Capítulo 2

2.5K 248 327
                                        

Depois que Marinette colocou toda a aflição que sentia para fora, quando já não restava mais lágrimas para derramar. Fungando e embaraçada pela situação, tentou se afastar de Cat Noir. 

Mas ele não permitiu, permaneceu envolvendo protetoramente os ombros de Marinette. O queixo apoiado com delicadeza em cima da cabeça dela, enquanto acariciava a pele desnuda dos braços da garota na melhor das intenções. Ele não queria vê-la chorar daquela forma nunca mais, por motivo algum. Foi extremamente doloroso presenciá-la naquele estado sem poder fazer nada para ajudar, além de mantê-la segura rente ao seu peito.

— De-desculpa, Cat. — lamentou, ainda envergonhada. — Molhei todo seu traje, eu sou uma boba.

— Você é muitas coisas, Marinette — sussurrou —, mas boba não é uma delas. — ele pensava em vários adjetivos para descrevê-la e o faria.

Principalmente quando Marinette entendeu erroneamente sua afirmação.

— É, com certeza sou coisa pior. — murmurou cabisbaixa, no entanto, se manteve cativa no abraço de Cat Noir.

O calor de seu corpo a acalmava de uma maneira inesperada.

— Princesa, olha pra mim. — pediu, tocando o queixo de Marinette. Levantou com cuidado até estarem olhando nos olhos um do outro. Ela aguardou, sentindo o coração bater acelerado e um bolo se instalar em sua garganta.

Era embaraçoso estar tão próxima de Cat Noir assim, causava-lhe desejos estranhos e incoerentes. 

Do tipo, o que ele faria se ela o beijasse para tentar esquecer Adrien? Seria tão repulsivo? Balançou a cabeça, afastando o pensamento.

Estava louca, só podia.

Em qual universo Cat Noir a beijaria por qualquer razão que fosse? Ele amava Ladybug, seu alter ego super interessante. Não ela, a simples Marinette... atrapalhada e tímida.

— Tudo bem, gatinho. — ela forçou um sorriso. — Eu já estou melhor.

— Escuta, princesa. — o estômago da garota gelou, ele espalmou o rosto dela com uma das mãos. A outra deixou repousada confortavelmente em sua cintura. O calor irradiava de sua palma diretamente para a pele de Marinette, causando um arrepio gostoso por todo seu corpo. — Não sei exatamente pelo o que está chorando, mas gostaria que me contasse se puder. Não é agradável te ver desse jeito, então, independentemente de qualquer coisa. Quero que esteja ciente das suas qualidades, você é atenciosa com todas as pessoas ao seu redor. Sem esperar nada em troca, é fofa em níveis estratosféricos. Tanto que tem vezes que eu quero te morder... — nesse ponto ele deu uma risadinha travessa. — Você é assim, aquela garota acessível, que qualquer um pode chegar e pedir ajuda. É fácil gostar de você, Marinette. Eu queria que pudesse se ver através dos meus olhos. — ela ficou em choque com a boca entreaberta. — Se alguém a fez sentir-se tão mal, me conta que eu vou me resolver com qualquer um que seja.

— Agradeço por essas palavras, gatinho. — o sorriso foi mais sincero dessa vez. — Você é um ótimo amigo.

— Você também é ótima. — ele acariciou a bochecha molhada da garota, enxugando uma lágrima teimosa. — Agora que está mais calma, se quiser me contar o que te deixou desse jeito. Sou todo ouvidos. — e novamente Cat Noir piscou para ela.

Marinette estava cansada de carregar aquele sentimento sozinha, com exceção de Alya e sua kwami. Por fim, resignada e sem esperanças, resolveu desabafar com o herói.

— Eu gosto de um garoto, acho que já te contei por alto. — Cat Noir assentiu, aguardando sem nem pensar em interromper. — O problema é que não consigo me declarar e nem falar direito com ele. Quer dizer, sou um completo desastre! — ela escondeu o rosto entre as mãos.

— Isso não é tão ruim, você pode tentar ir com calma. — aconselhou, baixando as mãos da garota para olhar em seus olhos. 

Cat Noir não fazia ideia de quem poderia ser o tal felizardo ou burro — porque era uma honra ser o alvo do afeto de Marinette e um crime inafiançável não perceber tais sentimentos. Mais uma vez ele desejou quebrar a cara do fulano, apenas por ser a causa do choro incontido dela. Mesmo inconscientemente.

