A música parou com um baque.
O príncipe tomou-lhe a mão.
Ofélia encarou-o, todo o sangue lhe subiu ao rosto.
"Nunca dancei uma dança real antes", murmurou.
"Eu ajudo-te", o príncipe colocou a mão de Ofélia no seu ombro e depois com a sua envolveu-lhe a cintura.
Ofélia estremeceu, mas logo se habituou ao peso da mão do príncipe nas suas costas, ajudava a ampará-la e estabilizá-la.
O príncipe estendeu-lhe a outra mão e Ofélia sabia o que deveria fazer.
A harpa voltou a soar, uma melodia lenta e triste. Ofélia colocou a outra mão sobre a do príncipe e fechou a distância entre eles.
"Para a esquerda" sussurrou o príncipe, movendo-se ao som das primeiras notas. Ofélia estremeceu quando a mão rugosa e quente do príncipe envolveu a dela sem aviso, levando-a com ele. De repente ele estava a meros centímetros dela e ela sentia a sua respiração quente no seu pescoço. Músculos firmes contraírem-se sob a mão de Ofélia e ela afastou-a como se tivesse sido queimada.
A mão do príncipe amparou-a e impediu-a de tropeçar, mas Ofélia pisou-o.
"Desculpa", grunhiu, entredentes.
"Estás a ir muito bem".
Ofélia ignorou os olhos negros que a observavam com um traço de ironia e voltou a colocar a mão no ombro do monarca. O príncipe aliviou o aperto na sua cintura e ela recuperou a distância que tanto precisava.
Quando a sua mão pequena e magra foi envolvida pela dele, ela encolheu-se. De repente era a bainha de uma espada que a mão do príncipe empunhava e, com a mesma facilidade com que guiou Ofélia, lançou a lâmina aguçada ao pescoço de um soldado e cortou-lhe a cabeça. Ofélia falhou um passo.
"Para a direita", sussurrou-lhe o monarca.
Durante aquele tempo todo Ofélia nem se lembrou de quem estaria a observá-la ou da figura ridícula que fazia. Mas, era claro que a observavam. Afinal era com o príncipe maquiavélico que dançava e ninguém, na corte inteira, tirava os olhos dele. Se se tivesse lembrado, talvez não tivesse grunhido tanto ou tivesse tentado com mais esforço não o pisar tantas vezes.
A cada passo, Ofélia concentrava-se em não cair e não se aproximar muito do príncipe. Relembrou o que a aia Eva lhe ensinara e repetiu os mesmos passos, mas as instruções do príncipe guiaram-na durante toda a balada. E que balada. Era tão triste que em cada nota o coração de Ofélia vacilava e uma emoção pesarosa enchia o salão.
Ofélia seguiu os passos de Tristan e ele aliviou o aperto nas suas costas, deixando-a acompanhá-lo sem mais indicações.
Ofélia afastou-se um pouco mais.
"Cabe outra pessoa entre nós", murmurou o príncipe.
Ofélia observou os pares em seu redor e o seu rosto ficou muito quente. Suspirou e voltou a aproximar-se um pouco mais dele.
O príncipe guiou-a ao som das notas tristes sem mencionar qualquer aprovação.
Ofélia revirou os olhos e fechou a distância entre ambos. Dois podiam jogar este jogo. Ali estava, tão juntos como qualquer outro par.
Eu não tenho medo de ti, era o que ela tentava dizer.
Evitou o seu olhar sempre que pode, como se assim pudesse fingir que ele não estava ali.
Entre os pares que dançavam, Ofélia identificou lorde José, que lhe fez uma pequena reverência com a cabeça. O rosto de Ofélia contorceu-se numa expressão estranha, pouco parecida com o sorriso que ela intencionara, e mais indicadora de alguma espécie de sofrimento ou dor.
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Danças e Poções - CONCLUÍDA
FantasiOfélia, uma aspirante a aia e aldeã secreta, tem de utilizar as suas poções falhadas para salvar um reino da corte, com a ajuda do príncipe maquiavélico. * Ofélia, uma jovem aspirante a aia, ambiciona ser uma eremita nas capelas das Nuvens Altas e c...