VINTE E TRÊS

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Pietro

Você estava tão vulnerável que foi fácil te convencer a ir até o meu carro.

Afundou no banco com o olhar fixo na estrada. Não liguei o carro. Permaneci ali apenas te encarando, observando com atenção cada uma de suas nuances perfeitas e hipnóticas.

— Tá tudo bem? — perguntou e achei estranho porque eu que devia ter feito essa pergunta. — Vamos ficar aqui parados para sempre? — Fungou, ainda desmoronando pouco a pouco como um castelo de cartas que não se manteria por muito tempo de pé.

— Felipe... — Alcancei sua mão. Ela estava gelada ao toque e molhada por conta das lágrimas que secou.

Tocar você sempre provocava uma sensação agradável dentro de mim por mais que eu tentasse a todo custo me privar disso. Uma parte minha sabia que eu não merecia me sentir assim.

Eu não merecia você.

Me aproximei por mero instinto. Seu hálito era convidativo ao ponto de me deixar sem ar. Acariciei suas bochechas com as pontas dos dedos. Sua pele era tão macia que eu ficava arrepiado só de senti-la.

Nossas testas se colaram e eu te beijei do jeito que merecia. Um gemido escapou do fundo da minha garganta ao sentir que você estava amolecendo em meus braços, entregando-se à mim.

Seus braços contornaram meu pescoço, puxando-me para mais perto. Pude ouvir seu coração. As batidas ferozes acalmavam meu espírito perturbado. Deslizei a mão para debaixo de sua camisa, sentindo com vigor a fina camada de pele que cobria suas costas.

— Eu me odeio por não conseguir odiar você — sussurrou com a testa ainda colada na minha.

Demorei um tempo para processar sua frase. Era uma coisa cruel de se dizer, mas não consegui te culpar pela sinceridade. A culpa era minha por não ser o suficiente, por não ser o tipo de homem que você gostaria.

Você se afastou com um suspiro e me senti desnorteado sem você. Eu queria mais, precisava de mais. Ainda não tive a chance de ter você de verdade. Porém, meu bom senso dizia que o melhor era manter distância. Era mais difícil te machucar se fosse assim.

Meu celular vibrou. Senti meu coração acelerar ao ver que a ligação era de Yago.

— O que houve? — Minha testa franziu e pude sentir minha voz morrendo no final na pergunta.

— Nada, calma. — Tentei relaxar após ele responder. — Não sei se você ficou sabendo da castração do Tate. — O tom era exageradamente estrangulado. — Mas Christian me convocou para fazer alguns exames nele antes da cirurgia de amanhã. — Ouvi ele engolindo em seco. — Então, não vou poder ficar com o Lucas. Poderia vir pra cá?

— Claro, claro — respondi depressa já ligando o carro na mesma hora.

Lucas.

Meu Lucas.

Seria bom estar com ele agora. A presença do meu irmão costumava me deixar menos crítico comigo mesmo, pois eu era o porto seguro dele. O único com quem ele ainda podia contar.

— Onde estamos indo? — Mesmo não virando o rosto para te ver, previ que seu corpo estivesse enrijecendo. Torci para que não fosse de medo. Você melhor do que ninguém deveria saber que eu nunca te machucaria.

Queria que você conhecesse Lucas. Talvez assim me enxergasse como alguém menos monstruoso.

— Pra minha casa — demorei um tempo para responder.

Com você, sempre parecia que eu estava pisando em ovos.

— Não quero ir pra sua casa. — Você cruzou os braços e algo em seu tom me deixou devastado. — Me leve de volta.

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