Capítulo 5

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O coração de Ofélia deu um pulo e ela encarou o príncipe. Arrependeu-se imediatamente. Os olhos negros encontraram os seus e foi como se ele lesse a resposta que ela escondia nos seus olhos brilhantes. Não havia nada que Ofélia quisesse mais do que criar poções, mas era uma armadilha. Ofélia baixou o olhar antes que ele pudesse descobrir mais alguma coisa sobre ela e apertou as mãos em dois punhos cerrados.

"Se alguém descobrisse que atravesso gotas proibidas do castelo de Colmentina com as minhas poções certamente não era só reconhecimento que me dariam", disse Ofélia, cautelosamente, evitando admitir-se culpada.

"E se for noutra poção que reconhecem o teu valor?..."

Ofélia franziu as sobrancelhas.

"Noutra poção?"

O olhar intenso do príncipe fê-la esquecer o que pensava. Engoliu em seco.

"Não tens outra poção?"

"Não. Não tenho outra poção! Nenhuma que não seja falhada. Não tenho tempo para me dedicar a poções quando passo os dias em estúpidas danças, a agradar a estúpidos cortesãos, enfiada neste maldito castelo...", Ofélia arregalou os olhos e tapou a boca com a mão.

O príncipe encarava-a com um sorriso.

O coração de Ofélia saltou com a forte possibilidade de além de expulsa, ser condenada... Ofélia engoliu em seco.

"Desculpe... não queria..."

"Uma poção falhada servirá... isso. Uma poção falsa".

O príncipe falou naturalmente, ignorando o estado de choque de Ofélia.

Para horror de Ofélia, a possibilidade de ser expulsa já não a alarmava tanto como deveria. Mas a possibilidade de ser condenada e torturada ainda a deixava bastante nervosa.

"...tu sabes, fake it 'till you make it", continuou o príncipe. Falava quase num sussurrou, de forma que apenas ela o poderia ouvir. "O teu talento será reconhecido e terás oportunidade de integrar as Nuvens Altas".

"O quê?", Ofélia olhou-o de boca aberta. Não podia acreditar no que o príncipe sugeria. A mera menção da Nuvens Altas causou-lhe borboletas na barriga. Mas...

"Uma poção falsa?", exclamou Ofélia, olhando o príncipe de lado, "Como provaria o meu valor se a poção... é falsa?". O grau de insanidade do príncipe maquiavélico era mais grave do que antecipara. Aquilo não fazia qualquer sentido. De qualquer forma, continuava a tratar-se de um príncipe e Ofélia ainda corria perigo, por isso pigarreou e acrescentou, "isto é, se eu estivesse interessada, claro... e não estou".

O príncipe ignorou a última mentira.

"Ora, para que a poção pareça verdadeira, apenas precisas de fazer acontecer algo que nunca sucederia se não fosse o efeito de uma poção poderosíssima, claro. Algo impossível."

Era inútil tentar contrariar o delírio do príncipe e... se não os podes vencer, junta-te a eles, certo?

Ofélia suspirou.

"E que poção seria essa?"

"Uma poção do amor"

Ofélia deixou cair o copo que segurava.

"O quê?"

O príncipe sorriu.

"Fazer-me apaixonar..."

Ofélia abriu a boca e olhou-o em silêncio. Depois riu-se e revirou os olhos. "Definitivamente algo impossível", murmurou entre dentes com ironia.

Danças e Poções - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora