A caçada

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Chega o final do dia, Ane volta para a casa, não foi nada fácil se concentrar no trabalho com um turbilhão de pensamentos sobre John e sobre o assalto em sua mente, mas a parte mais difícil ainda está por vir, será que ela realmente conseguirá atacar John?

Em casa a garota precisa explicar para o pai o porquê pegou o carro no horário do almoço, ela não tem forças para começar uma discussão e para sua sorte o pai parece compreender que ela precisou do carro para trabalhar. Ane marcou com Felipe as oito da noite e ainda são seis horas, os ponteiros do relógio parecem rodar em câmera lenta, ela toma um banho, veste um moletom preto com capuz, uma calça legging preta e um tênis. Em frente ao espelho amarrando seu cabelo, Ane segura as lágrimas, ela precisa ser forte e dar ao namorado o que ele merece, não há como voltar atrás.

Se aproxima a hora de Felipe chegar para busca-la, Ane anda de um lado para o outro em seu quarto inquieta, a mãe da garota nota seu comportamento estranho e vai falar com a filha.

- Vai sair, filha? – pergunta a mãe.

- Vou encontrar com Liz e Carmen, mãe.

- E está tão ansiosa por isso? Filha, eu sei que quando diz que vai encontrar suas amigas você está indo se encontrar com aquele rapaz.

- Mãe, não...- tenta se defender a garota.

Tudo que Ane não precisa agora é que sua mãe a prenda em casa e atrase seus planos, mas a mulher parece calma e continua:

- Ane, só quero que se lembre que fizemos tudo para evitar isso e o quanto te amamos. Se cuida, filha.

A mãe de Ane se retira e a garota segura as lágrimas que brotam em seus olhos forçando um sorriso. Ah, se sua mãe soubesse o que ela realmente estava indo fazer, se ela sonhasse que a situação é muito mais complicada do que parece. Nesse instante Ane cai em si do quanto sua situação é perigosa e do quanto se afundou, ela respira fundo. Não há mais tempo para voltar atrás, Felipe a chama no portão, o que está feito, está feito. O caminho já trilhado não pode ser apagado, as pegadas da vida estarão lá, para sempre.

A garota sai da casa e encontra Felipe no portão encostado em um carro placa e assim eles seguem para a agência que Ane trabalha, o local onde John estará dento de duas horas.

Ane e Felipe estacionam o carro em uma equina logo atrás de uma árvore o que, aliada a má iluminação do local, dificulta serem vistos e como Ane sabe todos os passos planejados pelo grupo de assaltantes, ela sabe que ali estarão seguros. Ambos colocam o capuz do moletom que estão usando e ficam atentos a cada movimento, não demora e notam viaturas da polícia fazendo ronda. Ane sussurra para Felipe:

- Minha denúncia parece ter dado certo.

- Touché! – Brinca o rapaz.

- Pare de brincadeira! Eu estou tremendo com tudo isso. Ontem eu era uma garota feliz por ter completado dezoito anos e hoje eu sou uma criminosa, emboscando meu namorado criminoso.

Felipe apenas ri e segue atento.

As horas passam e o carro de John estaciona em frente a agência, o coração de Ane parece parar nesse momento e ela tem vontade de voltar para a casa correndo, mas ela não pode e não faz. Segundos depois outros dois carros surgem e cerca de dez homens entram na agência. Felipe dá sinal para Ane, chegou a hora!

Eles saem de sua posição com as armas empunhadas e disparando várias vezes em direção ao carro de John. Como Ane previu não há ninguém para dar apoio a John, a falha no plano de Ivan deixando o irmão desprotegido, garante o sucesso do plano de Ane. Ao mesmo tempo dentro da agência acontece uma troca de tiros intensa, os assaltantes foram pegos de surpresa por uma força policial dentro da agência, a denúncia de Ane foi levada tão a sério que toda uma operação para emboscar os assaltantes foi montada. Em poucos segundos tudo fica frenético.

John parece ter sido pego totalmente de surpresa, é inacreditável a demora que ele tem para ter uma reação diante de tudo que está acontecendo, ele não arranca com o carro, não dispara, não faz absolutamente nada. Ane dispara várias vezes contra o carro dele, mesmo sem muito controle da arma, os vidros do carro de John ficam estilhaçados, Felipe se concentra em atirar nos pneus.