Aliás, ela era reservada ao máximo nesse quesito e ele respeitava suas reservas. Cat Noir mesmo não podia revelar os detalhes de sua vida pessoal, ainda que desejasse contar todos os seus segredos para Marinette quase sempre. Esse era o ônus da amizade com ela, não poder, em hipótese alguma, ser totalmente sincero. Por exemplo, evitava falar de sua paixão por Ladybug, costumava pensar somente em Marinette quando estavam juntos. Na real, aquela amizade singela entre eles já oferecia enormes riscos para Marinette. Portanto, quanto menos ela soubesse sobre o herói, melhor. Contudo, ele tinha conhecimento dos sentimentos da amiga por um garoto misterioso. Só não imaginava que fosse algo tão intenso.

Por um instante, um vislumbre do quarto dela passou por sua mente. Recortes de revistas espalhadas por todos os lados com o rosto de Adrien, o rosto dele. No começo era estranho, porém, Marinette já havia dito que admirava seu trabalho como modelo. E que almejava se tornar uma designer um dia, assim como Gabriel Agreste, seu pai. O que justificava os pôsteres e tudo o mais que enfeitava o quarto da garota. Esse assunto estava superado, como Adrien ele também era amigo dela. Talvez com menos intimidade, mas era. Então achou mais sensato deixar isso para lá, focou em não alimentar pensamentos narcisistas sobre a amiga estar secretamente interessada nele.

Com o tempo acabou acostumando-se às suas fotografias no ambiente, quando, por acaso, ficavam conversando por ali.

Não podia ser Adrien, claro que não. 

Estava sendo pretensioso e arrogante ao cogitar essa possibilidade. Mas, quando sem querer ela entregou além do que deveria, tudo ficou prestes a mudar entre eles:

— É difícil agir normalmente com Adrien, ele é tão... Perfeito e inalcançável, é impossível pra mim. — suas bochechas coraram ao se dar conta do que revelou. — Quer dizer, Adrien? Não, eu não disse nada. — ela mordeu o lábio inferior, querendo ser um avestruz para enfiar a cara no chão.

A cabeça do herói girou.

— Espera, o que? — Marinette fez menção de escapulir para dentro do quarto. Mas Cat Noir a impediu, segurando sua mão. — Adrien? Você gosta desse garoto? O garoto das fotos espalhadas pelo seu quarto? — ele se deteve, ainda confuso. Se dando conta que parecia conhecê-lo muito bem. — Eu... hã, nós já o salvamos uma vez. Bom, isso não vem ao caso. — tentou ser prático e objetivo, procurando acalmar seus batimentos cardíacos. Obrigando-se a agir com mais cautela, sem parecer um lunático. — Pode ser sincera comigo, somos amigos, não somos? Eu não vou contar nada a ninguém. — e com um sorriso de canto, conseguiu desarmar todas as defesas da garota.

Era difícil negar qualquer coisa a ele, quando sorria dessa forma. 

— Eu o amo desde que o conheci, mas é um sentimento platônico e ridículo. Que eu guardo só para mim, afinal, como já mencionei, mal consigo trocar duas palavras com Adrien sem parecer uma doida. — ela mexeu os pés, sentindo alívio por ter confessado seus sentimentos para outra pessoa além da melhor amiga.

Era como tirar um fardo dos ombros.

Sabia que Cat Noir não a julgaria, ou faria piada às custas de sua confissão. Era apenas vergonhoso abrir seu coração para outra pessoa que não fosse Tikki ou Alya.

Enquanto Adrien perdia toda a capacidade de fala, piscou algumas vezes buscando se orientar. Como Cat Noir, nunca forçou uma explicação sobre as fotografias, porque já tinha recebido uma resposta como Adrien. Somente uma vez ele brincou com ela, alegando que o garoto era muito bonito. Que Marinette tinha bom gosto. Mas foi só. Uma única vez. Agora, lá estava ela, confessando que o amava desde que se conheceram. Isso fazia muito tempo, então todos aqueles gaguejos significavam um sentimento escondido? 

— Se até você reage desse jeito a uma confissão dos meus sentimentos, imagine o próprio Adrien. — ela insistiu em se afastar.

Entretanto, Cat Noir, novamente, agiu com absurdo descontrole. Mas, dessa vez, seu ímpeto não foi apenas de abraçá-la... ele simplesmente a tomou nos braços e a beijou.

Estranho amorOnde histórias criam vida. Descubra agora