Quatro (DEGUSTAÇÃO)

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Logo quando termino de subir as escadas os olhos atentos de Genaro encontram os meus. Ele ignora minha presença e voltar sua atenção para o rádio comunicador em sua mão. Respiro fundo enquanto observo os soldados vigiando cada canto. Onde Felipe esta? — me pergunto — Genaro se levanta rapidamente e corre para o muro, puxa sua arma e mira em algum lugar. Aconteceu tudo tão rápido, em frações de segundos a troca de tiro ficou mais intensa, tudo o que fiz foi me jogar no chão. Pensei que estava preparada para isso, mas olha que grande covarde.

Sinto alguém puxar minha blusa para trás, fazendo meu corpo levantar alguns centímetros do chão. Felipe. Ele não diz nada, armado com um fuzil ele faz sinal para que eu desça as escadas enquanto me da cobertura para isto. Eu faço. Desço correndo enquanto ouço a bala comer sem parar e os gritos dos soldados, alguns desciam desesperados. Aqueles homens ficaram lá em cima por ums vinte minutos até descerem, como se eu não existisse ali eles sairam da boca, cada um fortemente armados.

— Fica aqui.

Foi tudo o que saiu da boca de Felipe antes do mesmo passar pela velha porta de ferro. Eu estava me sentindo uma inútil, pensei que teria alguma utilidade hoje mas pelo visto não sirvo para isto.

Chuto a cadeira em minha frente e bufo.

Não sei quantas horas se passaram até que cessaram os tiros e alguns daqueles homens entrassem a boca principal novamente. Alguns feridos, outros cansados, Felipe fazia parte da turma dos cansados, ou melhor, exaustos. Me perco em meio a conversa deles em relação ao que houve, até Ret levar seus olhos de encontro aos meus mas permanece em silêncio. Ele deixa o fuzil no chão, apoiado na mesa.

— Onde esta Genaro? — indago.

— Tentando um acordo. — Explica Felipe.

— Com a polícia militar? Meio difícil.

— Ele tem gente la dentro, facilita. — diz — agora me fala, ta fazendo o que aqui?

Ele se aproxima de mim.

— Você mandou eu ficar, lembra?

— Não seja sonsa, você entendeu minha pergunta. Tava querendo morrer?

— Não. Eu pensei que poderia ajudar.

Ele solta uma risada pelo nariz, me provocando raiva.

— Para de achar que ta preparada para isso, porra. Isso aqui — ele abre os braços chamado atenção — não é brincadeira.

— Eu não disse que era. Você não nasceu sabendo Felipe, então me deixa tentar aprender. Você melhor que ninguém sabe que preciso estar preparada caso Diguinho venha.

— Se eke vier, eu mato. Seu lugar é na venda, só isso.

Me levanto furiosa.

— Vai tomar no seu cu, Felipe. Acha que pode ditar o que eu vou ou não fazer? Vai ter que me engolir em todos os lugares. — disparo raivosa — você prefere que um desconhecido entre para o movimento e se junto do que sua mulher, em quem você confia?

— você ta ficando noiada, filha da puta? Ta cheirando cola? Se me mandar tomar no cu outra vez eu esqueço quem tu é. — Ameaça.

— Eu não tenho medo de você Felipe e muito menos das suas ameaças inúteis. Homem não ameaça, ele faz. Quando se trata de mim, você só fala.

Ret vem até a mim em poucos segundos mas antes que ele pudesse fazer algo, a pistola que antes estava em minha cintura, esta em sua testa. Os olhares atentos dos soldados ali presentes, o silêncio, tudo fez minha adrenalina subir.

— Tenta me bater outra vez e eu juro que mato você — Digo.

Felipe ri debochado. Segura em minha pistola e põe no centro de sua testa.

— Atira, se você não atirar eu vou te arrebentar na frente de todo mundo.

— Não brinca comigo.

— VAI, PIRANHA. ATIRA!

— você não vai entrar na minha mente, seu infeliz. — Digo nervosa.

Minha mão estava suando eu não sabia exatamente se ele iria cumprir com as ameaças mas não duvido.

— Ou você atira ou ta fodida na minha mão. Ninguém põe arma na minja cabeça e sai ileso, não vai ser você que vai sair. Ta achando que só porque abre as pernas pra mim eu amoleço pro teu lado? Va...

Antes que ele pudesse terminar eu miro em seu pé e atiro. Ouço risadas e murmuros dos homens presentes.

— Seu problema é que você fala demais. — Digo calmamente.

— Sua. filha. da. puta. — diz se sentando — eu vou te matar, Mariana.

A dor era perceptível. Um dos soldados foi ajudá-lo enquanto eu busco um pouco de remorso dentro de mim. Simplesmente não há.

Genaro adentra a porta com um homem, aparentemente na casa dos trinta e poucos anos, bem charmoso mas espera, ele esta vestido com o uniforme da polícia civil?

— Foi alvejado, Ret? — Genaro indaga encarando o pé de Felipe.

— Porra nenhuma, a perigosa ai que meteu bala no pé dele — um dis soldados disse rindo.

Genaro me olha e ergue suas sobrancelhas. Talvez esperando um explicação?

— Ele ameaçou me bater — digo simples.

— Caralho, eu chego aqui para apresentar meu braço direito depois de um troca de tiros e vejo que ele levou chumbo de mulher. Tu é um comédia, Ret.

O homem que acompanha Genaro solta uma risada. No momento Felipe opta pelo silêncio ou melhor pelos grunhidos de dor.

— Ele precisa retirar a bala — a voz fo homem soa grave.

— No posto eles fazem isto. — Digo. — Vamos, Felipe eu te levo.

— Eu vou sozinho, caralho. Quero distância de você — diz raivoso — um de vocês ai, pega minha moto lá. — Ele pede para um dos soldados e joga a chave na mesa.

A arrogância desse homem me deixa c um ódio súbito, por isso não me arrependo do que fiz.

— Silvio, esse é o meu braço direito, Ret — Apresenta Genaro.

— Ja ouvi falar muito — Diz Silvio e Felipe abre um sorriso convencido em meio a dor.

— E essa perigosa ai é a Mariana, ta com a gente aprendendo ai.

Ele estende sua mão e eu aperto, o mesmo abre um sorriso me encarando.

— Boa de mira ela é. — Diz.

— Tu criou cobra pra te picar, Ret. — Diz Genaro, rindo pela fato de Felipe ter me ensinado tudo.

Complexo do Chapadão 3 (DEGUSTAÇÃO) (FINAL) Onde histórias criam vida. Descubra agora