QUARENTA

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Lipe

O barraco estava durando muito mais do que calculei.

A gritaria dos meus pais me forçou a ligar para o Ícaro e implorar para que ele me levasse para o hospital e ameaçar dar um chute naquela traseira do presidente caso não me deixasse entrar para ver o Pietro.

Meu priminho tinha mais credibilidade do que eu quando se tratava daquele bunda mole do presidente.

Tentei disfarçar meu choro durante a ligação e troquei de roupa rapidinho para pelo menos fingir que tomei banho quando aparecesse por lá. Coloquei a roupa menos chamativa que eu tinha e apelei para um tênis sem graça jogado no fundo do meu guarda-roupa.

Meus pais ainda estavam discutindo quando passei por eles, mas o barraco se formou num nível que nem notaram minha ilustre presença.

O carro de Ícaro já estava parado em frente ao meu prédio e fui me arrastando até ele. Abri a porta e me acomodei no banco, dando abraço bem apertado no Ícaro.

— Leo quase não me deixou vir — disse ele, mexendo nos botões do rádio para desligá-lo. — Ele odeia quando dirijo.

— Devia ser contrário, já que ele que é péssimo no volante — falei, arrancando uma risadinha dele.

— Verdade. — Ícaro deu de ombros. — Foi difícil me acostumar com o carro adaptado. — Tocou de leve nas alavancas embutidas perto do volante. — Mas não é tão difícil depois que pega o costume.

Consegui dar uma acalmada quando Ícaro começou a cantar. Essa era uma das vantagens de ter um melhor amigo cantor: eu tinha sempre música ao vivo de graça quando eu bem quisesse.

— Essa música você compôs para o Leo, não é? — falei, assim que ele deu uma mudada na entonação.

— Todas as músicas compus para o Leo. — Riu ao batucar no volante. — Ele é a minha maior fonte de inspiração.

Revirei os olhos porque Ícaro sempre se derretia todo quando falava do noivo e isso só aumentaria a minha aflição.

Soltei o ar aliviado quando chegamos no hospital. Ajudei Ícaro com a cadeira de rodas, mas ele fez questão de guia-la, pois odiava quando a empurravam.

Me humilhei na recepção feito um condenado e nada da recalcada da recepcionista me deixar entrar.

Eu já tava quase desistindo quando vi Christian com um copo de café na mão e olheiras de cansaço naquele rosto de deus grego.

— Presidente! — praticamente berrei, o que só chamou atenção pra mim. — Era você mesmo que eu queria ver. — Abri meu sorriso amarelo torcendo para que meu poder de convencimento fosse o bastante para dar uma amolecida nele.

— Te expulsei daqui. — Christian bebericou o café sem me dar qualquer importância. Tive que segurar meu espírito barraqueiro porque minha vontade era pegar ele pela gola e dar uns bons tapas. — E Pietro não quer ver você.

— Até parece que vou acreditar nisso. — Cruzei meus bracinhos e fiz minha cara mais cínica do mundo para que aquele recalcado soubesse que eu não tava ali pra brincadeira. — Se me deixar vê-lo, prometo que vou embora depois. Se não deixar, vou armar um escândalo e sair por aí dizendo que você dá a bunda.

Christian engasgou com o café e torci para que ele tivesse um piripaque ali mesmo. Pena que não rolou e não demorou muito para que ele recuperasse aquela pose tosca de macho alfa.

— Sabe que posso prender você, não é? — Levantou uma sobrancelha e nem me intimidei. Eu sabia que aquilo tudo era pura fachada e fingimento.

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