A risada escandalosa de Karol sem dúvidas chama atenção de qualquer um, principalmente por estarmos na área do movimento. Hoje Genaro mandou eu ficar de frente em uma das bocas, segundo ele, essa boca estava dando muito problema — vendendo pouco — e eu com meu jeitinho cativante, conseguiria vender até pedra de asfalto. Na cabeça dele por ser mulher eu venderia mais, e quer saber? Ele está coberto de razão, realmente estou vendendo bastante. Os cara perde a linha por um short curto e um top da Calvin Klain. Pode olhar, contanto que levem a merda toda.
Felipe odeia a ideia de Genaro me envolver nas paradas todas, e principalmente a intimidade que ele e eu temos, vejo Genaro como um pai e ele me tem como filha. Felipe diz que esse tipo de coisa não é para mulher mas quem manda nessa comunidade é Genaro, não ele. Além do mais, desde que vim para cá —foragida da polícia — busquei e envolver mais e mais, hoje já mergulhei tanto que seria impossível cogitar a ideia de voltar, obtive uma sensação de liberdade, como se todos esses anos eu tivesse sido boa demais para todos e terrivelmente péssima para mim. Preciso ganhar a vida, o mundo é movido a dinheiro e foragida eu não conseguiria emprego em lugar algum, o movimento paga bem e me acolheu. Aprendi com Felipe o manuseio de uma pistola, fuzil e, é claro, atirar. O que tenho comigo para minha proteção é uma Glock, para mim está de bom tamanho. É muito complicado estar nessa vida, eu nunca soube até entrar mas é claro, por vontade própria mas como tudo tem um propósito, o meu é aniquilar Diguinho.
Falando na peste, ele não tentou mais nada nesses dois anos, mas ainda se acha o fodão, vive deixando claro o quanto Ret é um perdedor e etc... Minhas mãos grita pelo sangue desse miserável.
— Vou deixar suas roupas lá no teu barraco, tranquilo? — Indaga Karol.
— Pode deixar. Tem uma menina lá, cuidando do Kauã, é só deixar com ela. — Explico — Ah, não deixa o Felipe ver.
Ela ajeita a mochila nas costas e me encara enquanto eu observo as pessoas indo e vindo, e os dois soldados que estavam trabalhando comigo na boca, voltando do almoço. Marlon e Pituca.
— Por que?
— Ele tá de graça com as minhas roupas. Só deixa lá.
— Quem te viu, quem te ver, mona. Se revoltou — comenta — a vingança é um bom prato.
— Para mim será o melhor.
Paro de falar quando vejo um cliente se aproximar. O homem aparentava ter uns trinta anos, pardo, pele castigada pelo sol. Ele me olhou e sorriu, me levanto indo em sua direção.
Ele corre seus olhos pela mesa decidindo o que iria levar. Karol mexe em seu celular e solta uma risada. Os meninos já ficam em alerta pela demora do homem a minha frente. Ele não era policial ou algo do tipo, estava longe disto, sei que não devemos julgar ninguém pela aparência mas ele não era. Certeza.
— Me dá essa aí de cinco — Finalmente pede. — tá boa? — pergunta sorrindo.
— A melhor do Chapadão, meu amor. Não quer levar essa de dez? Tá muito boa, pesadinha. — digo e ele analisa a mesma.
— Vou poder fumar contigo? — Pergunta.
Ouço os meninos atrás de mim soltarem uma risada. Karol larga o celular e fita o homem, segurando a risada.
— Posso te da essa oportunidade se levar essa. Muito provavelmente da próxima vez que vier aqui levar outra, irei fumar com você — minto.
— Então me vê essa de dez aí, morena
Ele me dá uma nota de vinte para pagar.
— Poxa, estou sem troco. O movimento aqui começou agora. Por que não leva a de vinte?
Óbvio que eu tinha troco e se não tivesse, seria fácil de arrumar mas quem não tenta, não vende. Na minha cabeça impus uma meta e iria cumprir.
— Tá de brincadeira, né mulher? — pergunta sorrindo.
— Não, mas você não vai se arrepender. Garanto.
— Suave. Fico com a de vinte.
Abro um sorriso e o entrego. Ele põe a maconha no bolso e me encara malicioso.
— Tchau, querido. — Digo me sentando — volte mais vezes.
— Claro que vou. — Dispara.
Quando o homem da as costas para ir embora os meninos riem. Parecem suas crianças rindo com um fuzil na mão.
— Mano, se o Ret vê um bagulho desse tu perde os dentes — Diz Pituca. — o cara mais iludido que as novinhas daqui
— Felipe que lute, que quero é dinheiro. — Disparo.
— Mapoa tá das brabas. — Diz Karol. — nega, tô indo, ainda tenho entregas para fazer e mais tarde o canalha do Diguinho me colocou pra vender no asfalto de copa.
— Já falei pra você vir ficar com a gente — Digo.
— Não posso, louca. Tenho minha casa, meu marido lá. Se eu vier para cá ele põe fogo em tudo que é meu. O cara tá com ranço de vocês.
— Como ele deixa você vir para cá?
— Ele sabe que não vou trocar de lado. Quem tem, tem medo né. — explica — tô indo, vou deixar as coisas na sua casa. Beijos, querida.
— Beijos linda.
Karol sai chamando atenção de todos. Ela sempre anda com meio quilo de maquiagem de rosto, roupas curtas e a maioria das vezes de botas, pode estar o calor quer for, ela sempre está montada.
O restante do dia passou devagar, o movimento da boca foi bom, melhor que da última semana. Nunca imaginei que mulher poderia ter um poder inigualável nas mãos, principalmente para vendas seja lá do que for. Deste dia não tirei o horário de almoço, comi um salgado sentada no ponto de vendas mesmo.
Quando deu por volta das sete, eu estava pronta para deixar o ponto e permitir que Jeff assumisse até madrugada a dentro. Pego o dinheiro do meu turno guardo em minha bolsinha da adidas preta, calço meus chinelos — Péssima mania de tirar os chinelos em qualquer lugar — e vou de encontro a casa onde ocorre a endolação, Genaro e Felipe estavam lá com certeza, hoje era dia de contabilidade o que significa que nenhum dos dois saíram de lá durante todo o dia.
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Complexo do Chapadão 3 (DEGUSTAÇÃO) (FINAL)
Teen FictionTerceiro livro de CDC O poder agora está nas mãos de Mariana. E Ret terá que se preocupar duas vezes mais, porque ninguém para quem tem potencial. Inocência aqui não tem vez, o jogo é insano e a sede de vingança os une em um elo inquebrável. Juntos...