Capítulo 13

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Ofélia ficou muito quieta, incapaz de se mexer, voltando-se apenas quando sentiu uma mão pesada no seu ombro. Tristan apareceu atrás de si, e estendeu-lhe a mão.

"Dá-me a honra da próxima dança?"

Uma vozinha gargalhou vindo de algures abaixo de ambos, "É claro", disse entre risadinhas.

O príncipe Tristan franziu o rosto e vacilou o olhar entre o estranho pau e Ofélia.

"Não queiras saber!", disse Ofélia, contendo um suspiro. Depois daquela cena, tudo o que ela não precisava era mais atenção ao aceitar uma dança com o príncipe, mas se queria ser reconhecida na corte, tinha que se esforçar mais e cumprir o acordo e por isso aceitou a sua mão. Com a mão livre abafou as novas risadinhas que o bastão emitiu, tentando não tropeçar no vestido de gafanhoto.

"Deves achar que sou a pior aia de sempre", disse Ofélia num sussurro, quebrando o silêncio enervante.

"Pior aia de sempre? Porque acharia eu isso?", perguntou, encarando-a com um sorriso divertido, observando-lhe o vestido, o pau falante e os restos de pó dourado do fogo de artifício que lhe cobriam o rosto. O coração de Ofélia acelerou. Ofélia não precisava de imaginar o que pensava, claro que achava que ela era louca... como poderia achar outra coisa...

"Na verdade, enterteste-me mais nos últimos minutos do que vários bobos da corte em dezenas de bailes", disse, o seu sorriso abriu-se e Ofélia vacilou. Nunca o tinha visto sorrir tão despreocupadamente.

Ofélia bateu-lhe no ombro. Tristan segurou-lhe o punho fechado com facilidade e envolveu-lhe a cintura, puxando-a na direção do seu tronco. O calor dos seus músculos envolveu-a e o seu coração disparou. Poderia Tristan ouvi-lo?

"Porque quererias tu ser uma aia aborrecida se podes ser... tu?"

"Se te rires eu ordeno ao bastão que te dê uma sova", ameaçou Ofélia, abafando o rosto vermelho no ombro de Tristan, sentindo os músculos firmes contraírem-se a cada passo lento.

Tristan aproximou o seu rosto do dela e sussurrou no seu ouvido, "Não acho que ele te seja muito obediente".

Os pelos no pescoço de Ofélia arrepiaram-se. Ofélia encarou os olhos negros do monarca, queria refutá-lo, argumentar, mas suspirou, engolida por aquela escuridão desarmante.

"Tens razão...", disse derrotada. Tudo tinha corrido mal. A sua reputação de aia na corte estava arruinada, e agora, se ela não sucedesse nas poções, não teria lugar algum na corte. Precisaria da ajuda do príncipe e em breve não teria mais poção para lhe oferecer.

A música abrandou e o príncipe Tristan foi chamado para assumir as suas responsabilidades de anfitrião.

"Ei, como fizeste aquilo há bocado?... O fogo de artifício cor-de-rosa...", perguntou o eremita Ricardo a Ofélia.

"Oh, não foi nada...", respondeu Ofélia, desejando um buraco para se enfiar.

"Foi uma poção", disse uma vozinha vinda de entre a palma da mãe de Ofélia.

O eremita Ricardo arregalou os olhos. "Um bastão falante?! Já não via um há..."

"É, um bastão exatamente! Mete os olhos neste indivíduo Ofélia. O homem sabe do que fala..."

Mas Ofélia abafou-lhe a voz, que se resumiu a breves grunhidos incompreensíveis.

Lorde Ricardo encarou Ofélia desta vez, "Quem fez estas poções? Nunca tinha visto nada assim".

Ofélia susteve a respiração. O bastão grunhiu mais alto um som incompreensível parecido com "Ofélia", mas o eremita Ricardo não poderia entendê-lo. Não com Ofélia a estrangular a criaturinha denunciadora.

Danças e Poções - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora