Gamiuza.

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O homem, a espécie mais fraca e formidável que já viveu, armados de uma mente perturbadoramente arrogante e gananciosa, esta mesma mente que os deu o poder necessário para reinar, também selou o seu destino, o próprio homem acabou com o seu reinado de glória e luxúria. Foi crescendo e passado de pai para filho, o desejo de tudo governar, de tudo possuir, de tudo ser o dono e esse mesmo desejo corrompeu um a um dos homens, gerando a guerra de cem dias.

O campo de batalha escolhido para a guerra dos cem dias, não poderia ser outro, que não os oceanos revoltos e odiosos. Embarcações colossais rasgavam as intransponíveis ondas, balas de canhões cruzavam o ar em um estrondoso assobio, o fogo era o que consumia a triste existência dos homens mortos dentro dos seus navios. Os trovões ensurdecem os soldados, que enfrentaram bravamente os reis, o clarão dos raios cruzando o tempestuoso céu oceânico, dava vida os mais perversos fins que levavam cada um dos mais de cem mil homens, gritos de dor e morte, se confundiam em meio aos gritos de revolta e fúria.

Por fim, os reis da escuridão e do tempo, pereceram em uma longa batalha final, em um último esforço de uma frota de nove navios comandados pelas mãos da capitã Gamiuza. Cada um dos nove navios tinha uma capitã de segundo posto no comando, e cada um dos navios, só possuía mulheres bravas e corajosas, mas também cheias de uma vontade esmagadora de reaver o amor perdido e soterrado pelo ódio dos homens. O que as movia, era a vontade latente de reaver a vida das damas da luz. Gamiuza, a irmã mais nova de uma das sete damas, vivia com o único propósito de acabar com o reinado de trevas dos homens, abençoada pela luz dos céus baixos, que correm vorazmente pelo espaço, quase foi morta ainda criança por um raio, mas milagrosamente nada aconteceu com a capitã. O raio atingiu seu corpo, e com um grito arrancado do âmago da senhorita, o raio retornou ao céu. Assim ela ficou conhecida como, Gamiuza a cavaleira dos raios.

Ao fim do centésimo dia de batalha, Gamiuza enfrentava os sete reis, sozinha portando apenas uma pequena espada que reluzia ao ponto de cegar qualquer que fosse os olhos que diretamente a olhasse. A esquadra de nove navios foi reduzida a apenas duas embarcações com pouco mais de cinqüenta mulheres ainda vivas e atentas à batalha que Gamiuza se lançou desesperadamente em busca de um ponto final. A cavaleira dos raios ergueu sua espada aos céus, em meio a uma tempestade aterradora, e apontou para os reis sedentos por sangue. Cem mil raios, com poder destrutivo para extinguir a existência de qualquer que fosse o ser, caíram sobre as coroas dos reis e os lançaram para o fundo do oceano, rompendo o solo submarino e os isolando do mundo, em uma catacumba tão escura e profunda na terra, que nem em mil anos seria possível que estes homens voltassem à superfície.

O oceano foi batizado com o nome da deusa, o vasto e grandioso oceano de Calisty, mais profundo e negro que o espaço recoberto de estrelas. Gamiuza deu início ao reinado novo, profetizado pela deusa e passado como missão de vida para as damas, a nova era chegou, o reinado das mulheres se estabeleceu e por setenta longos anos, não houve guerra, nem miséria ou mesmo fome. A cidade de Gamiuza foi fundada às margens do oceano de Calisty, a terra tinha vida novamente e muito esplendor, a riqueza não existia se não fosse para todos. Em seus últimos anos de vida, a brava cavaleira que deu fim à guerra de cem dias, fundou a sociedade de Calisty com a finalidade de revirar a terra e os mares se assim fosse preciso, na esperança de colocar as cabeças junto dos corpos das damas da luz.

Gamiuza infelizmente não pode ver o seu objetivo sendo concluído ainda em vida, mas sua memória e desejo, jamais foram esquecidos. A sociedade de Calisty concluiu seu objetivo apenas um ano após a morte de sua fundadora. As cabeças e os corpos estavam juntos novamente, um templo havia sido construído para as damas da luz e tudo corria como na profecia antiga.

"Homens não podem mais reinar, não podem mais possuir e sequer sentir, as mulheres estão no poder como prometido pelos céus, e como escrito na história das estrelas. O trono de Calisty, não é para ser possuído, é algo para incorporar a vida e sentir a cada batida do coração enquanto viver."

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2023 ⏰

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A morte do tempo dos homens.Onde histórias criam vida. Descubra agora