Termino de atender um cliente e volto minha atenção a Jeff, para que ele me explicasse tudo antes que ficasse mais drogado que o normal. Com a quantidade de lança que ele esta usando, vai entrar em coma.
— Genaro não comentou nada comigo. — Digo em seu ouvido.
— Deve falar amanhã. Relaxa, perigosa tu vai dar conta. Ele ta pegando confiança em tu. — sorri — aí se liga, te passei os números das mina que querem vir fazer a endolação já.
— Tranquilo é nós.
Os minutos se passaram e minha mente martelava de onde Genaro tirou a ideia de que eu posso liderar um roubo de carga. Bom, o cara ta nesse ramo faz anos e se viu que sou capaz, suave.
De longe avisto Ret, é fácil já que a maioria o cumprimenta. Sem camisa e com um fuzil ele tenta fazer alguns passinhos com os meninos, mesmo com o pé machucado. Um dos soldados fala algo em seu ouvido o fazendo acenar com a cabeça e bater na mão do cara, como uma forma de agradecimento. Seus olhos percorrem o local onde estou, proximo a parede de caixa de som, logo ele me encontra. Acho incrível que mesmo querendo matar um ou outro — as vezes — quando nossos olhares de cruzam eu sinto um frio na barriga, não por medo mas como se fosse a primeira vez em que ele me beijou. Apesar de tudo, eu o amo. O homem vem em minha direção mancando, continuo atendendo alguns clientes. Ret se põe ao meu lado esperando pacientemente eu terminar de atender. Quando finalmente termino ele se aproxima do meu ouvido.
Lá vem merda.
— Ta trabalhando demais.
— E você deveria estar em casa — digo em seu ouvido — se eu não pago Dandara, seu filho fica sozinho, ne? Porque você nem em casa foi.
— Te devolvo o dinheiro depois.
— O problema não é o dinheiro, Felipe. Você sabe que sempre te cobrei que olhasse mais pelo Kauã. — explico.
— você é minha mulher, tem que me ajudar nisso.
Solto uma risada.
— Exatamente. Posso te ajudar as vezes mas a responsabilidade semore vai ser tua. Sou tua mulher, não babá. — digo sem pudor.
Sua feição muda, o homem ao meu lado não gostou de ouvir o que eu disse.
— Ta querendo dizer o que, fala logo. — rebate grosseiro.
— To querendo dizer que eu posso até fazer papel de mãe, mas eu não sou! E não quero ser mãe Felipe. Posso te ajudar porque eu amo o moleque mas isso não significa parar minha vida enquanto você faz o que quer e joga a responsa no meu peito. — disparo — acorda, cara. Filho não é brincadeira na hora de meter foi bom, agora segura o b.o porque nem comigo foi.
Seus olhos estavam fixoa sobre mim. Ele apenas balança a cabeça e ri. Ret sai de perto de mim como se eu fosse qualquer pessoa mas eu o conheço, sei que minhas palavras fizeram algum efeito dentro do mesmo. Eu não quero parecer egoísta ou até mesmo parecer que não me importo com Kauã mas estou cansada de bancar a mãe enquanto Felipe tudo pode, já fiquei sem trabalhar muitas vezes porque o menino estava doente e quem ficava no upa era eu. Como disse, não me importo de ajudar mas não quero fazer um papel que não me agrada. Foi-se o tempo em que mulher ficava dentro de casa cuidando de filho, roupa e faxina, semprr fui muito independente e nada vai mudar isso ainda mais agora, na vida que estou, o cuidado é dobrado e eu tenho que trabalhar para ter o meu. Nego acha que vender drogas da muito dinheiro, pode até dar se você vender para si mas quando se trabalha na boca, não é tanto assim. Há uma estrutura hierárquica, que nos permite subir de cargo, podemos ganhar de 100R$ a 3.000R$. Hoje eu ganho 250 por turno, isso por conta da comissão e quando deixo de trabalhar isto cai para 100R$,150R$.
Felipe é o subgerente, abaixo de Genaro e eu sou o intermediário, junto com mais dois. Óbvio que eu deveria ganhar mais e vou! Irei ganhar por volta de 1.500 R$ a 2.000R$O intermediário tem um papel fundamental, por exemplo, se a pessoa quer comprar drogas, ela tem que conhecer os intermediários, a pessoa que vai Ihe fornecer a droga. Se uma pessoa que nunca foi numa boca subir sem conhecer os intermediários, ela desce e vai embora sem a droga. Dependendo do lugar, é perigoso nem descer. Tem lugar que é assim. Se o cara é estranho e não está acompanhado por alguém do morro, pode se dar muito mal.
O atrativo da boca de fumo para muitos não é o dinheiro, o que todo mundo acha, é claro que o dinheiro vem fácil mas não é muito, pelo menos não para nós que vende as bocas faturam muito, muito mesmo mas os trabalhadores nem tanto. O atrativo na verdade além da sensação de poder — para os adolescentes iludidos — é a possibilidade de subir de cargo rapidamente e assim ganhar bem mais. Se em uma empresa você demora de cinco a oito anos para ser promovido, no tráfico você leva meses ou menos, dependendo da sua capacidade ou habilidade.
O nosso objetivo sempre será ganhar dinheiro. Não é matar, não é invadir, mas é ganhar dinheiro. São três turnos e as vezes 24 de serviço, o negócio é puxado.
Como intermediário eu posso pegar meu salário em mercadorias, como fiz hoje, obviamente não peguei tudo mas peguei uma quantia boa e assim eu revendo e o lucro é todo meu. Rapidamente vou conseguir o dinheiro que eu preciso. Talvez eu saia dessa vida quando finalmente conseguir montar a loja. Talvez.
Quatro da manhã e minhas mercadorias haviam terminado, mas nego ainda vinha me perguntando se ainda tinha. Da próxima vez eu trago bem mais. Estou com sono por ter ficado de pé algumas horas, sem beber ou curtir. Pego minha mochila e corro meus olhos pelo local afim de achar Ret, mas a cena que vejo não foi a melhor.
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O valor simbólico é bem baixinho, acessível a qualquer pessoa.
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Complexo do Chapadão 3 (DEGUSTAÇÃO) (FINAL)
Teen FictionTerceiro livro de CDC O poder agora está nas mãos de Mariana. E Ret terá que se preocupar duas vezes mais, porque ninguém para quem tem potencial. Inocência aqui não tem vez, o jogo é insano e a sede de vingança os une em um elo inquebrável. Juntos...