DEZ

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Fui direto para a sala do conselho estudantil assim que a aula de música acabou. Entrei sem fazer barulho. Ninguém prestou atenção em mim porque todos os olhares estavam voltados ao glorioso Alexander Tramontini.

Meu fã clube era dedicado, mas nem se comparava com a legião de pessoas que perseguiam meu priminho. Todos estavam vidrados nele como se o idolatrassem. Apenas me acomodei numa cadeira de plástico qualquer e fingi prestar atenção no que ele dizia.

Os cabelos negros sempre retos e impecáveis tinham uma franjinha sensual que cobria a testa franzida. O porte atlético que me tirava noites de sono estavam cobertos por um uniforme preto bem passado e sem graça que meu tio o obrigava a usar. A echarpe azul escura possuía o mesmo tom de seus olhos profundos e indecifráveis. Ele era o típico mauricinho que me dava sono. Se eu tinha um ego que ia até a lua, Alexander conseguia ultrapassar isso ao ponto de soar arrogante e metido.

Costumávamos nos encontrar após as aulas naquela mesma salinha. Era meio desconfortável, admito. Se ele não dividisse seu apartamento com nosso primo Erick, talvez pudéssemos ir até seu quarto.

Alexander dispensou todos com um aceno e um sorriso gentil cheio de falsidade. Eu tinha um pouco de ranço dele porque todos os meus familiares o usavam como exemplo para tudo.

''Ah, mas o Alexander é perfeito. Viu como ele passou em Medicina? Ele é um menino de ouro! ''

''Alexander saiu na capa de uma revista. Ele nasceu para ser modelo. É o orgulho da família! ''

''Vocês viram que Alexander se tornou presidente do conselho estudantil? Não se pode esperar menos de alguém que nasceu para liderar. ''

Só de pensar nesses comentários estúpidos que eu era obrigado a ouvir em todas as datas comemorativas em que nossa família se reunia, eu tinha vontade de berrar e mandar todo mundo ir à merda. Todo mundo cheirava a bunda daquele infeliz otário, mas nenhum se comparava com Erick Tramontini.

Meu primo era a cadelinha domesticada que beijava os calcanhares do Alex como se ele fosse uma criatura divina que merecia ser idolatrada. Acredito com todas as forças que se Alex pedisse para ele se jogar de um penhasco, Erick iria sem pestanejar. Chegava a ser assustadora aquela fé cega que ele tinha pelo perfeitinho de meia tigela.

O que ninguém sabia além de mim, era que o orgulho da família nada mais era do que um gay enrustido que interpretava muito bem o seu papel de homem hétero perfeito digno da família tradicional que arrancaria aplausos de Christian Leal.

Além de ter tirado minha virgindade, Alex continuava se encontrando comigo uma vez na semana para que eu tirasse na marra aquela postura de bom moço.

— Nos vemos amanhã, pessoal — murmurou Alex com a voz sempre calma e gentil.

— Não quer ir com a gente no barzinho? — perguntou uma garota, os olhos brilhando ao mirar no meu primo. — A gente paga para você.

— Sim! — Uma menina surtada se levantou. — Vamos todos juntos.

— Desculpe, mas não posso. — Alex coçou a cabeça e me encarou, mordendo o lábio inferior em seguida. — Tenho algumas coisas para fazer aqui. Focar nos estudos. A Medicina anda me desgastando.

— Ah, entendo. Coitadinho. — Uma delas segurou a mão dele. — Descanse um pouco, meu bem. Você parece mesmo exausto.

— E estou. Podem ir sem mim, ok? Prometo que eu irei compensá-las. — Abriu seu típico sorriso e pude ver até os meninos ficarem vermelhos. Incrível o dom que ele tinha de encantar todo mundo sem nem se esforçar.

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