Dois. (DEGUSTAÇÃO)

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Entro no local onde fica a confecção de tudo, mas não sem antes passar por uns vinte homens armados, cada um em seu plantão. O calor estava demais, ultimamente parece que o sol está cada vez mais próximo a terra. Prendo meus cabelos em um coque e adentro ao local que tinha cheiro de maconha com cachaça. Chamo atenção dos homens presentes mas quando notam que sou apenas eu, eles voltam as suas atividades. Felipe estava ficado nas contas com o caderno em sua frente. Genaro sentado ao seu lado contado um bolo de notas, em seus lábios um cigarro. Me aproximo de ambos e jogo o malote em cima da mesa. Felipe ergue seus olhos até a mim, Genaro faz o mesmo e sorri ao ver o dinheiro.

— Tá aí, o do dia. — Digo.

Felipe pega o dinheiro e analisa dando uma boa olhada. Seus olhos se desviam para a porta, quando vê Marlon adentrar ao local e se jogar no velho sofá.

— Fala ai, rapaziada — Marlon cumprimenta, os demais respondem.

Logo os olhos de Felipe estão sobre mim novamente. Genaro pega o malote de sua mão.

— Como conseguiu? — Pergunta o chefe, Genaro.

— Nunca me subestime. — Digo.

— Aí, tu é a melhor. Na moral, vai ganhar uma comissão maneira. — Ele diz alegremente.

Felipe continua a me encarar.

— Porra, os cara dando em cima dela. Vendeu muito, irmão — Marlon abre a boca gigantesca.

Vejo apenas Ret arquear uma de suas sobrancelhas.

— Vendeu só drogas mesmo, Mariana? — Ret indaga.

— Está insinuando o que? Seu insuportável.

— Ué, caralho. Um monte de macho dando em cima de você, foi mole né?

Ele estava com raiva.

— Ah, Felipe vai tomar no cu. — Digo sem paciência. — se não vende reclama, se vende reclama.

— Contigo resolvo em casa. — Ele diz voltando sua atenção para o caderno.

Ih, bagulho estreitou — ouço alguém fazer piada.

— Acalma o coração, Ret, a mina tem talento. Sua mina vale ouro, porra –Diz Genaro.

— Isso, né caralho. Minha mina, né porra.

Rolo meus olhos e me direciono a cadeira de ferro, me sentando ao lado dos menores que fazem o processo da endolação. Retiro a glock de minha cintura e ponho em cima da mesa — isso machuca — me ajeito na cadeira e ponho a mão na massa para ajudar os meninos. Tudo o que se ouve é a conversa dos meninos. Termino de fazer algumas endolações e vejo um dos soldados pegar uma das minhas e analisar.

— Porra, mulher tem mais paciência pra fazer. Olha isso, irmão — ele mostra para Genaro.

— Tá bom mermo.

— Acho que seria uma boa pegar umas meninas para fazer esse processo, paga cem reais para cada uma. Somos mais pacientes, com certeza fariam grandes quantidades em poucos dias e o trabalho seria perfeito — explico. — enquanto esse bando de homem aqui, vão trabalhar de verdade em outra coisa.

Genaro se levanta esticando sua coluna, por ficar horas sentado.

— É uma boa ideia, pô. Faz assim, tu fica na responsa de convocar, Mari. Pede o Jeff para te passar o contato de algumas das minas e tu entra em contato, tá ligada? Vê quem topa.

— Tranquilo. — Digo sorrindo.

— Péssima ideia — Diz Felipe.

— Ninguém te perguntou, Ret — Digo revirando os olhos.

— Muita mulher junto da kaô, tô dizendo. Quem vá ficar na responsa por esse monte de xereca junto?

— A Mariana, né não? — Pergunta Genaro.

— É nós. — Digo convicta. Ele se aproxima e bate em minha mão.

Felipe não retruca mas sei que por dentro ele quer me fuzilar, pelo simples fato de odiar me ver participando dessas coisas. Ele queria montar um negócio para mim aqui no morro mas eu não quis, o machismo dele me causa nojo. Ele vai ter que me engolir trabalhando juntamente a ele, querendo ou não.

— Tá na hora de tu ir pra casa, não Mariana? — Ret pergunta olhando para o relógio. — Já acabou seu plantão.

— Fazer o que em casa, Felipe?

— Janta, porra. Tu ainda tem marido. — Diz raivoso — bora, circula.

— Felipe, eu faço quando for emb...

Ele me interrompe.

— Meu irmão, não quero saber. O gerente dessa porra sou eu. Mete o pé.

O silêncio se instala, os homens ficam me encarando, esperando alguma reação. Me levanto da cadeira e encaro Genaro que não fala nada. Óbvio que ele não iria me defender, Felipe é o gerente, sou apenas funcionária.

— Babaca — Digo, pego minha glock e saio do local.

A distância até nosso barraco não era grande, fui caminhando. Quando cheguei bati no portão até Dandara, a baba de Kauã abrisse. A princípio queríamos que Luzia retornasse mas a mesma já está em idade avançada, se aposentou. Dandara é amiga de Karol, é uma menina bastante simples e necessitada isto vemos de longe. Essa menina parece um anjo mas aqui é um olho no padre e o outro na missa.

Entro em casa e vejo Kauã assistindo televisão, ao notar minha presença ele se levanta e vem até a mim, me dando um abraço.

— Cadê o papai? — Pergunta.

— Teu pai ainda está trabalhando, mas nós dois vamos comer. Você me ajuda a fazer janta?

— Fazer comidaaaaa — Ele diz alegremente.

— Tô indo então, Mariana. Obrigada — Diz Dandara.

Ela sempre agradece quando vai embora, quando na verdade que tem que agradecer somos nós. A menina sai pela porta e eu vou direto para a cozinha, estava com fome, não havia comido nada além de um salgado. Por isso nunca engordo, continuo uma vara.

Kauã me ajudou a fazer almôndegas com purê de batatas, até que ficou bom, pelo menos a cara estava boa. Felipe gosta da minha comida, ele faz questão que eu cozinhe todos os dias, já não consegue se entupir de quentinha como antes. Passavam-se das nove quando ouço o barulho do portão, era ele. A porta se abre e não demora muito para Felipe aparecer na cozinha.

Sinto sua barba por fazer roçar em meu pescoço enquanto seu braço está em volta da minha barriga me pressionando contra ele.

— Pensei que estivesse bolado comigo — Digo.

— Eu tô — murmura. — mas não posso quebrar tua cara, vou fazer o que? Só passar raiva mesmo.

— Exatamente.

Me viro para ele e dou um beijo em sua boca. Sua mão atrevida aperta minha bunda com força, sua ereção já começa a se mostrar.

Tia Mari...

Oh, merda.

Complexo do Chapadão 3 (DEGUSTAÇÃO) (FINAL) Onde histórias criam vida. Descubra agora