Chapter IV - Running On Faith

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— Onde você mora? — ele perguntou, sem em nenhum momento dirigir o olho em minha direção.

— Oi? — relutei.

Ele soltou um riso abafado, passando a mão em seu cabelo — que não pude deixar de notar — úmido, fazendo com que alguns fios teimosos caíssem sobre seu rosto.

— Para uma garota esperta como você, sua perspicácia está lá em baixo — ele disse, parecendo orgulhoso de sua resposta — Esse sou eu te dando uma carona, Isabella — ele explicou, como se eu não fosse capaz de entender.

Suspirei alternando o foco de meu pensamento em qual endereço eu diria e a quantidade de segundos que tinha para responde-lo — tempo esse que estava se esgotando. Ele deve ter percebido o frio que passava com aquela roupa, então de virou a cabeça para o banco de trás, estendendo os braços e me entregando um moletom.

— Então... — ele começou ao virar em uma rua desconhecida.

— Pode me deixar em uma esquina qualquer.

Finalmente, ele levou os olhos para mim e me encarou por longos segundos como se eu fosse um mistério a ser desvendado, entreabrindo os lábios para discursar algo. Mas ele chacoalhou a cabeça negativamente ao invés de dizer qualquer coisa que fosse. Aquele movimento inusitado me deixou um tanto quanto desconfortável, mas ignorei essa pequena sensação.

— Não te tirei do meio da rua para lhe largar lá de novo — ele reclamou e meu peito apertou ao ouví-lo falando de mim como se fosse um animal — Onde é sua casa?

— Não vou voltar pra lá — comprimi as lágrimas quando Biel me veio à cabeça. Como será que eles estavam?

— Hm — proferiu apenas após longos segundos de silêncio encarando a rua — Vamos lá, por que estava na rua essas horas?

— Olha... agradeço pelo o quê está fazendo, Law, de verdade... — falei franca — Mas não quero falar sobre isso... Agora, por favor me deixe em uma esquina qualquer — adicionei honestamente, eu realmente não queria falar sobre aquilo, pelo menos não com ele.

Ele comprimiu os olhos, parecendo realmente interessado no motivo que me levara à aquela situação. E se eu já não conhecesse ele bem, poderia até ser enganada pensando que ele estivesse preocupado.

— Onde está sua irmã?

Bufei, concluindo que não respondê-lo apenas resultaria em mais teimosia e petulância da sua parte, e tudo que eu precisava agora era do mínimo silêncio.

— O bêbado do meu pai veio pra cima de mim e bateu em mim e no meu irmão, ok? — reclamei, estranhamente sentindo um alívio nas costas.

Parece que realmente admitir que aquilo aconteceu ajudou a lidar melhor com a situação, mas o real problema não era ter ocorrido uma ou até duas vezes — aquilo acontecia todo dia.

Sentindo seu olhar tenso sobre mim parecendo ter como objetivo me deixar o mais inquieta possível, virei meu rosto em direção à janela, encarando irrelevante e vagamente as luzes rápidas que passavam diante de meus olhos.

A intensidade e tempo que ele me encarava abalaram qualquer que fosse a sanidade que me restava, e pensar nisso me deixava ainda mais preocupada. Meu Deus, eu só queria um pouco de paz.

— Você deve pensar muito pouco de mim para acreditar que vou lhe largar na rua, Gracci — ele murmurou baixo após demasiados minutos no silêncio.

— Suponho que sim — respondi honesta, no mesmo tom da pergunta me feita.

Afinal era verdade — eu realmente pensava muito pouco dele.

Meu ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora