DEZENOVE

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Pietro

— Não entendo por que ele tem que ir com a gente — resmungou Christian sem nem se dar ao trabalho de diminuir o tom de voz.

— Fui convidado — você fez questão de ressaltar enquanto se inclinava, ficando entre os dois bancos na frente, analisando cada movimento meu. — Se quiser reclamar com alguém, reclame com seu funcionário que me convidou.

— Não acredito que vocês dois vão ficar trocando farpas até a gente chegar — grunhi, já exausto de tantas brigas em sequência. — O dia foi bem cansativo, então se puderem ficar em silêncio, vou agradecer bastante.

— Deixe esse garoto em casa e vamos para uma boate — disse o presidente, ignorando por completo minha súplica por paz. — A de sempre, é claro.

— Aposto que é uma boate gay — você se intrometeu como se gostasse de provocá-lo. Não era como se você não tivesse a mínima noção do quão perigoso isso podia ser, muito pelo contrário, você desafiava o perigo que Christian representava sem sequer hesitar.

— Felipe... — tentei intervir antes que as coisas tomassem proporções maiores.

— É melhor você controlar seu aluninho antes que eu seja obrigado a fazer isso. — As narinas dele inflaram. — E você sabe muito bem que não sou delicado.

— Só acho uma hipocrisia você lutar tanto para legalizar a cura gay, sendo que você faz absolutamente tudo o que condena.

— E que provas você tem disso? — O presidente virou o rosto para te fitar. A expressão era tão rígida e amedrontadora que fiquei surpreso por você não ter se encolhido.

— Não preciso de provas — você disse, cheio de si. — Nunca vi um viado mais enrustido do que você.

— Seu filho da puta! — Ele praticamente se jogou entre os bancos para te alcançar. Sua sorte foi que o cinto de segurança estava fixo e o impediu de chegar até você. Minha espinha gelava só de imaginar o que podia acontecer se Christian pusesse as mãos em você.

Lancei ao presidente um olhar de advertência e Christian grunhiu outro palavrão.

— Me deixe na margem — disse, enfim desistindo daquela ideia de me arrastar para uma boate. Eu queria ficar a sós com você, então deixar Christian na margem seria o ideal. — Estou com saudade da minha ilha, saudades do Theo... — Soltou um suspiro pesado e fiquei mais tranquilo por você não ter feito nenhuma piadinha disso. — Tenho medo de voltar para a Ilha Thris e o Theo não estar lá.

— Ilha Thris? — você perguntou de um jeito menos rude. — Onde fica isso?

— Não compartilho a localização da minha casa por motivos de segurança, mas é a minha ilha particular. Não é tão grande quanto essa, mas é onde eu moro com o Theo. — Confesso que fiquei surpreso por ele responder de forma quase pacifica. Eu já estava preparado para uma nova discussão sem sentido. — Em Grande Sunshine tenho alguns apartamentos, mas minha mansão fica na Ilha Thris.

— Uma mansão — você repetiu, admirado. — Uau.

— Ela tem vários andares — gabou-se, parecendo apreciar a conversa. — Theo tem seu próprio andar. Acho que é o ideal porque assim ele consegue sua própria independência. Seria sufocante vivermos sempre no mesmo teto porque eu não teria para onde ir quando brigássemos e brigamos muito.

Relaxei no assento, satisfeito com a conversa. Pensei que teríamos uma briga de cão e gato até chegarmos a bendita margem, mas minhas súplicas surtiram algum efeito.

Christian grudou a cara no vidro da janela assim que fui desacelerando o veículo devido ao sinal vermelho. Ele estava muito concentrado em alguma coisa. Apenas dei de ombros e foquei na estrada, torcendo para o sinal abrir logo.

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