Tudo acontece muito rápido. Ao notar que a situação pode sair do controle e que a polícia já está lá, Felipe tenta puxar Ane de volta para o carro para que possam fugir, conforme foi combinado, mas ela não vai. Ane está totalmente tomada pela raiva e por uma adrenalina alucinante, enquanto Felipe corre para o carro e foge, ela faz o inverso e corre para o carro de John. Em questão de segundos Ane está no banco do passageiro.

Dentro do carro, ao olhar para John, Ane pode perceber o porquê ele não fugiu e nem atirou, os primeiros disparos de Ane e Felipe o pegaram de surpresa e o atingiram em várias partes do corpo, ele está ferido, gravemente ferido. John mal olha para Ane, ele concentra todas suas forças em arrancar com o carro e ele consegue, é tarde demais para Ane ter um lapso de consciência e sair do carro.

Já com o carro em movimento e em alta velocidade, finalmente John olha para ela, a garota está paralisada no banco com a arma abaixada. Os olhos de John se enchem de ódio e com a pouca força que possui, ele segura o volante com uma das mãos e com a outra aponta uma arma para ela e grita:

- Você é louca?!

Ao ver a raiva nos olhos de John e a arma apontada para seu rosto, um extinto de sobrevivência toma Ane, ela engole todo o medo, toda a paixão que sente por aquele homem e também aponta sua arma para ele.

- Desiste, John! Você está na merda, desiste! – grita a garota.

Se John tinha alguma dúvida de que sua namorada armou para ele, ela se dissipa ao ouvir essa frase. É impossível discernir pelo seu semblante o que ele está sentindo, a dor dos ferimentos parece mais forte do que qualquer outro sentimento.

Enquanto o casal aponta suas armas um para o outro dentro do carro, duas viaturas da polícia os perseguem e se aproximam cada vez mais. John parece perder mais ainda suas forças, ele não consegue mais dirigir e segurar uma arma ao mesmo tempo, então ele solta a arma e se apoia sobre o volante com as duas mãos. Debruçado sobre o volante e se esforçando para manter a aceleração do carro e manter a direção alinhada, ele sangra cada vez mais, Ane pode ver o sangue gotejando, ela se desespera.

- John, John! Pare! Você vai morrer! – grita a garota.

- É isso que você quer. – sussurra ele sem forças.

- Você me usou para obter informações do banco e ia me deixar para trás. Só estou te dando o que você merece!

- E o que acha que acontece agora? – a voz de John falha.

- Nós dois vamos presos ou morremos. - diz Ane firmemente - Eu caio John, mas você cai comigo!

Nesse momento John junta a pouca força e vida que ainda restam em seu corpo e acelera ainda mais o carro, ele entra em uma estrada de terra cheia de bifurcações e escura, assim ele consegue despistar as viaturas que os seguiam. Poucos minutos depois ele não aguenta mais dirigir e para. Ane imediatamente salta para fora do carro, eles estão no meio do nada, a única iluminação é a da lua e das estrelas, cercados por arvores e matagais, ali do lado de fora do carro, totalmente perdida e assustada, ela entende que chegou ao fundo do poço e espera seu fim.

Ao contrário do que Ane esperava, John não desce do carro e vai atrás dela para se vingar, ele permanece lá, imóvel, então ela se aproxima dele e nota que ele está desacordado, um gelo atinge todo o corpo de Ane e ela chora desesperadamente, ela sacode o namorado e implora que ele acorde, mas John não reage.

Ane sai correndo pelo matagal desorientada, arrependimento, medo e culpa se misturam dentro dela, a imagem de John ensanguentado e desacordado a persegue em cada passo que ela dá, será que ele está morto?

Enquanto corre, Ane ouve sirenes se aproximando e então vê as luzes das viaturas que eles haviam despistado minutos antes. Ali ela aceita que acabou, não há como escapar, acabou para John e acabou para ela. Ane solta a arma e se ajoelha em sinal de rendição, os policiais saltam das viaturas e correm em sua direção, aquilo era um pesadelo, ela chora e enquanto a algemam ela sussurra sem parar:

- Acabou, acabou! Eu te amei John, eu te amei!

De repente tudo ao seu redor parece rodar, Ane perde as forças, é muito para ela toda aquela situação, então, ela desmaia aos pés do policial que a algemava. Ali acabava sua história de amor com John, acabava seu plano de vingança, mas seus problemas apenas começavam.

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