Ram estava em prantos, tochas acesas iam de um lado ao outro vasculhando cada canto das casas e até dos cercados dos animais. Hunt verificava se por acaso ela não teria caído no poço, Hol olhava tudo incrédulo, seus filhos organizavam uma equipe de busca, se fossem rápidos, pensaram, talvez ainda desse tempo de salvá-la. Ila tentava confortar Teri, havia colocado um cobertor sobre seus ombros e a abraçava segurando seus soluços.
- Estou falando Puk, é uma aparição. Você os ouviu, a criança dormia dentro da casa – o filho mais novo de Hol teorizava com o estalajadeiro sobre o ocorrido, sentia-se letárgico.
- Isso já foi longe demais – respondeu Puk – só te digo isso, não quero estar aqui quando essa coisa enjoar de comer crianças, vou dar um jeito de ir embora – disse em voz baixa para não ser ouvido pelos demais.
- Alguém viu Buic? – uma mulher o procurava, perguntando aos demais camponeses se o tinham visto.
A aurora chegou, o céu negro se tornou pouco a pouco azul escuro e depois permitiu que no horizonte uma faixa laranja-avermelhada se levantasse. Cascos batiam contra a terra, amassando a grama com seu peso.
- Minha filha! – Teri se levantou num salto correndo na direção dos dois forasteiros vindo a cavalo na direção do centro da vila.
Veldegraix desmontou e desceu a pequena garota da sela, tomando-a em seus braços entregou para sua mãe. Teri a agarrou com força, soluçando em choro, mas agora de alegria e alívio.
- Por Emala! Mestre Velde, onde você a encontrou? – Hunt olhava incrédulo, logo foram rodeados por uma multidão feliz e curiosa.
Veldegraix olhou para Wiehaven e ela assentiu.
- Havia demônios em forma de pessoas na floresta, eram eles quem estavam levando suas crianças embora.
Silêncio tomou conta das dezenas de pessoas ao seu redor.
- Esses demônios enfeitiçaram suas velas para fazê-los dormir profundamente. Quando todos dormiam eles agiam. Mas, não se preocupem! Os demônios foram derrotados!
Foi como soltar de uma vez um fio tensionado, em resposta à essas palavras os camponeses começaram a festejar, abraços, pulos, Puk prometeu uma rodada de cerveja, Teri agradecia sem parar já quase sem voz até que uma mulher encontrou seu caminho entre eles para se aproximar de Veldegraix.
- Buic! Vocês viram Buic? Por favor, digam que sabem onde ele está!
Era a esposa do prefeito.
Vendo seu desespero Veldegraix ficou sem palavras.
- Vocês o encontraram? – insistiu a mulher.
- Ele morreu – Wiehaven finalmente falou – Ele morreu como um herói, lutando contra os demônios, infelizmente não sobrou nada de seu corpo.
A mulher desabou em choro e foi socorrida pelos demais que lhe diziam para ter orgulho de seu marido.
- Agora, me levem até o rio. Há algo a ser feito – disse Veldegraix.
Hunt tomou a frente do grupo e foram todos na direção do Vau-dos-Espinhos, àquela hora o céu já havia se tornado azul claro e o ar frio da manhã terminava de se dissipar ao toque do sol. Veldegraix se aproximou da margem e ajoelhou.
- Na floresta, Emala nos disse que jogássemos essas sementes no rio para que suas águas virassem uma cura contra os efeitos das velas amaldiçoadas – fez uma reverência, abaixou algumas vezes a cabeça, murmurou palavras desconexas e jogou um punhado de sementes quaisquer trazidas consigo, depois se levantou para encarar a multidão espantada com o ritual.
- Vocês devem jogar fora todas suas velas e pelos próximos dias beber, cada um, cinco copos de água desse rio – continuou e depois tornou a montar em seu cavalo – Emala os protegerá, mas se virem pessoas estranhas rondando a região, avisem a Guilda mais próxima.
- Fiquem conosco pelo menos mais uma noite, mestre Velde – disse Puk – por conta da casa!
- Mais uma noite? – pensou Veldegraix esperançoso, mas logo recuou mediante o olhar de Wiehaven – Talvez uma próxima, mestre Puk!
Quando estavam quase partindo, Flum teve coragem de se aproximar deles.
- E Vargu?
- Vargu devorou o líder dos demônios – respondeu Wiehaven.
Seguiram para o norte, na mesma direçãonde estava o morro onde haviam passado parte do dia anterior, aos poucos deixando para trás as casas de Ram e sua floresta para buscaram a antiga trilha que levava até Danhost.
- Você precisava ter feito aquilo, Vel? – seu tordilho avançava feliz em esticar suas pernas depois de um tempo parado.
- Achei que seria melhor, sabe Wen, crenças são importantes.
Sua companheira concordou com um silencioso aceno de cabeça.
Brilhando quase acima de suas cabeças o sol mostrava seu brilho em meio à um céu claro sem nuvens, espalhando seu calor sobre tudo que seus raios conseguiam tocar. O caminho começou a se inclinar sutilmente os levando à um conjunto de colinas acidentadas onde grandes rochas brotavam do chão sem ordem alguma.
Conforme cavalgavam, Veldegraix voltava-se para observar a orla da floresta à distância e os pequenos pontinhos brancos que eram as ovelhas ainda ali amarradas.
- Que foi Vel? – perguntou Wiehaven.
- Não sei, Wen. Tive a impressão de que vi uma mulher cuidando das ovelhas.
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Reinos Despedaçados
FantasíaO Despertar aconteceu, Runeghast se levantou e destruiu o mundo dos homens, espalhando o caos nas Terras Distantes. Começa o período de reconstrução, dos escombros a vida ressurge lutando para se estabelecer novamente. Os Grandes Reinos não existem...