+14 | Havia apenas duas coisas que irritava Sadie: Bloqueio de criatividade e sua vizinha.
Todos os dias, o som alto da sua bateria chegava aos seus ouvidos, atrapalhando seu sono e sua concentração. Fazia meses que ela estava com um maldito bloquei...
A brisa do mar azul fazia meus cabelos ruivos voarem, automaticamente fechei os olhos para aproveitar o momento e sentir meus ombros relaxarem. Respirei fundo, tendo mais contato com o vento, logo, as vozes das pessoas que passeavam por ali se tornaram abafadas. Por alguns minutos, foi como se todos os problemas do mundo sumissem.
Mas o momento foi cortado quando a garçonete colocou meu pedido em cima da mesa de carvalho. Esse era o bom de se morar na praia, você poderia facilmente aproveitar a maresia e ao mesmo tempo se sentir no ambiente urbano. Agarrei meu bretzel e mordi um pedaço enquanto mantia meu olhar nas pessoas andando por ali, algumas conversando no telefone, outras aparentemente ouvindo música, correndo, passeando com seus bichinhos...
— Acabaram de mandar um e-mail! Disseram que não se sabe quando vou poder voltar ao meu apê, acham que eu posso colocar fogo no prédio inteiro! — Caleb resmungou e logo depois bebeu um longo gole do seu suco de laranja —
Caleb, meu meio-irmão. Ele é alto, mas tão alto que tem que se abaixar para passar na porta de casa. Sua pele negra é linda, moreno e de olhos azuis, mesmo com toda a musculatura. Caleb era um ursinho, chorava em filmes de romance e adorava animais.
Nossos pais se casaram quando ainda éramos crianças, desde então somos inseparáveis e isso resultou em nos mudarmos para Santa Mônica juntos. Mês passado, Caleb acidentalmente colocou fogo na cozinha do seu apartamento, - não fazia nem uma semana que ele tinha se mudado - e agora nós moramos juntos.
— Sinto muito - foi a única coisa que eu falei, aliás, o que você diria para alguém que acabou de perder seu apartamento? -
Ele balançou a cabeça tristemente. Havia sido sua primeira conquista depois que saiu de casa, conseguiu comprar um apê com o próprio dinheiro e tinha ficado orgulhoso disso, queria poder ajudá-lo. Mesmo ele dizendo que oferecer minha casa era uma ajuda imensa.
— Já está ficando tarde, vamos para casa? - sugeri querendo cortar o clima ruim -
— Vamos, preciso de distração! - Caleb disse se levantando -
Voltamos para minha casa em silêncio. Eu olhava para a janela esperando que minha mente clariace e finalmente eu tenha alguma ideia para escrever.
Havia completado sete meses desde que eu lancei meu primeiro livro: Descobrindo o amor. Um romance que chegava a dar diabete de tão melodramático que era, desde então meus leitores estavam pedindo sem parar para que eu lance mais um, ou até uma continuação. Eis o problema; Quando você tem o hábito de escrever, vai chegar um momento da vida em que do nada você vai ficar sem ideias, sem ter o que imaginar. O famoso bloqueio.
E quando você, escritor. Tem seu próprio conteúdo, seu próprio universo de escrita... Você faz o possível e o impossível para que surja ideias do nada, o meu segredo é observar as pessoas e pensando em qual tipo de personagem ela se encaixaria. Já que se você está em um lugar lotado, você nem imagina o tanto de histórias que aquelas pessoas tem para contar, segredos que você imagina. Mas bem, eu gosto de imagina-los.
— Olha só, mais um vizinho indo embora - Caleb disse de repente -
Só então me toquei de que ele já estava estacionando o carro na garagem, tirei o cinto e me inclinei para ver o retrovisor, que mostrava um caminhão de mudanças em frente a casa de uma senhorinha.
— É a dona Lurdes, será que ela vai para o asilo? - perguntei -
— Ou talvez seja aquela vizinha insuportável! - Caleb respondeu irônico -
Me lembrei de como a dona Lurdes odiava a vizinha, talvez mais do que eu.
Descemos do carro e ao abrir a porta, conseguimos ouvir o som da sua bateria, suspirei tentando controlar a raiva dentro mim. Caleb trancou o carro enquanto eu abria a porta de casa contando até dez antes que eu pudesse fazer alguma besteira.
— Ela poderia pelo menos colocar aquelas paredes que abafam o som - Caleb sugeriu -
— Sério? O que acha de falar isso para ela? - perguntei irônica -
Caleb fez uma careta e entramos em casa, fui direto subindo as escadas para chegar ao meu quarto, fechei a porta e procurei meus tampões pelo quarto, não estava com paciência para ouvir a bateria da vizinha.
Me deitei na cama e esperei que aquele som insuportável abafasse, fechei os olhos, imaginando que o som não estivesse mais ali. Deu certo, pois eu caí no sono.
Quando abri meus olhos, já consegui ter uma visão ampla da lua brilhando, olhei no relógio da cabeceira e marcava exatamente seis e meia, dormi tanto assim? Pelo menos o barulho havia parado.
Me levantei e fui até o banheiro para tomar um banho, era disso que eu gostava: do silêncio. Enquanto sentia a água quente cair nos meus ombros, podendo enfim relaxar os músculos. Pensei em histórias românticas ou até drama, mas nenhuma que eu achava boa o suficiente para começar a escrever.
Saí do banheiro já vestida, com os cabelos ruivos molhados, desci as escadas e avistei Caleb sentado no sofá vendo televisão.
— Dormiu bem? - perguntou sem tirar os olhos da tela -
— Dormi bem demais.
— Que bom pra você, vamos pedir uma pizza? - sugeriu Caleb -
Me sentei ao seu lado e ele me observou atentamente, por fim, assenti.
— Você pode escolher os sabores - respondi sem importância -
Agarrei meu celular que estava na mesinha de centro e vi mensagens de Iris me convidando para o seu aniversário no sábado que vem.
— Você viu aquela reportagem da mulher que fez protesto colando cartazes no carro das pessoas que iam contra a sua opinião?
Caleb me perguntou enquanto esperava o pessoal da pizzaria lhe atender, neguei com a cabeça e entrei nas redes sociais, como se fosse conectado, a primeira coisa que apareceu foi a foto da mulher ao lado dos cartazes.
Observei os cartazes que eram na verdade xingamentos. Ela poderia receber um grande processo por causa disso.
No mesmo momento, as batidas começaram e eu sabia que a vizinha iria começar o seu show, respirei fundo e joguei a cabeça para trás.
Estava prestes a fazer o mesmo que a moça dos cartazes, que se dane se eu fosse processada.
Uma hora aquilo teria que acabar.
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