6. Mais Pessoas Normais

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O nome dela está na lista. Ela mostra a identidade ao recepcionista. Quando entra, o interior está à meia-luz, cavernoso, vagamente arroxeado, com bares longos de ambos os lados e degraus que descem até pista de dança. O cheiro é de álcool envelhecido e do aro pequenino e achatado de gelo seco. Algumas das outras garotas do comitê de arrecadação de fundos já estão sentadas à mesa, olhando listas. Oi, Jenny cumprimenta. Elas se viram e olham para ela.

Olá, diz Lisa. Não é que você até que fica bonitinha arrumada?

Você está linda, diz Emily.

Emma Moran não diz nada. Todo mundo sabe que Emma é a garota mais popular da escola, mas ninguém tem permissão para dizê-lo. Em vez disso, todo mundo tem que fingir não perceber que suas vidas sociais são organizadas hierarquicamente, com certas pessoas no topo, algumas se acotovelando no nível médio e outras lá embaixo. Jenny às vezes se vê no degrau mais baixo da escada, mas em outros momentos se imagina totalmente fora da escada, não impactada por seus mecanismos, já que na realidade não deseja popularidade nem faz nada para que lhe seja conferida. De sua posição privilegiada, não é óbvio quais recompensas a escada oferece, mesmo para quem está no topo. Ela esfrega o braço e diz: Obrigada. Querem beber alguma coisa? Eu vou até o bar de qualquer forma.

Achei que você não bebia, diz Emma.

Vou querer uma garrafa de West Coast Cooler, Emily diz. Se você realmente puder me trazer uma.

Vinho é a única bebida alcoólica que Jenny já tomou, mas quando vai ao bar resolve pedir uma gim-tônica. O barman olha diretamente para seus seios enquanto ela fala. Jenny não fazia ideia de que os homens de fato faziam essas coisas fora dos filmes e da tv, e a experiência lhe dá um leve calafrio de feminilidade. Usa um vestido preto opaco que fica justo no corpo. O ambiente continua quase vazio, embora tecnicamente o evento já tenha começado. De volta à mesa, Emily lhe agradece com extravagância pela bebida. Fico te devendo uma, ela diz. Deixa pra lá, diz Jenny, acenando com a mão.

Passado um tempo, as pessoas começam a chegar. A música também começa, um remix martelado de Destiny's Child, e Emma entrega a Jenny o talão de rifas e explica o sistema de preços. Jenny foi eleita para participar do comitê de arrecadação de fundos do baile de formatura supostamente a título de piada, mas tem que ajudar a organizar os eventos mesmo assim. Talão de rifas à mão, ela continua parada ao lado das outras meninas. Está acostumada a observar essas pessoas de longe, quase de maneira científica, mas esta noite, tendo que puxar conversa e sorrir educadamente, já não é mais uma observadora e sim uma intrusa, e do tipo esquisito. Ela vende alguns bilhetes, pegando o troco de um porta-moedas na bolsa, compra mais drinques, olha para o chão e desvia o olhar com frustração.

Os garotos estão bem atrasados, comenta Lisa.

De todos os garotos possíveis, Jenny sabe a quem ela se refere: Zac, com quem Lisa tem uma relação de idas e vindas, e seus amigos Harry, Chris e Evan Peters. O atraso deles não escapou à percepção de Jenny.

Se eles não aparecerem, vou matar o Evan de verdade, declara Emma. Ele me falou ontem que eles viriam com certeza.

Jenny não diz nada. Emma volta e meia fala de Evan dessa forma, aludindo a conversas particulares ocorridas entre os dois, como se fossem grandes confidentes. Evan ignora esse comportamento, mas também ignora as indiretas que Jenny dá sobre isso quando estão a sós.

Eles provavelmente estão fazendo um esquenta na casa do Zac, diz Lisa.

Vão estar completamente bêbados quando chegarem, diz Emily.

Jenny pega o celular da bolsa e escreve uma mensagem para Evan: Discussão acalorada aqui com sua ausência como tema. Você está planejando vir? Em trinta segundos ele responde: Sim o Chris acabou de vomitar em tudo então tivemos de botar ele num táxi etc. a caminho já já. como você está se saindo socializando com as pessoas. Jenny responde: Agora sou a nova garota mais popular da escola. Todo mundo está me carregando pela pista de dança gritando meu nome. Ela guarda o celular de volta na bolsa. Nada lhe seria mais excitante neste momento do que dizer: Eles vão vir daqui a pouquinho. Que status apavorante e atordoante lhe dariam neste único momento, que desestabilizante seria, que destrutivo.

Imagines - Evan Peters (traduções e adaptações)Onde histórias criam vida. Descubra agora