VINTE E UM

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Lipe

Eu estava me sentindo um tanto deslocado naquela festa da fogueira.

Todos bebiam e se divertiam enquanto eu mantinha meu olhar fixo no fogo que lambia a madeira.

Alguns membros do meu ilustre fã clube vieram me cumprimentar, é claro. Porém, não consegui manter uma conversa coerente por mais de poucos minutos, pois tudo o que eu conseguia pensar era em Pietro e no infarto que eu teria caso ele fosse mesmo o meu futuro padrasto.

Por Gaga, eu precisava vê-lo e tirar essa história a limpo antes que eu acabasse encarnando a Maria do Bairro e desse um chilique pavoroso. O problema é que muito dificilmente ele estaria ali jogando conversa fora com os universitários. Ele com certeza tinha mais o que fazer.

— Você tá legal? — Alex sentou do meu lado, oferecendo-me um copo vermelho com algum líquido não muito confiável dentro.

Recusei sem nem pensar duas vezes. Não que eu achasse que meu próprio primo me envenenaria, mas eu sabia que a soma da minha insegurança com bebida não seria nada legal de se assistir.

— Nunca te vi tão quieto — prosseguiu quando não respondi sua pergunta. — Você sempre foi a alma da festa.

— Não tô no clima. — Cruzei os braços. O salto poderoso da minha bota afundou na lama. Bufei, indignado com aquela maré de azar me perseguindo.

— Cuidado, Alex. — Victor Tramontini parou na minha frente, exibindo sua echarpe preta como se fosse a coisa mais heterossexual do mundo. Tive vontade de me dar um tiro ao ver que eu estava no mesmo ambiente que aquele verme. — A viadagem desse garoto pode ser contagiosa.

— Você adoraria pegar, não é? — Semicerrei os olhos, tentando me controlar porque ele tinha o dom de me tirar do sério.

Eu conseguia ignorá-lo na maior parte do tempo. Fingia que não era ele quem pressionava os atletas a implicar comigo. Era triste que meu próprio primo tivesse tanto ódio de mim apenas por conta da minha sexualidade. Já não bastasse ele ser cadelinha declarada do presidente e eu ser obrigado a ouvir seus discursos absurdos em toda reunião de família, ainda tinha que aguentá-lo nas festinhas da faculdade.

Os cabelos negros de Victor combinavam com o tom escuro dos olhos, que carregavam um ódio tão absurdo que era difícil fitá-lo por muito tempo.

— Seu filho da puta! — rosnou, fechando as mãos num punho e estava prestes a me socar, só que uma mão o interrompeu no ato.

Suspirei bem fundo ao reconhecer o outro ser radioativo e melhor amigo do Victor: Daniel. Tudo bem que ele não chegava a ser tão ruim quanto meu primo, mas só de ele conviver com aquele poço de ignorância, já mostrava que aqueles dois eram farinha do mesmo saco.

Tava mais do que cara que eu ficava duro só de encarar aquele corpinho abençoado do Daniel, os fios loiros que mais pareciam banhados a ouro e aqueles olhos azuis dignos de um deus grego. Se eu não estivesse tão caidinho pelo Pietro e nem convencido de que Daniel não valia meu esforço, teria investido um pouquinho apenas para tirar casquinha daquele pedaço de mau caminho.

— Não entendo todo esse seu ódio — murmurei, já sabendo que era perda de tempo dialogar com um homofóbico de mente tão fechada. — Qual é! Algum viado não te comeu direito e você ficou putinho, é?

— Eu vou te quebrar! — ameaçou, mas Daniel se colocou na frente, fazendo Victor soltar um palavrão e recuar. — Sai, Daniel!

— Se você fizer uma cena vai ser pior — disse de um jeito tão calmo e pacífico que fiquei surpreso.

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