos caminhos tortuosos das trevas.

Quais segredos, os céus guardam e quantos inícios e fins as estrelas já não viram, o homem esqueceu ou mentiu para si mesmo ao dizer que os deuses morreram. Os deuses abandonaram suas vidas, para viver em sete corpos cheios de fluidos latentes de cor vermelha, com o único propósito de acabar com o tempo dos homens e dar início a uma nova era, nomeando como regente original, as mulheres.

Detentoras do poder das estrelas, caído junto a um cometa que varreu a existência antiga de outros seres viventes, o trono celeste da deusa do amor, Calisty. Sua história era contada nos prelúdios do tempo humano, responsável pela criação divina que caminha pela terra. O amor é o que habita os corpos femininos, amor que homem algum poderia possuir. Para sete damas de vestidos quase tão brilhantes quanto a mais brilhante das estrelas, de peles e olhos distintos e diversos em cores que faria qualquer homem cair de joelhos aos pés das portadoras do poder infinito do amor. Incomensurável é o tamanho desta riqueza, como também, incomensurável é a ganância dos sete reis do tempo.

Tudo desejam, tudo cobiçam, tudo destroem para tudo transformar à sua própria imagem, os reis cujo nome ninguém sabe e quem já soube, hoje não caminha mais por estas terras. Criaturas odiosas são, ou eram, ou foram e ainda são. Criaturas vazias e ao mesmo tempo tão cheias de luxúria e avareza que sua pele fedia insuportavelmente, este é o odor do ser que vive para ter e cobiça mais do que pode possuir.

As sete damas da luz, portadoras do conhecimento celestial e tão puras de amor que criatura alguma poderia ter em seus braços. Uma de cada canto do mundo, unidas pelo chamado do trono caído e nomeadas defensoras de todas as indefesas mulheres do mundo. Com o dever de não deixar a humanidade sucumbir ao poder da escuridão. Foram mortas pela lâmina cega do inimigo, sete cabeças enterradas em sete cantos diferentes deste vasto mundo azul e verde. Foi tirado o direito de viver e reinar, mas o amor não pode ser morto e nem mesmo apagado pelo tempo, ainda vivem cada uma em seu triste túmulo, dando vida e nutrindo as terras.

O trono foi remodelado pelas mãos dos sete reis, e transformado em coroas, uma para cada um dos homens que por capricho próprio, se denominaram regentes por direito de algo que nem eles mesmos entendiam com exatidão. Corações devorados, amaldiçoados pelo sangue das damas, fadados ao infinito de uma vida sem fim e sem sentido. Também lhes foi revogado o privilégio de sentir prazer, para que homem algum tornasse a cobiçar o que não poderia carregar.

Cerca de quatorze anos se passaram, desde a batalha sangrenta travada em terras hoje devastadas. Calisty se sacrificou para acabar com Os reis do tempo. Sua presença é sentida nos corações das mulheres e respeitada por todos os homens, sua história ainda vive.O Caos estava novamente caminhando pela terra e devorando tudo que tocava, o ar já não possuía mais o mesmo frescor e delicadeza, pois agora o fétido odor malicioso dos reis do tempo tornaram a cavalgar pelos ares. Negros e repugnante, os poucos sobreviventes já não podiam mais respirar o ar com odor da morte, para os mortos pela lamina cega, o mais temível fim se tinha, a eternidade do sofrimento e agonia, sem que a morte os beijasse.

É preciso entender duas coisas, antes de prosseguir. Calisty vive nos corações das damas da luz - ainda que a vida delas tenha sido retirada. Em repouso, elas aguardam o chamado das estrelas, para mais uma vez pisarem na terra e acabarem com o mal. Os sete reis do tempo nasceram juntos e ao mesmo tempo, quando o desejo latente começou a revirar seus estômagos até que chegasse ao cérebro e os corrompesse, transfigurando-os em seres sem vida e sem morte, vagantes dos tempos remotos que originaram uma sociedade decrépita e cheia de corrupção para todo canto que se olhe.

O poder do amor é algo incomensurável e impossível de se atingir, esta é a maior das riquezas que o homem não pode ter em mãos e acabou se tornando o seu fim. O poder do tempo, que tudo apaga e consome, é pouco se comparado de perto ao poder do amor.

Dilacera a carne e devora os sentimentos, o amor é uma faca de dois gumes que te rasga por completo, de cima a baixo, quando não se sabe amá-lo. Nem mesmo o tempo apaga o que o amor causa na carne de um ser, nem mesmo a sombra que paira sobre nossas cabeças, devoradora de tudo, pode corromper e se nutrir do amor. A raiva dos homens por não terem este mesmo poder que as damas tinham, foi a sua ruína, a raiva pelo amor os corroeu de dentro para fora, aprisionando-os em um tempo que não passa, sem começo e sem fim.

As lâminas cegas das espadas negras dos homens, forjadas pela cobiça e os escudos esqueléticos concebidos a eles, pela própria morte, estas foram às armas que acabaram com a existência das damas, porém, lâminas cega não podem perfurar os corações puros e cheios de amor que as mulheres escolhidas possuíam. Por isto então, arrancar as cabeças e as enterrar em sete remotos cantos diferentes e separados por uma vastidão de terra e mar, para que o retorno delas tardasse ainda mais, e o reinado dos homens prevalecesse eternamente.

A morte do tempo dos homens.Onde histórias criam vida. Descubra agora